Especialistas debatem futuro incerto da Colômbia após 'não' a acordo de paz contra Farc
03/11/2016 17:45
Raul Pimentel

Em palestra organizada pelo IRI, especialistas discutem o processo de paz na Colômbia,  por que acordo foi rejeitado e o que se espera para o futuro do país.

Mapa geográfico dos votos do plebiscíto. Foto: Registradoria da República da Colômbia

O futuro da Colômbia após a rejeição do acordo de paz entre o governo e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), em plebiscito, foi o principal assunto da mesa-redonda Colômbia: O que esperar depois do referendo?, com a professora colombiana Maria Elena Rodriguez (IRI/PUC-Rio), as doutorandas Manuela Trindade Viana (IRI/PUC-Rio) e Isa Mendes (IRI/PUC-Rio), segunda-feira, 31, no auditório do IRI 2.

– O momento é de muita incerteza na Colômbia por conta da rejeição do plebiscito do dia 2 de outubro. É uma virada muito rápida em relação ao último ano de negociações do processo de paz – destacou a doutoranda Isa Mendes, referindo-se ao plebiscito convocado, em que a população votou contra o acordo.

A professora Maria Elena apontou também pontos para se entender a vitória do “não” em seu país.

– Havia uma ideia de que a vitória do “sim” era garantida, de que todos queremos a paz. Os que votaram “não” só não concordam com a forma como essa paz está sendo feita. Esse processo de negação pelo processo de paz se deu mais pelos detalhes.

Os detalhes aos quais a professora se referem passam também pela urbanização e pela distribuição geográfica da Colômbia. A parte urbana da Colômbia, compreendida como o centro e o nordeste do país, votou em geral pelo “não”. A parte litorânea, periférica do país, onde ocorrem os conflitos armados, votou pelo “sim”.

– É possível ver uma incapacidade da zona urbana de entender a zona rural. O urbano não entende a guerra, que está mais concentrada no campo, nas áreas periféricas do país. Quem sente a guerra votou pelo sim – comentou a professora Maria Elena, que acredita em uma reformulação do acordo de paz no futuro.

Criadas em 1964 com um cunho rural e socialista, as Farc viveram um pico de guerrilheiros alistados por volta dos anos 2000 e já chegaram a ter cerca de 15 mil a 20 mil homens. O conflito entre a guerrilha e o governo da Colômbia já tem mais de 50 anos, e é considerado o assunto mais importante no país.

O processo da busca pela paz começou em 2012, na Noruega, com conversas entre os envolvidos na negociação. Depois disso, o acordo passou a ser discutido em Havana. Em 2015, um acordo de vítimas foi aceito pelas duas partes. Ele consistia na criação de tribunais especiais para o julgamento de ex-combatentes, bem como na busca por restos mortais em áreas de conflito. De acordo com Isa, nesse momento já se considerava o processo de paz irreversível.

Isa Mendes mapeou seis principais pontos que o acordo estabelecia: a questão agrária e do desenvolvimento rural; a questão da participação política; o fim do conflito armado; a questão das drogas ilícitas; as vítimas e a Justiça; e um mecanismo prático de implementação do referendo.

Na questão agrária, era muito presente um discurso de defesa de distribuição de terras e da restituição dessas para os deslocados pelo conflito. Além do fim do conflito armado, também se falava no compromisso de afastamento das Farc com o mercado negro de drogas, forte na região. Segundo dados do Escritório Sobre Drogas e Crime das Nações Unidas, a produção de cocaína no país representava 3% do PIB em 2012.

Segundo Isa, o que mais gerou repercussão na população e especialmente aos que votaram “não” foi a questão política, que previa uma migração das Farc para o status de movimento político, de partido que teria mais voz no sistema partidário colombiano.

A doutoranda Manuela Viana, que lançou no encontro o livro A dimensão internacional do conflito armado colombiano (Hucitec Editora), deu ênfase ao discurso do pós-conflito, já existente antes do acordo em 2012. Segundo ela, em 2009-2010 ele já era comentado, graças aos esforços de reformulação do Plano Colômbia, programa norte-americano iniciado em 2000 que visava o combate às drogas em território colombiano. O forte apoio de órgãos internacionais ao acordo de paz, como a Organização das Nações Unidas (ONU), a União de Nações Sul-Americanas (Unasul), a Organização dos Estados da América (OEA) e a Cruz Vermelha, também foi comentado pela palestrante.

Mais Recentes
Interfaces da geopolítica
Nove pesquisadores discutem geografia política e gestão do território na IV edição do CONGEO
Experiências de impacto social
Empreendedores e pesquisadores se reúnem para debater políticas de administração pública em Portugal e no Brasil
Jovens empreendedores
Estudantes contam como criaram um negócio na época da Universidade por meio das redes sociais sem grandes custos