Uma vida de estudos, religião e política: um perfil do vereador Reimont
21/10/2016 17:37
Raul Pimentel*

A trajetória política, religiosa e acadêmica do vereador do PT, ex-aluno da PUC

Passada a eleição que lhe garantiu o terceiro mandato, o vereador Reimont Otoni (PT-RJ) fez um balanço dos últimos tempos, em seu gabinete na Câmara Municipal. Com ar sério e compenetrado, leveza na fala e calma nos raciocínios, reconheceu que anda cansado, e devendo a si mesmo uma folga:

 – Gosto de trabalhar. Infelizmente, sou muito desatento com aquilo que é importantíssimo: ter algum lazer. Até preciso. Se tem algo que quero fazer é reencaminhar o meu mestrado – contou, disfarçando um leve riso. Entendia a graça que era responder uma pergunta sobre hobbies fora da vida política com planos de pós-graduação e qualificação profissional.

A exaustão, provocada pela campanha, dificultou a lembrança de certos detalhes de sua trajetória. Reimont seguia firme, apesar disso. "Não é sem sofrimento que a gente dá passos", observou, contando sobre quando decidiu sair de casa, no ano de 1976, aos 15 anos, para entrar num seminário religioso. Era o início de sua formação católica, que prosseguiu até 2002, quando, aos 42 anos, deixou a vida de sacerdote para constituir família, incompatível com o celibato.

Ele classifica essa escolha de sair de casa como um passo muito acertado:

– Foi uma das experiências mais bonitas da minha vida. Ela me permitiu crescer, amadurecer, conhecer o mundo. Permitiu-me conhecer muita gente, embrenhar-me num processo de investigação, de estudo, num processo de conhecimento também da vida humana, das relações humanas.

Reimont nasceu em 1961 na pequena cidade de Conceição do Mato Dentro, no estado de Minas Gerais, de onde guarda leve sotaque. Viu lá o trabalho de frades franciscanos capuchinhos, ordem religiosa fundada por São Francisco de Assis, e ficou encantando com o jeito como tratavam os mais pobres.

Durante o seminário, viajava por diversas cidades da região Sudeste, no interior de Minas, do Espírito Santo e do Rio de Janeiro. Era também durante esse período que Reimont se iniciava na vida política. Conseguiu uma licença da Ordem dos Franciscanos para trabalhar no Banco do Estado de Minas Gerais (Bemg), onde foi militante pelo Sindicato dos Bancários. Ali, junto com suas primeiras experiências em política estudantil, diz ter começado de fato a viver política.

Em 1989, Reimont se mudou definitivamente para o Rio de Janeiro, onde via e ainda vê uma cidade partida, cheia de desigualdades e separações, para cursar Teologia na PUC-Rio. Segundo o vereador, sua experiência na universidade foi muito boa, tendo elogios especiais ao que viveu no departamento de seu curso.

– Nós estreitávamos os laços entre as pessoas para além das questões acadêmicas no Departamento de Teologia. Conexões muito humanas, de amizade. A PUC me deu uma experiência muito rica, muito pródiga na minha vida. Tenho saudade.

Durante sua experiência acadêmica, teve contato com professores comprometidos com a filosofia da Igreja Católica que, a seu ver, está inserida na articulação política de que é preciso mudar o mundo para que todos vivam bem e felizes. Isso o aproximou ainda mais da causa os mais pobres. Segundo o vereador, foi também a tentativa de viver a fé cristã que o lançou na política. O caminho, portanto, parecia ser natural.

Aproximou-se então de um projeto de partido político que começava a ganhar forças no fim dos anos 70 e acabou se tornando um partido de fato em 1980: o Partido dos Trabalhadores. Apesar de só ter sido oficialmente filiado ao PT em 2002, por impedimentos de ordem religiosa, o vereador se considera um membro de primeira ordem. Hoje, Reimont procura adotar uma postura de reconhecimento diante da dificuldade que é representar o partido nos dias de hoje, tendo em vista todos os escândalos de corrupção e as investigações de seus principais líderes na Justiça.

– Nunca afirmei que o PT não tenha suas contradições, seus erros, seus equívocos. Assumir isso, essa noção de que somos portadores de falhas como qualquer outro partido, me ajuda muito a dialogar com a sociedade. A minha estratégia para representar o partido é de reconhecer que temos uma origem, e essa origem é onde eu me apego. Precisamos sim fazer uma autocrítica. Mas acredito que algumas pessoas ainda consideram o PT, por ser um partido de massa e ter a história que tem, uma ferramenta de transformação.

Reimont define política como um processo de ajuda na transformação da sociedade. Tendo em vista que sua formação religiosa e sua fé são muito fortes em sua vida, impasses na relação dessas duas esferas sempre foram uma questão na sua trajetória. A separação entre fé e política é um debate delicado na política brasileira, que tem bancadas religiosas muito influentes em todas as esferas de poder. Ele opina:

– Alguns acabam achando que fé e política não podem dialogar. Eu sou daqueles que pensam diferente. Penso que o ser humano é uma unidade. Minha formação filosófica e teológica me exige essa compreensão e me dá a consciência clara de que o ser humano não é uma colcha de retalhos, não é uma casa cheia de cômodos. O ser humano é uma integridade, uma totalidade. Todas as dimensões da vida de alguém dialogam. A fé e a política, para mim, sempre dialogaram muito de perto. Apenas gosto de deixar claro que a fé não pode algemar a política nem a política pode algemar a fé. Por mais que elas caminhem juntas, elas têm voo próprio, caminho próprio.

Vereador fazendo discurso no plenário da Câmara

 

Logo depois da formatura na PUC, em 2001, Reimont foi ordenado sacerdote na Paróquia de São Sebastião, na Tijuca. Trabalhou lá por um tempo e decidiu sair da vida de paroquial para seguir seu desejo de casar e constituir uma família – sua filha hoje tem 12 anos. Continuou militando na área da educação como professor, e daí surgiu a ideia de enfrentar um pleito de eleição. Em 2006 se candidatou a deputado estadual, sem sucesso – apenas 10115 votos. Em 2008, no entanto, foi eleito como vereador e assim está até hoje em mandatos sucessivos.

O petista acumula frentes de trabalho tanto pelo seu lado religioso quanto pelo seu lado político. Ele participou da fundação de diversos projetos sociais e comunitários, como o Instituto de Prevenção à AIDS (Ipra) e o Grupo de Estudo e Formação de Educadores Populares (Gefep). Participa também de comissões na Câmara dos Vereadores, como a de Educação e Cultura e a de Prevenção às Drogas. Suas principais lutas são a favor de melhores condições para moradores e artistas de rua.

Em 2016, reeleito para o seu quarto mandato na cidade do Rio de Janeiro com 19.626 votos, Reimont continuará seu trabalho na Câmara de Vereadores em 2017, sendo um dos dois vereadores do Partido dos Trabalhadores no plenário junto com sua companheira de partido Luciana Novaes (PT-RJ).

Colaborou: Mariana Casagrande

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