Migração da audiência para a plataforma digital impõe ajustes à comunicação corporativa
19/10/2016 15:31
Camila Gouvea

Reputação desejada exige mensagens específicas para cada mídia social, orienta gestora da área

Foto: Mariana Salles

Agora, como “todo mundo é mídia”, as empresas têm de redobrar o zelo com a reputação. Na prática, a constatação da diretora de Mídias Digitais da Inpress, Janine Louven, em palestra na PUC-Rio, desdobra-se em novas estratégias para resguardar o prestígio corporativo nos ascendentes quintais midiáticos: plataformas digitais, sobretudo as mídias sociais e vitrines como o Youtube.

Cada um desses novos espaços, nos quais informações, opiniões e imagens propagam-se de forma intensa, veloz, deve haver um planejamento de comunicação específico, de acordo com os respectivos públicos e as respectivas características das plataformas de mídia impulsionadas pela tecnologia digital. Assim acredita a jornalista:

– Com base em análises relativas aos volumes e aos perfis de audiência, os conteúdos devem ser planejados e produzidos para acertar em cheio o público de cada uma dessas plataformas. O desafio é sempre manter uma boa reputação (corporativa) junto aos diversos públicos (clientes, governo, mercado, imprensa), cada vez mais presentes nas mídias sociais – ressaltou Janine, aos alunos da PUC-Rio reunidos na palestra sobre Gestão da Comunicação na Era das Mídias Sociais e dos Blogs.

A guinada das estratégias de comunicação corporativa para as novas plataformas de mídia – das diversas redes sociais aos blogs e canais na internet em torno dos quais orbitam milhões de seguidores – reflete a ascensão das plataformas digitais, cujos crescentes influências social e comercial derrubaram a soberania das mídias tradicionais. À exceção da TV por assinatura, as demais mídias convencionais perdem audiência, enquanto as mídias digitais conquistam cada vez mais público, confirma pesquisa feita no ano passado por Starcom Mediavest Group.

Para Janine, o levantamento, ao indicar novos padrões de consumo de informação, intensamente acessada por celulares, o levantamento expõe a necessidade de ajuste das táticas para favorecer a reputação corporativa. Envolvem, inclusive, o acompanhamento ou monitoramento do não raramente frenético fluxo de textos e imagens publicados nas mídias sociais, observa a especialista. Até porque as fronteiras entre as plataformas midiáticas – tradicionais, novas, impressas, eletrônicas – encontram-se diluídas: o que, como se diz hoje, bomba nas redes sociais logo vira notícia em veículos convencionais.

– A convergência dos meios midiáticos e a interatividade mudaram a forma como se gerencia a comunicação. Por exemplo, hoje o retorno do público é imediato, e isso possibilita a avaliação do alcance das publicações – observa Janine.

Ainda de acordo com a gestora de Mídias Digitais da Inpress, outro procedimento não menos importante para propiciar a reputação desejada é o alinhamento estratégico das mensagens aos perfis da cada mídia social:

– Somos diferentes e temos comportamentos diferentes nas múltiplas redes sociais. No Instagram sou cozinheira, boêmia, turista e fotografa de ocasião. Já no Facebook sou a avó da Gabriela e a mãe da Maria. No meu blog de receitas interpreto uma idosa, uma personagem. Falo de economia doméstica e de sustentabilidade. O mesmo acontece com as empresas – compara.

Além disso, acrescenta Janine, as empresas “agora devem ter cuidado dobrado, pois hoje todo mundo é mídia”. Os funcionários, por exemplo, devem ser instruídos para usar as redes sociais “com responsabilidade e profissionalismo, para não prejudicar a imagem da organização”. Já os canais interativos com consumidores precisam ser transformados em pontes até relacionamentos duradouros. “Reclamações na internet podem ser vistas e compartilhadas por milhares de pessoas. A repercussão é enorme, e há mais chance de manchar a marca. Esse relacionamento direto com o consumidor nas redes sociais deve ser usado com muita cautela e inteligência pelas empresas”, destaca a executiva da assessoria de comunicação.

Empresas e profissionais, reitera Janine, precisam aprender a transitar entre o online e o off-line para se adaptar produtos, serviços e competências às novas mídias. A orientação se estende aos profissionais de comunicação:

– Antigamente o jornalista tinha que se deslocar para gerar fotos e informações. As redações eram maiores e as equipes, enormes, para fazer as diferentes tarefas. Hoje em dia não é assim. Então a gente criou um instrumento de trabalho, o webrealease, que reúne conteúdos, inclusive gráficos, fotos e vídeos, para auxiliar a produção da reportagem.

Aos futuros profissionais da área reunidos no auditório 102-k, Janine alertou:

– O que se espera do novo profissional de comunicação é a capacidade de ter a mente aberta para ideias e tarefas, saber explorar as novas plataforma de mídia sem deixar de lado as tradicionais e ser um caçador de tendências.

Para a jornalista, a multiplicações de canais de informação e a possibilidade de se expressar por meio, por exemplo, de um blog – e recrutar prestígio e audiência, não raramente, superiores aos proporcionados por mídias tradicionais – não atrofia competências essenciais do jornalismo, como verificação e contextualização:

– Quem valida os boatos lançados na internet, quem vai apurar corretamente para validar o conteúdo e contar para o mundo é a imprensa. Embora a imprensa hoje esteja reduzida, ela tem um poder de apuração e é a instituição que garante que algo é verdade. O jornalista tem um valor talvez até maior. Mas o mercado precisa se reinventar. Os veículos tradicionais precisam ganhar dinheiro de outras formas além da publicidade, tradicional fonte de sustento.  Todo mundo hoje produz e compartilha informações, mas o jornalista ainda é extremamente necessário para validar, aprofundar e contextualizar os fatos.

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