Infectologista descarta epidemia urbana
17/03/2017 18:50
Diana Fidalgo

O professor da Escola Médica Rômulo Macambira recomenda, porém, combate continuado ao mosquito e vacinação.

O Brasil vive o pior surto de febre amarela desde o início das medições oficiais, em 1980, pelo Ministério da Saúde, e a doença mantém-se como grande preocupação de autoridades brasileiras do setor neste início do ano. Colômbia, Bolívia e Peru também registaram casos do gênero, o que levou a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), braço da Organização Mundial da Saúde (OMS), a divulgar um alerta epidemiológico sobre a doença no continente. Para o infectologista Rômulo Macambira, professor titular e coordenador do curso de Infectologia da Escola Médica de Pós-Graduação da PUC-Rio, o combate está no caminho certo ao se sustentar no tripé formado por controle do "vetor de transmissão" (mosquito, proteção contra as picadas e vacinação das populações-alvo (12,7 milhões de doses extras foram encaminhadas para os estados de Minas Gerais, Espírito Santo, São Paulo, Bahia, Tocantins e Rio Grande do Norte, e agora também Rio de Janeiro). Sem subestimar a gravidade  do surto, o especialista considera remota a chance de epidemia urbana. Em entrevista ao Jornal da PUC, Macambira avalia os riscos e as perspectivas associados à assombração da vez na Saúde: 

Jornal da PUC: Quais os principais riscos da doença?

Macambira: A febre amarela é uma virose hemorrágica cuja gravidade varia de uma febre parcialmente limitante até hepatite e febre hemorrágica. A infecção, geralmente num estado mais avançado, pode ocasionar sangramento pelo aparelho digestivo e insuficiência renal ou hepática. As infecções de febre amarela graves podem ser fatais.

Jornal da PUC: O combate ao surto tem praticamente se concentrado na vacinação. Esta medida é suficiente para diminuir os casos de febre amarela ou há outras inciativas igualmente essenciais?

Macambira: Os pilares do controle da febre amarela repousam no controle do vetor (mosquito), na proteção contra as picadas e na vacinação das populações-alvo.

Jornal da PUC: Qual é a recomendação médica para uma pessoa com suspeita de febre amarela?

Macambira: O paciente sob suspeita deve ser examinado por infectologista, que solicitará os exames complementares necessários. Do ponto de vista semiológico, um sinal importante de febre amarela é o sinal de Faget, que consiste na dissociação entre a febre alta e a frequência cardíaca. O paciente tem febre alta com bradicardia.

Jornal da PUC: A doença atinge macacos e mosquitos em áreas rurais. Mas em Belo Horizonte investigam-se os casos de febre amarela de moradores, o que não se registra de 1942. Qual é o risco de a doença se espalhar nas áreas urbanas?

Macambira: O risco de epidemia urbana é muito pequeno. O risco é maior para pessoas que têm o sistema imunológico comprometido, seja pela idade avançada, seja por uma imunodeficiência grave, como a decorrente do vírus HIV (Aids). Pessoas que nunca entraram em contato com a febre amarela ou nunca se vacinaram também correm o risco de contágio ao viajarem para locais em que a doença é ativa, mesmo que não haja casos recentes reportados nestas regiões.

Jornal da PUC: Dengue, zika e chikungunya provocaram 794 mortes em 2016, segundo o Ministério da Saúde. O Brasil somou, no ano passado, quase 2 milhões de casos de doenças transmitidas pelo Aedes. Considerando-se que a febre amarela também se espalha com o Aedes como vetor urbano, há risco de o cenário atual se agravar?

Macambira: Eu diria que não. A incidência de morte por febre amarela varia de 5% a 50%, e grande parte da população está protegida. 

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