Sabedoria aos 90 cheia de juventude
11/04/2017 14:32
Thaís Silveira

Especialista em Direito Canônico, ex-Reitor padre Jesus Hortal completa nove décadas de vida.

Bem-humorado, padre Jesus Hortal compartilha experiências ao longo da carreira profissional na área da teologia e na vida acadêmica da PUC. Foto: Fernanda P. Szuster 

São mais de 30 anos de dedicação à PUC – como professor, diretor do Departamento de Teologia, Vice-Reitor Acadêmico, e, finalmente, Reitor. Além de ser uma referência religiosa, padre Jesus Hortal Sánchez, S.J. é um grande educador. Especialista em Direito Canônico, marco jurídico que regula a Igreja, e em Teologia Ecumênica, ele é um dos mais importantes canonistas do país. Com 90 anos recém-completados, padre Hortal permanece como um modelo para a PUC, para a Igreja Católica e para a cidade do Rio de Janeiro.

Espanhol de Figueiras, ele chegou ao Brasil em uma missão jesuíta no fim da década de 1950. As diversas excursões com a Companhia de Jesus fizeram-no conhecer diferentes culturas. Padre Hortal se formou em Filosofia pela Universidade Pontifícia de Comillas e em Direito pela Universidade de Salamanca, na Espanha, e em Teologia pela Faculdade de Teologia do Colégio Cristo Rei, no Rio Grande do Sul. Ele afirma que a motivação para se tornar padre e trabalhar com educação foi ajudar o outro. 

– Em qualquer parte do mundo, ser educador é dar algo de si para o outro evoluir. O fundamental é transmitir a experiência de vida com Deus.

Cidadão do mundo, padre Hortal fala sete línguas e participou da edição do Código de Direito Canônico no Brasil na década de 1980. Na gestão como Reitor da PUC, ele sempre defendeu a internacionalização da Universidade. Atualmente, são mais de 500 estrangeiros no campus, número muito maior do que quando assumiu a Reitoria. Além disso, ele considera que a interdisciplinaridade é fundamental para manter a excelência da instituição. 

– A unidade no campus é muito importante. A convivência entre as diferentes áreas do conhecimento oferece uma visão mais completa e humana aos alunos.

Segundo a professora emérita do Departamento de História Margarida de Souza Neves, um dos legados do jesuíta foi a criação de uma Universidade participativa e flexível, possível graças ao respeito à autonomia dos departamentos e órgãos representativos de professores, alunos e funcionários. Ela ressalta a humanidade densa do religioso como uma de suas grandes virtudes.

– A maior qualidade dele é uma soma: é ser plenamente humano e, ao mesmo tempo, supercompetente e reconhecido na teologia. Ele é muito querido dentro e fora da Universidade.

O Reitor da PUC, padre Josafá Carlos de Siqueira, S.J., destaca a devoção e competência do religioso.

– Padre Hortal é um professor e sacerdote que dedica a vida à Igreja e à Universidade. Ele tem a sabedoria de envelhecer com determinação e fé inquebrantável.

Outra marca do jesuíta é o olhar inter-religioso. Para professora Margarida, ele é um amigo da comunidade judaica. Segundo o coordenador do Programa de Pós-Gradução do Departamento de Teologia, padre Abimar Oliveira de Moraes, padre Hortal promoveu a manutenção da identidade da Universidade como católica, mas sempre com respeito e diálogo, de forma a pensar na formação integral da pessoa humana.

– Uma característica dele é o respeito à diversidade, a partir da percepção de que podemos nos unir e crescer com ela.

Padre Abimar conta que o jesuíta adquiriu um vasto conhecimento ao longo da vida, mas também  soube acompanhar as mudanças do tempo. Aficionado por tecnologia, o religioso usa tablets e redes sociais com frequência. O coordenador do Programa de Pós-Gradução de Teologia ressalta a importância da participação do ex-Reitor no mundo universitário pela experiência com os jovens.

 – A presença do padre Hortal na PUC beneficia os alunos por sua sabedoria, e, em troca, ele se rejuvenesce ao lado deles.

Como uma discípula aprendeu com o mestre 

Padre Hortal é um grande homem, um grande teólogo e grande professor, além de ser um grande padre. Fui aluna dele na minha Pós-Graduação na PUC-Rio na disciplina Ecumenismo. Ele ensina com alegria, dedicação e muita competência. Com ele, aprendi muito. Padre Hortal aceitou meu pedido de ser o orientador para o meu mestrado e para o meu doutorado. Eu completei as pós-graduações, mas o considero ainda como orientador, ou a mim mesma como sua discípula, porque gosto de aprender com as observações e sugestões dele. 

É interessante ver como ele é uma pessoa de diálogo. Diálogo dos cristãos, diálogo com os judeus, diálogo com pessoas de outras religiões ou sem religião, porque ele é uma pessoa de diálogo. Assim foi também como reitor, e assim continua a ser nas várias reuniões de que até hoje participa. 

Além disso, sempre mostrou ser uma pessoa muito laboriosa. E um dia eu lhe perguntei o segredo de ele conseguir fazer tanta coisa, e ele me respondeu com o seguinte conselho: “Não se recusar ao trabalho que lhe for pedido”.

Sobretudo, o padre Hortal é um padre, acolhedor das pessoas e atento ao ministério sacerdotal, sempre com alegria e dedicação!

Tudo isso e muito mais é o ensinamento de padre Hortal para a PUC-Rio, para os que participam da Igreja, para a sociedade.

Professora Doutora Maria Teresa de Freitas Cardoso

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