O polivalente Silviano Santiago
11/10/2017 07:02
Pedro Madeira

O Departamento de Letras e o Decanato do Centro de Teologia e Ciências Humanas (CTCH) organizaram na segunda-feira, 9, uma homenagem ao escritor, poeta, ensaísta, professor e intelectual, Silviano Santiago

Silviano Santiago recebe homenagem do Departamento de Letras

Sem surpresas, Silviano Santiago chegou por volta das 18h, durante o encerramento do seminário em sua homenagem. Entrou no auditório e se dirigiu à bancada envergonhado com o som de uma salva de palmas da plateia. Sem proferir uma palavra, agradeceu os aplausos, ajeitou o paletó branco e se sentou na primeira fileira em silêncio. Assim, ele completava o ciclo de debates que começou às 10h e foi até às 18h, e as mesas, compostas por ex-alunos do professor, que prestaram honras à trajetória do homenageado em suas áreas de atuação.

As mesas foram divididas em três sessões de leituras e mediadas pelo decano do CTCH, professor Júlio Diniz. Diniz, que assumiu o lugar de Silviano na Universidade, anunciou um slideshow de fotos do homenageado nos tempos de PUC-Rio. Durante a exibição das imagens ao lado da escritora Clarisse Lispector e do antropólogo Roberto DaMatta, Santiago demonstrou memória apurada, enquanto dizia em voz alta datas e lugares. Mas não conseguiu conter o espanto ao ver a cabeleira que cultivava na época. Arriscou comentários bem-humorados, troçou de si próprio e foi acompanhado pelas risadas do público.

Mineiro, do município de Formiga, cidade com 64 mil habitantes, Silviano Santiago teve formação europeia. Ele completou o doutorado na Universidade de Paris, Sorbonne, e logo em seguida se estabeleceu nos Estados Unidos para dar aulas em universidades americanas. Amigo do escritor, Luiz Fernando Medeiros, professor da UFF, considera que, apesar da vivência fora o país, o escritor nunca deixou de carregar as origens.

- Silviano era tudo isto: ensaísta, poeta, escritor e crítico, no entanto, era mineiro e, acima de tudo, brasileiro – definiu.

Durante o período que viveu fora, o professor passou por Novo México, Nova YorkBuffalo, Toronto e Indiana e acumulou bagagem intelectual que depois se transformaria em livros.

- Sempre preparei muito minhas aulas, e todo o este material foi conservado. É um repertório que eu tenho em casa, são meus arquivos. E os diversos autores que eu ensinei, as inúmeras questões e todos os gêneros literários em que me debrucei nos tempos de professor não foram em vão, na época eu pensava que sim. Em 2016, escrevi um livro sobre Machado de Assis, e as pessoas não entenderam como, aos 81 anos, fiz isso. Mas já estava tudo anotado nos meus arquivos – revelou.

Silviano se preocupava com seu tempo. Militante comunista, nos anos 1970, foi vítima da perseguição americana, teve o green card suspenso e foi obrigado a fazer as malas de volta ao Brasil. Em terras tupiniquins, foi convidado pela professora Amélia Maria Lacombe para dar aula na PUC-Rio, que veio ser a primeira universidade brasileira onde lecionou, e sobre isto Silviano é grato.

- Poucas pessoas sabem que a PUC-Rio é a primeira universidade em que dei aula no Brasil. Tive formação estrangeira por circunstâncias e já tinha uma carreira. Mas eu queria experimentar e dar aula em uma universidade brasileira. Foi ótimo, porque eu gostei muito, e as pessoas daqui também. Tive excelentes colegas.

Mais tarde, foi titular da Universidade Federal Fluminense (UFF), foi exonerado em 1977 por ser comunista, fato que Silviano havia escondido até então. Agora, aos 81 anos, Silviano exibe o que restou do cabelo e discursou na frente de amigos, colegas e familiares em agradecimento. Sem delongas, Santiago agradeceu pela homenagem e brincou ao falar sobre suas ambições.

- As pessoas me chamam de prolífico. Eu prefiro a palavra polivalente. Já fiz uma coisa aqui outra ali, mas não trezentas. Trezentas só Mario de Andrade, e quem não quer ser o Mario de Andrade?   

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