Dez entre dez analistas econômicos consideram o reequilíbrio das contas públicas – ao qual se articulam reformas estruturais, como a previdenciária e a trabalhista – decisivo à retomada do crescimento. Embora reconheça a urgência do saneamento nas finanças do governo, sem o qual artérias do mercado de trabalho seguiriam obstruídas, sobretudo para os mais pobres, o economista Emmanuel Skoufias, líder do Grupo de Redução da Pobreza do Banco Mundial (Bid), pondera que a saída da crise histórica, refletida no recorde de quase 13 milhões de desempregados, exige também uma expansão de programas como o Bolsa Família. Ao conduzir a aula magna do Departamento de Economia, terça passada, na PUC-Rio, o especialista reiterou, aos estudantes e professores reunidos no auditório do RDC, por que a "passagem de um programa redistributivo eficaz para uma verdadeira rede de proteção flexível" revela-se uma espécie de anestésico ou mesmo de vacina contra os impactos da recessão e dos remédios, digamos, amargos para extirpá-la do horizonte nacional:
– É preciso recuperar a saúde do mercado de trabalho, voltar a dar oportunidades aos mais atingidos pela crise. A profundidade e duração da atual crise econômica no Brasil cria uma oportunidade para ampliar o papel do Bolsa Família. Assim, poderia-se prevenir um aumento da pobreza enquanto são feitos os ajustes para a recuperação econômica, como o reequilíbrio das finanças públicas e as reformas estruturais, para estimular a geração de empregos pela iniciativa privada – argumenta Skoufias – Sem as reformas estruturais, o saneamento das contas públicas e uma melhor eficiência dos serviços públicos, em especial à pópulação carente, a pobreza pode seguir em alta – alerta.
Segundo recente estudo do Banco Mundial, coordenado por Skoufias, a recessão produz, desde 2015, um salto na quantidade de pobres no Brasil: 17,3 milhões para 19,8 milhões. Até o fim do ano, corresponderá a 10% da população, estima a pesquisa. Os 2,5 milhões de "novos pobres", nos termos do Banco Mundial, exigiriam, para o economista, um aumento dos recursos do Bolsa Família.
Skoufias sugere não um reajuste do valor de repasses do programa, mas um aumento do valor nominal compatível com a inflação. A proposta indica acréscimo de 6,9% (R$ 1,82 bilhão) no orçamento, de maneira a contemplar as as novas famílias pobres resultantes da crise, cujas rendas per capitas são inferiores a R$ 154. "Assim, pode-se prevenir o avanço para a pobreza extrema, num cenário com 2,5 milhões de novos pobres", reforça.
A maior parte dos “novos pobres”, observa o economista, tem raízes urbanas. O aumento da pobreza na zona rural será menor porque as taxas de vulnerabilidade já se mostram elevadas no campo. Os novos desempregados concentram-se no Sudeste, e a metade deles provém do setor de serviços. Skoufias ressalta também que o desemprego, nesta fase da crise, afeta "as mais diversas classes sociais".
Ainda de acordo com as projeções do especialista, o aumento da pobreza se espalhará por todas as regiões do Brasil de forma lenta em 2017. Ele acredita, contudo, que, feitos deveres de casa como o reequilíbrio das finanças públicas, o Brasil pode se aproximar mais rapidamente da recuperação econômica e, consequentemente, da maior geração de oportunidades profissionais – principais antídotos, segundo Skoufias, contra a pobreza e a desigualdade agravadas pela crise sem precedentes no país.