O verdejar das hortas urbanas
30/08/2017 18:23
Bell Magalhães

Nima e Escola Médica fazem parceria em nove canteiros com legumes, verduras e ervas medicinais. O projeto visa diminuir o desperdício de plantações de produção contínua

Após um ano da criação da Horta Orgânica Familiar, no telhado da Coordenação Central de Extensão (CCE), no campus da Universidade, o Núcleo Interdisciplinar de Meio Ambiente (Nima) inaugurou um outro canteiro na Escola Médica. O plantio começou em julho: as hortaliças foram distribuídas em nove canteiros: quatro de 4m², três de 5m² e dois canteiros de 3m². Além dos legumes e verduras, ervas medicinais como boldo-do-chile, pimenta e hortelã são cultivadas no terreno do Departamento de Medicina, no alto da Gávea. 

A nova etapa da iniciativa tem o objetivo de analisar e assimilar as variabilidades microclimáticas das duas regiões. Assim será possível melhorar as expectativas de colheita. As hortas são administradas por um plano de colheita, desenvolvido há 20 anos pelo grupo e adaptado para um software on-line (www.hortelar.com/login.php), que monitora e diminui o desperdício das hortas urbanas de produção contínua. O localismo, conjunto que engloba temperatura, umidade, e radiância – quantidade de sol que a plantação recebe diariamente –, é fator determinante para o tempo de plantio e colheita.

Canteiros de hortaliças do Departamento de Medicina, cujo plantio começou em fevereiro deste ano. Foto: Lucas Simões

O diretor do Nima, professor Luiz Felipe Guanaes, percebeu a necessidade da atualização dos dados para garantir a demanda sustentável da horta. O modelo, segundo o professor, é genérico e faz com que as tarefas sugeridas pelo sistema não sejam compatíveis com o estado real da horta. Por meio de estações climatológicas, o grupo de pesquisa será capaz de medir as variáveis climáticas das duas regiões, CCE e Escola Médica, analisar as sequências e estabelecer as devidas correções.

– No futuro, a ideia é fazer um software mais inteligente, que ele consiga se adaptar ao localismo. A gente quer que a pessoa que use o sistema identifique essas variantes, coloque no programa, e as alterações necessárias sejam feitas. O trabalho, que é de pesquisa, é tentar manter o modelo de produção contínua e formatar melhor a programação.

Como o projeto necessita de uma sistemática de colheita contínua, é preciso medir todas as saídas, ou seja, as colheitas, como as entradas, que são sementes, irrigação, chuva e adubo. Por isso, o geógrafo criou a disciplina chamada Manejo ecológico de solo em ambiente tropical em áreas urbanas, onde toda a prática do curso será feita nas duas hortas. Os alunos, acompanhados por monitores, serão inseridos na pesquisa durante o próprio processo de aprendizado.

Com o aperfeiçoamento da atividade, a intenção de Guanaes e da equipe do núcleo é tornar o site disponível para o público. Para isso, é preciso entender a variável de cada microclima e como ela interfere no trato cultural. Durante três anos, ciclos de plantio serão implantados para completar a base de dados com colheitas e clima controlados para fazer uma relação estatística. Apesar do intuito de pesquisar, o objetivo principal é criar um método que permita que a horta cumpra o papel de fornecer uma quantidade e uma variedade de hortaliças que seja condizente com o consumo de quem as usa. Segundo o professor Roosevelt Fideles, gerente de Projetos Ambientais do NIMA, o trabalho é capaz de mostrar que é possível desenvolver uma horta saudável e sustentável, mesmo nos menores espaços.

– Hortas desse tipo têm objetivos socioambientais, porque além de as pessoas consumirem alimentos frescos e livres de pesticidas, a sociedade acaba trabalhando em prol da manutenção da horta. Ainda queremos expandir o projeto e conscientizar mais pessoas sobre os benefícios das hortas urbanas.

Gerente de Projetos Ambientais do Nima, professor Roosevelt Fideles na primeira horta, no telhado do CCE. Foto: Lucas Simões


Além da necessidade de abastecimento, a criação de hortas urbanas contribui para a revitalização de espaços na cidade. Com o processo de urbanização e impermeabilização, as cidades se tornam bolsões de calor nas estações quentes do ano e contribuem com a secagem de rios, uma vez que o asfalto permite o acúmulo de sedimentos pelo depósito de terra, areia e argila nas margens de rios. De acordo com Guanaes, a agricultura deve se tornar uma política urbana.

– A horta orgânica é uma forma de devolvermos para o meio ambiente tudo o que tiramos dele. Pode ser a criação de hortas, jardins, pomares. O verdejar da cidade pressupõe o aumento da própria sustentabilidade, na medida em que toda a matéria orgânica que seria descartada em um aterro sanitário passa a ser tratada totalmente diferente – conclui.

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