Reitor: Contextos distintos, dramas semelhantes
03/05/2017 18:08
Padre Reitor Josafá Carlos de Siqueira S.J.

O Reitor da PUC-Rio, padre Josafá Carlos de Siqueira, observa em seu artigo para o Jornal da PUC que os problemas enfrentados pela sociedade brasileira não podem ser ignorados nas reflexões e meditações de cada um. E acrescenta que a Universidade é um espaço para debater ideias e buscar saídas.

Acabamos de celebrar no mundo católico a Semana Santa, onde os relatos da Paixão de Cristo nos levam a pensar que os dramas em que vivemos no atual contexto da sociedade brasileira, não podem ser ignorados em nossas reflexões e meditações. Sem apelar para uma leitura anacrônica, pois os contextos históricos são distintos, nos parece que as atitudes das pessoas repetem-se nos gestos de grandeza e nas mesquinharias que brotam das posturas do ser humano, revelando nobrezas e fragilidades inerentes à condição humana.

Gestos de traição, atos e palavras violentas, omissões diante da verdade, negações medrosas e escolhas más como aparecem nos relatos são frequentes no nosso contexto social brasileiro, carregado de perplexidades, incertezas, inseguranças e pessimismos. A corrupção que mina os bastidores do poder, acobertando os desvios de conduta, e enfraquecendo a credibilidade de algumas instâncias políticas do país, nos deixam estarrecidos, sobretudo diante de carências e demandas sociais, tão urgentes e necessárias para o bem-estar e desenvolvimento de nosso país. A perda de valores do bem comum, do esquecimento de que recursos oriundos da sociedade não podem ser apropriados para os interesses pessoais, e a falsidade no exercício da ética no poder confiado pela sociedade àqueles que são os representantes do povo, são posturas pequenas, mesquinhas e injustas que deixam indignados cidadãos crentes e não crentes que procuram viver as regras e leis que regem o Estado de Direito.

Por outro lado, como no relato da Paixão, presenciamos também atitudes justas, dignas e solidárias de pessoas que procuram entregar suas vidas num trabalho honesto, viver com coerência os valores que norteiam as suas opções familiares, educacionais, profissionais e religiosas. Uma massa silenciosa de pessoas que não participa e nem está de acordo com os contravalores que contaminam a sociedade, e geram posturas perigosas para a vida em sociedade. Uma maioria de pessoas que no anonimato da existência lutam por um mundo melhor, mais cheio de paz, e contrário às corrupções nos diversos estratos da sociedade. Um horizonte formado por milhões de pessoas que, diante da crise econômica e o desemprego, procuram dar não somente o testemunho de austeridade e sacrifícios pessoais e familiares, mas também, conseguem exercer a solidariedade para com os que sofrem a humilhação de pertencer aos mais de 13 milhões de brasileiros desempregados, e sem perspectivas em curto prazo. São estes os verdadeiros valores que movem uma nação miscigenada, otimista e empreendedora, que em contexto de resiliência mostra e manifesta a indignação com o contraditório, mas ao mesmo tempo, procura caminhos alternativos para preservar valores, e manter os verdadeiros princípios, acreditando que as crises nos fortalecem para superar as dificuldades, e nos ajudam a encontrar saídas socialmente mais justas, solidárias e fraternas.

Mergulhada em meio destas atitudes de grandeza e pequenez, a Universidade constitui um espaço privilegiado para debater ideias, buscar saídas e propor soluções inteligentes e razoáveis que garantam a busca da verdade, o progresso da ciência, a defesa social dos fragilizados, a solidariedade com os que sofrem, e a bandeira da ética no exercício da cidadania.

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