Ex-aluna hidrata esperanças no semiárido brasileiro
19/12/2016 09:30
Por Juliana Valente / Fotos Bernardo Dantas

Coordenado pela ex-estudante de Engenharia Ambiental da PUC-Rio Raquel Flinker, programa Água para Vidas facilita o acesso a água potável e garante subsistência de famílias em diversos municípios de Pernambuco

O projeto Água para Vidas tem como proposta a participação de forma ativa dos moradores na construção e manutenção dos reservatórios

Cimento, ferro, areia, água e vedacit são, hoje, a esperança de famílias em diversos municípios da região do semiárido Pernambucano. A ex-aluna de Engenharia Ambiental, Raquel Flinker é a coordenadora do projeto Água para Vidas, em parceria com a ONG Habitat para Humanidade, que consiste em possibilitar, a essas comunidades rurais, o acesso à água potável. Isto se torna possível graças à instalação de calhas ao redor dos telhados com uma tubulação que leva a água captada da chuva para cisternas, com capacidade de 16 mil litros.

Há cinco anos não chove como deveria no sertão e, por isso, a seca tem se alastrado. A região sofre, tradicionalmente, com a má concentração das chuvas que ocorrem com grande intensidade em um curto espaço de tempo. Como a principal forma de subsistência é a agricultura, a falta de água torna a situação econômica e social do sertanejo cada vez mais vulnerável.

Os reservatórios dos açudes perdem, em média, um metro do volume por ano por causa de evaporação. E, durante o período de estiagem, a única forma de obtenção de água é por meio de caminhões pipa de 15 mil litros de água, oriundos do Exército brasileiro em convênio com o governo federal. Responsável por recrutar os alunos voluntários que vão participar das próximas construções das cisternas, o professor José Araruna, do Departamento de Engenharia Civil e Ambiental, ressalta a necessidade do projeto para os sertanejos.

– Há uma tendência de que ano que vem a verba desse programa diminua, o que fará com que o Água para Vida se torne cada vez mais essencial. Esse projeto é importante, pois permite que essas famílias tenham condições de subsistência no próprio local e evita o problema da imigração do sertão para os polos urbanos. Lá, eles andam debaixo de um sol forte, em média quatro quilômetros, com uma lata de margarina, para trazer dez litros de água. A partir do momento em que se tem a possibilidade de conseguir isso em casa, é uma felicidade total e ameniza o sofrimento da população que já é bem castigada.

A construção de 300 cisternas é a nova meta do projeto Água para Vidas. Para Araruna, o maior ganho que se tem ao participar do projeto é a aculturação.

– Essa experiência permite que você veja e viva uma outra realidade e necessidade do país. Acho que a maior alegria desse projeto é poder empregar os conhecimentos que se obteve na faculdade e levar felicidade para uma comunidade tão sofrida e carente de recursos.

Com capacidade de 16 mil litros, a cisterna armazena a água da chuva

Apaixonada por questões hídricas, Raquel possui no currículo vasta participação em ações ligadas ao assunto. Formada em 2009, ela conta que o projeto surgiu de uma vontade antiga, com o namorado, de participar de um trabalho social de média duração.

– O meu interesse em água é antigo. Tenho mestrado em recursos hídricos e já participei, com a organização Engenheiros Sem Fronteiras, nos Estados Unidos , e ações internacionais com o foco em água. Lá, fiz parte de um projeto com a ONG Habitat para a Humanidade durante a reconstrução de New Orleans pós-Katrina. E o meu namorado instalou filtros de água no Haiti ano passado. Por isso decidimos fazer algo juntos. Entramos em contato com a Habitat para a Humanidade no Brasil e eles falaram do projeto das cisternas. Na hora, soubemos que queríamos fazer parte dele.

O projeto da engenheira foi bancado, via crowdfunding, por mais de 100 colaboradores. A arrecadação foi usada para ajudar a ONG Habitat para Humanidade na construção de cinco cisternas. O requisito para os beneficiados era viver com uma renda mensal de até meio salário mínimo, com preferência para famílias com crianças e idosos. Segundo Raquel, uma das propostas é fazer com que os moradores participem de forma ativa na construção.

– Nós fornecíamos o alimento e a família era a responsável por cozinhar o nosso almoço. Eles também cavavam o buraco da cisterna antes de chegarmos e, durante a construção, pelos menos um integrante nos ajudava. A ONG capacita as famílias para fazer a manutenção adequada das cisternas.

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