Castro Maya: documentário e encontro celebram importância do colecionador para a história e a imagem do Rio
23/09/2016 16:49
Bárbara Tavares / Ilustração de Diogo Maduell sobre gravuras de Debret

Responsável pela memória da cidade do Rio de Janeiro, Castro Maya torna-se referência pelo seu amor à arte

Em comemoração aos 200 anos da Missão Artística no Brasil, o documentarista Silvio Tendler e a pesquisadora Tatiana Siciliano, ambos professores do Departamento de Comunicação Social, lançaram o documentário Castro Maya: carioca da perfeição, na tarde de quarta-feira, 21, na PUC-Rio, dentro do colóquio Lugares e memórias da Missão Francesa: Solar Grandjan de Montigny e os Debrets de Castro Maya, que reuniu a diretora dos Museus Castro Maya, Vera Alencar, e o sociólogo Jacques Leenhardt, diretor da École des Hautes Études em Sciences Sociales, Paris

Após a exibição do filme de Tendler, elaborado a partir da pesquisa de pós-doutorado de Tatiana sobre o colecionador de arte Raymundo Ottoni de Castro Maya, Vera ressaltou o papel do colecionador para a compreensão do percurso do Rio de Janeiro:

– Em questões ligadas aos costumes, usos e acontecimentos, ninguém saberia como era a cidade sem essa coleção fantástica do Debret, porque todas as suas realizações foram feitas antes de a fotografia existir. Suas obras nos fazem voltar ao passado.

Mesmo fazendo parte da elite brasileira, Castro Maya tinha obsessão em adquirir utensílios e continuar a coleção iniciada pelo pai. Contudo, essa compulsão não estava ligada ao rendimento financeiro que a obra teria daqui a alguns anos, mas sim pelo sentimento que despertava ao ver a obra. Vera lembrou que, em correspondência trocada com um galerista de arte, o colecionador afirmou ter seu interesse totalmente voltado à aquisição de objetos brasileiros. Apesar do mercado ainda incipiente, o empresário contava com uma ampla rede de informações para adquirir essas peças.

Aquarelas que compõem ‘Viagem Pitoresca e histórica ao Brasil’,

Jacques Leenhardt contou que o livro Viagem pitoresca e história ao Brasil, lançado em 1835, foi resultado da fascinação de Debret pelo processo de nascimento da nação brasileira. Valendo-se da apresentação de imagens do livro, o sociólogo resumiu o procedimento da produção através de três etapas da constituição do povo brasileiro, abordando a natureza, os índios – então denominados selvagens –, os portugueses, os escravos, entre outros aspectos.

Além das qualidades e dos admiradores que Castro Maya conquistou durante todos os seus 74 anos de vida, Vera aponta a sua principal vitória: trazer o acervo do pintor Debret para o Brasil. Jean Baptiste Debret, após a queda do imperador e com a morte de seu único filho, decide integrar a Missão Artística Francesa, que vem ao Brasil em 1816, e instala-se no Rio de Janeiro. A diretora dos Museus Castro Maya ressalta que suas obras formam um importante acervo para o estudo da história e cultura brasileira da primeira metade do século XIX:

– Além de sua relevância indiscutível, Debret chagava em um ponto do detalhe que às vezes não era perceptível na obra, mas podia-se compreender através da explicação no texto. Ou seja, a importância do Debret como retratista tem duas vertentes fundamentais: imagens e textos que se completam. Em todos os aspectos aparece a paixão dele pelo Rio de Janeiro.

 

Em entrevista ao PUC-Urgente, Tendler lembrou que Castro Maya fez história na cidade carioca e é considerado o “mecenas do Rio de Janeiro”.

– Ele era uma pessoa preocupada com a cidade e com a cultura e fez isso sem nunca abrir mão da qualidade de vida, apesar de ser um industrial muito rico – declarou o professor, lembrando que o grande acervo do empresário brasileiro tornou possível a criação da Fundação Castro Maya. E completa: – Ele olhava para a arte como um objeto de prazer, não como um investimento. Ele investia na arte porque gostava dela.

As palavras de Tendler vão ao encontro da afirmação da professora Tatiana na mesma entrevista:

– Castro Maya tem uma importância significativa para a cidade do Rio de Janeiro. É imprescindível ter um produto cultural em que não é preciso ser pobre ou totalmente despojado para se fazer alguma coisa para o bem comum.

O colóquio integrou a programação do evento 1816-2016/200 anos Missão Artística Francesa no Brasil, organizado pelo Consulado Geral da França no Rio, com uma série de eventos e encontros que começaram em abril de 2016 e segue até março de 2017.

Leia também: O legado da Missão Artística Francesa, que desembarcou no Brasil há dois séculos

Mais Recentes
Uma locadora em tempos de streaming
Com mais de 25 mil filmes e atendimento único, estabelecimento em Copacabana é um pedacinho da memória da cultura audiovisual do Rio de Janeiro
Valorização do cinema universitário na pandemia
Alunos da PUC-Rio participam da Mostra Outro Rio, uma exposição de curtas-metragens produzidos no Rio de Janeiro
Dez anos sem ele
Durante a vida, José Saramago criou um estilo próprio de escrita, de inovação na sintática e na pontuação