Especialistas debatem causas de acidente no Porto de Santana
26/05/2017 15:06
Camila Gouvea

O debate apresentou aspectos do acidente de 2013 com base nos estudos desenvolvidos por consultores da Anglo American, empresa que operava no porto.

O local do acidente no porto. Foto: Agência de Notícias do Amapá

Em 28 de março de 2013, ocorreu uma ruptura no terminal portuário de minério de ferro no município de Santana, no Amapá. A estrutura de aproximadamente 17 mil m² do porto da mineradora Anglo Ferrous desabou sobre o Rio Amazonas, causou seis mortes e levou à paralisação das atividades de embarque. Logo após o acidente, tentou-se explicar a ruptura como efeito de sobrecargas de minério no topo do terreno que desabou, mas estudos realizados concluíram que não houve sobrecarga e que não havia pilhas de minério na crista do deslocamento. A opinião unânime entre os 11 especialistas, brasileiros e estrangeiros, que participaram do estudo é que houve uma ruptura inicial, abrupta, junto à margem, causada por perda de resistência efetiva. A ruptura inicial provocou em seguida deslizamentos que se transformaram em uma corrida de solo, chamado movimento “flowside”, devido à existência de camadas de alta sensibilidade (metaestáveis) no solo mole de Santana.

O caso do Porto de Santana foi tema dos Seminários 2017 da Pós-Graduação em Engenharia Civil, que reuniu profissionais da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa em Engenharia e o presidente da Academia Nacional de Engenharia, Francis Bogossian, participaram de seminário na PUC. Coordenado pelo professor Alberto Sayão do Departamento de Engenharia da Civil e Ambiental da PUC-Rio, o debate teve como objetivo apresentar aspectos do evento com base nos estudos desenvolvidos por consultores da Anglo American.

Professor Sandro Sandroni

– A alteração no Índice de Liquidez (IL) indicou que o terreno era metaestável, ou seja, capaz de perder a estabilidade através de pequenas perturbações e ações de agentes diversos – explicou o professor Sandro Sandroni, pesquisador do Departamento de Engenharia Civil da PUC-Rio e consultor da Anglo American, empresa que operava no porto quando ocorreu o acidente.

Ensaios de campo e de laboratório detectaram que a camada mais profunda tem características singulares. A variação do nível do rio na área do Porto é de 3,2 metros. A repetição desta variação duas vezes por dia, por milhares de anos, induziu um carregamento não drenado na massa do depósito silto-argiloso:

– A consequência desta repetição foi o enfraquecimento das ligações entre as partículas, diminuindo a parcela de coesão do solo. Em certo ponto da massa, a grande profundidade, sob o leito do rio, uma zona perdeu sua resistência e se liquefez ­– explicou Willy Lacerda, professor emérito da Coppe-UFRJ.

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