Desaparecimento das abelhas
06/10/2017 15:39
Karen Krieger

O estilo de vida e a organização produtiva podem ser afetados por uma possível extinção dos polinizadores. Os insetos são essenciais para a regulação da vida humana e ambiental.

As abelhas são responsáveis não só pela produção de mel, própolis e cera, como também de ⅓ de todos os alimentos consumidos no mundo. Foto: Cristiano Menezes
O físico Albert Einstein disse que, se as abelhas desaparecessem da face da Terra, a humanidade teria apenas mais quatro anos de existência. Ao fazer a declaração, o pai da Teoria da Relatividade alertava para uma possível extinção desses insetos. Mais de 50 anos depois da morte do cientista, foi registrado em 2006 o primeiro caso de desaparecimento de abelhas nos Estados Unidos. Um ano depois, pesquisadores de órgãos federais, universidades, representantes da indústria apícola e de produtores identificaram um conjunto de sintomas que caracterizava a síndrome conhecida como Distúrbio do Colapso das Colônias (DCC).
Os apicultores começaram a reparar que ocorria uma grande queda na população de abelhas operárias em colônias fortes sem que houvesse algum motivo específico. Entre as causas naturais, estão o parasita Nosema, o ácaro Varroa e os iflavirus DWV e IAPV – que são contraídos depois da infecção pelo ácaro. Já as atitudes humanas como desmatamento, queimadas e o uso de agrotóxicos e fungicidas também afetam o ambiente. Engenheira florestal, a professora Jakeline Prata, do Departamento de Ciências Biológicas, aponta também o aquecimento global como causa desse distúrbio.
– A temperatura é essencial para o funcionamento da colmeia. As abelhas são organismos com grande sensibilidade ao aumento de temperatura. Qualquer variação pode comprometer as vias metabólicas e a sobrevivência dessas espécies.
Esse desaparecimento é preocupante para as comunidades científica e agrícola internacionais. Além de serem agentes da manutenção dos ecossistemas, as abelhas são responsáveis por 1/3 de todos os alimentos consumidos. Elas são normalmente associadas com a fabricação de mel, própolis e cera, mas também auxiliam na produção de outros alimentos. Café, maçãs, amêndoas e até algodão são alguns dos produtos agrícolas que dependem da polinização da espécie.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apenas no Brasil, o valor econômico da polinização equivale a aproximadamente 30% do valor total dos produtos agrícolas. A pesquisadora da Embrapa Fábia de Mello Pereira enfatiza a importância desses insetos para a agricultura. Segundo ela, as abelhas são os principais agentes polinizadores e os mais eficientes.
– Elas são encarregadas da polinização de aproximadamente 73% das espécies cultivadas em todo o mundo. Além dos impactos ambientais, também a segurança e diversidade alimentar, a garantia da nutrição humana e os preços dos alimentos são estritamente relacionados à atuação desses agentes polinizadores.
No Brasil, não foram comprovados casos de DCC, porém isso não deixa as 3 mil espécies nacionais fora de perigo. Líder mundial na utilização de agrotóxicos, o país precisa se atualizar para que esse problema não chegue no território. Segundo o biólogo Cristiano Menezes, a diferença entre o DCC e o problema encontrado aqui é a incidência de intoxicação por produtos químicos.
– As pessoas acabam confundindo os dois. O que ocorre no Brasil é essa intoxicação das abelhas por agrotóxicos.
Nos últimos três anos, o debate sobre a importância das abelhas fez uma exposição significativa do assunto. Iniciativas nacionais estão empenhadas em pesquisar o tema e conscientizar a população sobre o desaparecimento desses animais. A campanha Sem Abelhas Sem Alimento é um dos projetos que procuram divulgar informações científicas e analisar melhor a situação do Brasil.
Com o objetivo de incentivar o diálogo entre agricultores e apicultores, o Projeto Colmeia Viva é outra ação ativa em prol dessa causa. Ele é uma realização do setor defensivo que reconheceu a necessidade de um debate sobre a proteção das espécies. A iniciativa é especializada no treinamento de profissionais dos setores agrícola e apícola.
Criada em 2014, a Associação Brasileira de Estudo das Abelhas (A.B.E.L.H.A.) procura divulgar informação com base científica. O material produzido pela associação é distribuído amplamente para os setores agrícola e apícola. A diretora da A.B.E.L.H.A., Anna Assad, acredita que, para a maior parte da população, esses dados ainda são desconhecidos.
– Cada dia aparece mais informações sobre as abelhas tanto no Brasil quanto no mundo. Mas é preciso ampliar essa divulgação para a sociedade saber mais sobre esse material.
A conscientização dos setores alimentícios é de grande importância para que seja reavaliado o uso de produtos químicos em relação aos impactos das abelhas. Novos produtos são desenvolvidos de modo que eles sejam amigáveis para essas espécies. A preservação ambiental também é um fator de importância, pois, assim, as abelhas terão condições, como comida, por exemplo, para sua sobrevivência. Para Fábia, entretanto, a educação é a chave principal para reverter esse desaparecimento.
– Muitas ações podem ser realizadas em casa e exigem a mudança de hábitos diários da população, como redução do lixo, uso racional d’água, manter um jardim com plantas atrativas para polinizadores e até mesmo a manutenção de colmeias de abelhas-sem-ferrão em casa.

Mais Recentes
Beleza a favor do ecossistema
Mercado de cosméticos veganos conquista consumidores que lutam contra a exploração animal
A voz que não pode ser calada
A liberdade de imprensa é considerada um direito social conquistado pelos profissionais da comunicação
Diplomacia na escola
Alunos da PUC participam da sexta edição MICC