Papel dos negros na mídia é foco de encontro de comunicação na PUC
20/09/2017 17:45
Ana Clara Silva

O racismo foi tema da primeira mesa do Encontro Mídia Livre: Comunicação, Direitos Humanos e Tecnologia, organizado por estudantes. A atriz Taís Araújo, o youtuber Murilo Araujó, a cineasta Yasmin Thayná e o publicitário Pedro Cruz debateram com alunos questões sociais e a maneira como são tratas na mídia.

O racismo presente no dia a dia de negros de todo o país foi tema da primeira mesa do Encontro Mídia Livre: Comunicação, Direitos Humanos e Tecnologia, organizado pela rede de universitários de faculdades cariocas Somos Todos Mídia, na PUC-Rio, de 12 a 14 de setembro. Para discutir a comunicação livre e independente, além de questões sociais e a maneira como são tratas pelos meios de comunicação, foram convidados a atriz Taís Araújo, o youtuber Murilo Araujó, a cineasta Yasmin Thayná, o publicitário Pedro Cruz e o aluno de jornalismo da PUC-Rio Leonne Gabriel, que mediou o encontro.

Os integrantes da mesa, todos negros, contaram à plateia que lotou a sala 102K e outras duas do Edifício Kennedy que o racismo, que segundo eles está presente no dia-a-dia dos negros de todo o país, e se reflete nas condições sociais e na falta de representação na mídia. A atriz Taís Araújo destacou que se descobriu negra apenas aos 25 anos, quando encontrou “pares que lhe deram forças para lutar”. Criada em uma família de classe média-alta, costumava ser a única negra nos ambientes que frequentava, e afirmou se sentir só, ressaltando a importância de coletivos como o Nuvem Negra, da PUC-Rio. Sentindo-se privilegiada em relação à maior parte da população negra do Brasil, Taís disse ser importante estar na televisão e na capa de revistas. Uma importância simbólica, incentivando outras jovens negras a sonhar:

– Eu não encontrava ninguém que me olhasse nos olhos e me desse força. Eu sou apenas uma das vozes negras deste país, que teve uma vida muito diferente da maioria dos negros do Brasil, principalmente as mulheres.

O publicitário Pedro Cruz disse acreditar que o debate sobre a representatividade do negro na comunicação precisa ser aprofundado. Para o profissional, a área precisa ter consciência dos impactos do que é exposto, que constitui o imaginário do público:

– Aquilo que vai para a rua é o que faz o imaginário. No ambiente da comunicação, temos que ampliar a consciência sobre o assunto, e esse debate não é de hoje. Precisamos legitimar esse discurso através da criação. Isso representaria um avanço.

Taís Araújo e Pedro Cruz

Para Taís Araújo, durante os 14 anos do governo PT o Brasil teve muitos avanços sociais, principalmente os negros e as pessoas de baixa renda. Analisando o público da palestra ressaltou que vê muito mais negros do que em sua época de universitária, segundo ela fruto de programas sociais, como as cotas.

– Não tem volta, não pode ter volta, e a gente tem que continuar demandando nessa sociedade. A gente quer educação, se ver representado, cada um entendendo seu lugar de privilégio. Não é fácil abrir mão de privilégio, mas é preciso saber o que a gente pode fazer para espalhar esse privilégio, esse é um trabalho, minha vida hoje em dia tem sido pautada por isso. Até onde eu posso ir?! Acho que a gente tem que pensar também aqui como que a gente pode potencializar o outro, sem tentar fazer grandes coisas a gente está vendo o circo fechando, é muito importante que a gente abra a rodinha.

Estudante de cinema da PUC-Rio, Yasmin Thayná, diretora e roteirista do curta-metragem Kbela (2015), “que fala da mulher negra a partir do cabelo, sem falar de cabelo”, como ela mesma diz, lembrou artistas brasileiros que contribuíram para dar visibilidade ao negro no audiovisual, como os atores Zezé Mota e Antônio Pitanga. Ex-aluna da Escola Livre de Cinema de Nova Iguaçu, Yasmin – que ganhou o Africa Movie Academy Award for Best Diaspora Short Film – disse ter desde cedo a noção de que o cinema impacta diretamente na sociedade, e lembrou a importância de ter também negros em cargos mais altos e também de forma mais igual:

– Cinema é coisa séria, é o que estigmatiza Nova Iguaçu, por exemplo. Sempre soube que, se fosse para operar essa ferramenta, não era para brincar. É um avanço ter muitos pretos e pretas na universidade, Taís, enfim, várias pessoas que já estão nesse lugar. Mas também fica o pensamento de quem é que é o sócio da marca que chama os negros para propaganda? Quem é que está assinando as campanhas? É esse olhar que a gente precisa ter.

Murilo Araújo, youtuber dono do canal Muro Pequeno, acredita que é que a identidade dos LGBTs e dos negros que aparecem nos meios de comunicação não o representam a maior parte dessas pessoas. Doutorando em linguística aplicada pela UFRJ, Murilo destaca a importância de dar voz a essas pessoas, para que elas mesmas sejam as contadoras das suas histórias:

­– A gente perde a noção do quanto essas identidades influenciam as nossas vidas. A realidade é muito diversa. Não é só ter o rosto na mídia; é importante que consigamos ocupar espaços para contarmos a nossa história. Se você é negro e cresce sem identificar pessoas negras tendo acesso à universidade, você não vai achar que lá é o seu lugar também.

Mais Recentes
Uma locadora em tempos de streaming
Com mais de 25 mil filmes e atendimento único, estabelecimento em Copacabana é um pedacinho da memória da cultura audiovisual do Rio de Janeiro
Valorização do cinema universitário na pandemia
Alunos da PUC-Rio participam da Mostra Outro Rio, uma exposição de curtas-metragens produzidos no Rio de Janeiro
Dez anos sem ele
Durante a vida, José Saramago criou um estilo próprio de escrita, de inovação na sintática e na pontuação