Bandeira de Mello: CBF é contraditória; e Maracanã com o Fla, 'a melhor solução'
31/03/2017 17:39
Ana Clara Silva

Em palestra sobre governança, no IAG PUC-Rio, presidente rubro-negro ressalta importância da responsabilidade fiscal à captação de investidores. Na opinião dele, aumento do cacife eleitoral das federações contradiz sopros progressitas da CBF.

Um dos maestros da virada do Flamengo na gestão esportiva, refletida na liderança entre as marcas mais valiosas dos clubes do futebol brasileiro  – R$ 1,49 bilhão, seguido do Corinthians (R$ 1,42 bi) e do Palmeiras (R$ 1,02 bi), calcula levantamento anual da BDO Brazil  –, o presidente Eduardo Bandeira de Mello cumpriu o esperado na palestra sobre governança organizada pelo IAG - Escola de Negócios da PUC-Rio, em parceria com a Associação de Antigos Alunos. Aos estudantes reunidos na Universidade, ele acentuou pontos nevrálgicos à responsabilidade fiscal e aos compromissos trabalhistas, sem os quais não se constroi a confiança imprescindível para atrair consumidores e investidores. Também revelou bastidores do clube, contou histórias e, talvez contagiado pelo ambiente universitário, permitiu-se uma irreverência pouco comum. Mais que isso, permitiu-se trocar passes sobre temas geralmente evitados em encontros públicos e com a imprensa.  

Numa dessas variações do script, Bandeira reiterou que "a melhor solução para os problemas do Maracanã" é concedê-lo ao Flamengo. Com igual eloquência, aproveitou o debate sobre legislação esportiva para rebater críticas de que o clube teria com a Confederação Brasileira de Futebol uma relação contraditória, por mconta das oscilações entre as táticas adotadas no campo político: ora retranca, ora tabelinha com a CBF.

O presidente do Flamengo argumenta que a suposta contradição estaria com a mandatária do futebol brasileira. Haveria, para ele, duas CBFs na mesma organização: uma associada a medidas progressistas, a outra presa a filosofias e práticas antigas. A tendência é a gestão rubro-negra manter "uma abertura ao diálogo" com a Confederação, para aguçar a chance de que "as medidas certas sejam tomadas":

– Muita gente diz que sou contraditório porque uma hora estou com a CBF e, em seguida, estou contra. Mas não é bem assim. A CBF que é contraditória. Existem duas CBFs: a do bem e a do mal. Quando ela age como a do bem, eu apoio. Quando ela toma medidas como a última, que aumentou o poder de decisão das federações e diminuiu o poder dos clubes, eu fico contra. Tem que ser assim. O desejo é que, algum dia, sobre apenas a CBF do bem.

A "última da CBF" a que se refere Bandeira de Mello foi uma jogada empreendida, por coincidência, no mesmo dia em que os holofotes da cobertura esportiva se ocupavam da goleada do Brasil sobre o Uruguai, pelas eliminatórias da Copa da Rússia. A seleção ganhou dos uruguaios por 4 a 1, show de Neymar, e pavimenou a classificação ao Mundial, confirmada na rodada seguinte. A CBF também costurou, para boa parte dos analistas, uma vitória política igualmente expressiva. Com uma mudança estatutária, ampliou o cacife decisório das federações, que passam a ter peso três nas votações. Clubes da Séria A têm peso dois e da Série B, peso 3. Na eleição à presidência da CBF, as federações somam agora 81 votos e os clubes, 60.

Na contramão de uma das principais novidades rascunhadas no anteprojeto da nova Lei Geral do Desporto  – o maior poder decisório dos clubes, correspondente ao protagonismo como provedores dos campeonatos regionais e nacionais  –, a mudança estatutária contrariou os gestores dos principais clubes do país. Bandeira de Mello não é exceção, como reiterou na palestra aos alunos do IAG PUC-Rio. 

O presidente do Flamengo também esteve longe da retranca ao abordar uma novela cujo prolongamento assombra não só interesses locais, mas a história e a alma do futbel verde-amarelo: a exploração do Maracanã, em aberto desde que o consórsio comandado pela Odebrecht interrompeu a operação, no ano passado. Em meio ao vaivém de novos e velhos canditados, em meio à maré de negociações e especulações, Bandeira de Mello acredita que "a melhor solução é deixar o estádio na mão do Flamengo pelos próximos 35 anos". Para sustentar a posição e impor-se diante da concorrência da iniciativa privada para gerir o Maraca, o executivo remontou as anos 1980, quando a Gávea respirava o melhor time da história rubro-negra, formado por Zico, Adílio, Tita, Andrade e outros bambas:

– Nos anos 80, o Flamengo ganhou tudo. Era uma época espetacular para o clube, e nesse mesmo tempo várias empresas estavam no auge. Se há 35 anos o Maracanã tivesse sido deixado sob a tutela do Flamengo, mesmo com os momentos difíceis, não haveria problema algum. O clube se manteve. Grande parte das empresas que estavam no auge há 35 anos faliu, não existe mais. Se tivessem dado o estádio na mão de uma delas, seria impossível prever o que poderia ter acontecido. Aquele medo de que entre outro presidente e regrida tudo não faz sentido. Deixar o Maracanã sob responsabilidade de um grupo de empresas é muito pior.

Independentemente do modelo e do estilo de gestão, Bandeira de Mello ressalta a importância da governança como um vetor fundamental à construção de um círculo virtuoso que começa com um saneamento fiscal e financeiro  – necessário não só para o (re)eequilíbrio das contas, mas para construir um abiente de transparência e confiança indispensável à captação de investimentos. O executivo considera o Profut (programa de modernização administrativa e de responsabilidade fiscal do futebol brasileiro) um divisor de águas à migração de uma gestão leniente para uma gestão comprometida com a governança.

 – A aprovação do Profut representa um grande avanço para o nosso futebol. A partir dele, a boa gestão é recompensada e dirigentes irresponsáveis passam a se preocupar mais com as atitudes que tomam em nome dos clubes. No Flamengo tomamos também medidas internas para garantir que as próximas gestões não retrocedam. O bom é que o Profut força todos a se adequarem. Isso propicia um futuro melhor do esporte. É o que almejamos.

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