Os frutíferos 100 anos de Cleonice
05/04/2017 18:06
Por: Elissa Taublib/ Fotos: Fernanda P. Szuster

Obra reúne textos e relatos de ex-alunos e autoridades

Genuína Fazendeira: Os frutíferos 100 anos de Cleonice Berardinelli é uma compilação de relatos e ensaio acadêmicos de pesquisadores, escritores, ex-alunos e autoridades que homenageiam o centenário da Professora Emérita do Departamento de Letras e os serviços por ela prestados aos estudos de literatura portuguesa. Organizado por Gilda Santos, da UFRJ, e Paulo Motta, da USP, a obra foi publicada pela Editora Bazar do Tempo, e reúne depoimentos de fontes como o presidente da Academia Brasileira de Letras (ABL), Domício Proença Filho, e o Reitor da PUC, Padre Josafá Carlos de Siqueira, S.J.

Sexta ocupante da cadeira nº 8 da ABL, Cleonice é especialista em Luís de Camões e Fernando Pessoa. O diretor do Departamento de Letras, professor Alexandre Montaury, aponta para a paixão com que ela exerce o ofício. Ele nota que a pesquisadora já orientou mais de 50 conclusões de mestrado e doutorado. E observa que Dona Cléo, como muitos a chamam, deixou uma marca de rigor intelectual e, ao mesmo tempo, de sensibilidade literária.

– Cleonice dava aulas com brilho nos olhos. As diferentes gerações de docentes que tiveram a oportunidade de trabalhar com a professora também puderam aprender com ela e, sobretudo, com a sua paixão contagiante pela literatura - declara Montaury.

Decano do Centro de Teologia e Ciências Humanas (CTCH), Júlio Diniz, foi um dos co-organizadores do livro – em conjunto com Ida Alves, da UFF, e Sofia de Sousa Silva, da UFRJ. Ele comenta que as 900 páginas não são suficientes para contemplar o legado da mestra. Segundo Diniz, nenhuma obra conseguiria traduzir toda a importância da autora.

– Ela, sua voz, seus gestos, seus textos, aulas, conferências são forças estéticas produtivas, potências incapturáveis que não podem ser contidas em um livro. Dito isto, Genuína Fazendeira cumpre seu papel: é uma tentativa bem-sucedida de ativar o legado da Dona Cléo como constituinte de memória individual e da memória coletiva de uma comunidade, lusófona por constituição e multicultural por escolha.

Alexandre Montaury destaca as centenas de professores e pesquisadores orientados diretamente pela docente. Ressalta, ainda, os livros e artigos publicados por ela, e os milhares de alunos que assistiram às aulas dela. Para ele, a contribuição da acadêmica é viva e permanecerá em circulação entre estudantes, pesquisadores e críticos da área. O diretor defende que o livro Genuína Fazendeira honra o legado da especialista em Literatura Portuguesa porque mantém o pensamento dela em difusão. Ele alega que as gerações de estudantes que não tiveram a oportunidade de ter Cleonice como professora poderão, por meio da obra, conhecer algumas releituras do trabalho dela – além do afeto de intelectuais que, em algum momento, foram tocados pela sensibilidade da autora.

– A comemoração do centenário de uma pessoa que dedicou a vida ao ensino e à pesquisa já é razão suficiente para a homenagem. No caso dela, o tributo se torna ainda mais legítimo pela qualidade e pelo alcance da obra e do legado dela.

Diniz explica que o título do livro é referência ao poema-dedicatória escrito por Carlos Drummond de Andrade, em maio de 1965, para Cleonice. Afirma que o texto funcionou como provocador e inspirador da organização dos textos no livro. O Decano constata o marco de Cleonice no ensino da literatura portuguesa no Brasil – e, mais tarde, no exterior. Ele evidencia que a acadêmica foi responsável pela formação de gerações de leitores e professores que hoje atuam em universidades de diversos países.

– Seus textos abriram as portas de todo tipo de gente que se interessa pela literatura, história e cultura portuguesas. E, recentemente, com o filme O vento lá fora – dirigido por Márcio Debellian – ela passa a alcançar o público do cinema e da televisão, mostrando, ao lado de Maria Bethânia, a força interpretativa ao ler os textos de Fernando Pessoa e seus heterônimos – afirma.

Desenvolvido pelo decanato do CTCH, em parceria com o Núcleo de Memória da PUC, o site comemorativo do centenário de Dona Cléo será lançado neste semestre. Diniz informa que a página dispõe de documentos, fotos, vídeos, textos e depoimentos. Ele enfatiza que a importância da lusitanista é inquestionável em nível nacional e internacional.

– É o mínimo que podemos fazer em reconhecimento à dedicação da nossa mestra ao ensino, à pesquisa, à formação de quadros e à divulgação da literatura portuguesa em nossa universidade e pelo mundo afora.

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