Atenção plena para perceber o momento
30/08/2017 18:17
Elissa Taublib

Mindfulness já é praticada em escolas e grandes empresas. A técnica de treinamento mental proporciona uma maior liberdade interior e melhora a empatia nas interações

Cada vez mais presente em estudos científicos, mindfulness (em português, atenção plena) se refere a uma maior consciência do momento presente. Com origem na palavra sati, da língua indiana antiga Pali, a técnica de treinamento mental ganhou popularidade no Ocidente a partir de 1979, quando o professor da Universidade de Massachussetts Jon Kabat-Zinn implementou o conceito em tratamentos hospitalares. Desde então, programas que utilizam ferramentas do mindfulness, como a meditação, são aplicados em times da National Basketball Association (NBA), na empresa Google, sistemas de saúde, escolas e prisões.

Em março deste ano, a Portaria do Ministério da Saúde incluiu terapias alternativas, como meditação e yoga, na Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (Pnpic). Co-coordenadora do Núcleo de Meditação do Laboratório Interdisciplinar de Pesquisa e Intervenção Social (Lipis – PUC-Rio), Viviane Giroto Guedes acredita que a aprovação dessa lei evidencia um reconhecimento atual do mindfulness pautado em pesquisa. Viviane, que é professora do Departamento de Psicologia, aponta para os estudos do Núcleo do Lipis em relação aos benefícios da meditação para a saúde e o bem-estar. 


– A aplicação não tem, praticamente, contraindicação. Temos várias pesquisas em escolas, e vemos como muda toda a dinâmica. Porque, com a meditação, vem a empatia, e, com a empatia, temos compaixão, e tudo melhora – diz.

A meditação é um dos métodos essenciais para exercitar a mente e contribui para diminuir o estresse e manter o foco nas atividades diárias Foto: Peoplecreations/freepik.com


Instrutor de meditação certificado do curso Cultivating Emotional Balance (CEB), Duda Nascimento conta que o mindfulness é uma terminologia que foi empregada para substituir a meditação associada a praticas religiosas. Segundo ele, a apropriação do tema por diferentes autores em diversos contextos dificulta uma definição exata do conceito. Nascimento afirma, ainda, que atenção plena é apenas uma das interpretações possíveis da palavra, e comenta que essa tradução é usada no âmbito de estilo de vida. Ele explica que o mindfulness é uma capacidade mental presente em todas pessoas.

– É algo que se treina para se relacionar melhor, se estressar menos, ter mais empatia e foco no trabalho. Se fizer uma analogia com o corpo: quando ele não é treinado, é mais difícil de ser aproveitado no esporte. A mente, da mesma forma, tem características que devem ser exercitadas, para, assim, podermos trabalhar aspectos dela, como a atenção.

O professor de meditação destaca as implicações do funcionamento da mente e nota que a falta de atenção e a ansiedade podem gerar hormônios prejudiciais ao organismo. Nascimento alega que, por meio do mindfulness, é possível ter uma maior liberdade interior e flexibilidade mental para lidar com os fatos externos que fogem do controle individual.

– Vemos pessoas que têm todo o dinheiro que precisam, saúde, família, amigos, conseguiram tudo o que queriam do mundo externo, mas não estão felizes. O que elas precisam fazer? Olhar para dentro. A meditação traz a possibilidade de olhar para dentro de forma organizada.

De acordo com professora Regina Montedonio, do Departamento de Letras, a mídia propaga uma imagem do mindfulness como relacionado sempre à meditação ou focado apenas no bem-estar pessoal. Para ela, que conduz há cerca de dez anos uma pesquisa sobre o assunto na área linguística, o conceito é ainda mais abrangente e parte, sobretudo, do autoconhecimento.

– Antes de tudo, cada um conhecendo melhor a si mesmo e seus limites e se percebendo melhor nas interações. Na escuta da língua falada, por exemplo, a nossa atitude é muito mais uma de preparar o que vamos dizer do que estar ali atento ao outro, aberto, sem estar com os pensamentos prontos.

A pesquisadora alega que o mindfulness é, hoje, considerado por muitos uma ciência, aplicável em qualquer área do conhecimento humano. Ela defende que, apesar de ser essencial, a meditação é apenas um dos instrumentos do mindfulness, e aponta para a leitura atenta como outra ferramenta importante. Regina explica que esse método se relaciona a uma coautoria com o texto, diferente da leitura com a intenção de só obter informação e conhecimento.

– No workshop que ministrei sobre mindfulness e a arte da leitura, discuti como lemos o mundo, o outro e o texto – literário ou não – a partir dessa leitura diferenciada. No dia a dia, é tudo que você lê começando com o Whatsapp, com o e-mail. Excluir um pouco a célebre multitarefa: quando estiver lendo o Whatsapp, leia o Whatsapp. Não à toa que há tanta má interpretação. Então, começa de uma forma simples: parar e manter o foco de forma a se observar na leitura.

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