Empreendedorismo e novas tecnologias são chaves para inovar no jornalismo
25/09/2017 15:28
Natália Oliveira

No Encontro Mídia Livre, as jornalistas Cristina Tardáguila, Mariana Simões e Itala Maduell debatem ferramentas e formatos no jornalismo.

As transformações no jornalismo, especialmente com a disseminação de notícias falsas, o enxugamento das redações e o uso das redes sociais como fontes de informação, foram tema da Novas mídias e formatos no Encontro Mídia Livre, organizado na PUC pela rede de universitários de faculdades cariocas Somos Todos Mídia. As jornalistas Cristina Tardáguila, Mariana Simões e Itala Maduell debateram o empreendedorismo e o uso de tecnologias para explorar novas formas de comunicar.

Jornalista Cristina Tardáguila. Foto: Matheus Aguiar

Para Cristina Tardáguila – ex-repórter da revista Piauí, dos jornais O Globo e Folha de S.Paulo e da agência de notícias EFE e criadora da Agência Lupa, primeira agência brasileira de checagem de fatos e dados –, é preciso desenvolver um viés empreendedor desde a formação universitária, mesmo para os estudantes que pensam em atuar em veículos estabelecidos.

– O jornalista precisa sair da faculdade como um empreendedor. Não só uma boa pauta, fotografia e bom texto são capazes de mantê-lo sustentável no mercado de trabalho hoje em dia. É indispensável que ele conheça o lado empreendedor e administrativo do jornalismo, por exemplo, quanto custa para fazer uma pauta. E também deve saber usar as ferramentas tecnológicas, estar atualizado.

A ideia é reforçada pela jornalista Mariana Simões, gerente da Casa Pública, centro cultural de jornalismo aberto no Rio pela Agência Pública de Reportagem e Jornalismo Investigativo. Mariana atenta para a inexperiência de boa parte dos profissionais dos meios digitais, e sugere testar novas tecnologias para sobressair em meio à pluralidade de meios de comunicação online, caso do aplicativo Museu do Ontem, que traça roteiros históricos e críticos da ocupação da Zona Portuária do Rio.

Itala Maduell e Mariana Simões no microfone. Foto: Matheus Aguiar

– O jornalismo não está acabando, ele está em transformação. Está já no local de chegada, nos meios digitais. O pensamento antigo, o impresso, é como uma nuvem que tampa o sol. Não se reinventar é perder o negócio.

A professora Itala Maduell fez um breve perfil dos jornalistas brasileiros e apresentou novas iniciativas em jornalismo digital, mostrando uma pluralidade de oportunidades para quem busca se informar e se formar.

– Mais do que dominar as novas ferramentas, temos que saber empreender. De acordo com o estudo Perfil do Jornalista Brasileiro, 40% dos jornalistas trabalham fora de veículos de comunicação, seja em assessorias, em empresas privadas, no terceiro setor, na educação. E, do total, 40% não têm carteira de trabalho assinada. Outra pesquisa, com 100 empreendedores em mídias digitais na América Latina, aponta um cenário favorável, além de um equilíbrio de forças entre os que empreendem – 52% homens e 48% mulheres. A Lupa e a Pública são exemplos no Brasil.

Credibilidade

Cristina Tardáguila lembrou que apenas tardiamente o fact checking vem crescendo e sendo reconhecido no Brasil, com a popularização das redes sociais e a proliferação de notícias falsas, tomando como exemplo a checagem de discursos de Donald Trump desde a campanha à Presidência dos Estados Unidos. Mostrando vídeos com Barack Obama proferindo o mesmo discurso em diferentes cenários – a partir de programas de manipulação de imagens, Cristina alertou que não se pode confiar em tudo o que se vê, assim como aquilo que se lê. E, ao dar dicas de como identificar notícias falsas, destacou a importância do tema do debate, atual e relevante nesses tempos de mudança:

– É preciso conhecer o veículo que publicou a notícia, saber se cumpre princípios éticos de checagem, quais foram as fontes usadas pelo repórter, quem financia a produção, se há uma política pública de correção, se há uma política de apartidarismo. Esses fatores são indispensáveis, para que o leitor recheque as informações e confie no meio de comunicação. 

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