O Seminário Áfricas Singular Plural, organizado pelo Departamento de Letras da PUC-Rio, ocorreu nos dias 6 e 7 de dezembro no campus da Universidade. Alunos de pós-graduação de diferentes instituições do Rio de Janeiro participaram de um ciclo de palestras, performances e exposições afim de colocar em pauta a diversidade africana.
O encontro foi pensado como um trabalho de conclusão, a partir da disciplina África - outros modos de usar, da professora Eneida Leal Cunha. Segundo o aluno de Letras Pedro Beja, um dos organizadores do encontro, com o intuito de contemplar a heterogeneidade do que se compreende como África, cada aluno da matéria ficou responsável por organizar atividades que contemplassem a ideia. Para ele, é importante a Universidade abrigar uma conferência que aborda as especificidades da cultura africana, uma vez que o povo brasileiro é composto dela.
– É fundamental que a gente leia essas outras Áfricas existentes no Brasil. Basta pensarmos a Pequena África no Rio de Janeiro e que a segunda maior população de negros africanos, fora da África, está no Rio de Janeiro e na Bahia.
No primeiro dia, a exposição Royal Wax Hollandais: impressões, com a curadoria de Isabel Martins Moreira, professora do Departamento de Design, mostrou tecidos e a ligação das mulheres no continente africano e na diáspora. Estampas da Nigéria e da Indonésia foram relacionadas com países europeus que as reproduziam como simples mercadoria.
Elaine Casemiro, coordenadora da Escola de Samba mirim GRCESM Império do Futuro falou sobre o Jongo. Filha de Tia Ira, uma das jongueiras mais antigas do morro da Serrinha, em Madureira, na Zona Norte da cidade, ela afirmou a importância da dança para a memória da cultura africana. Segundo ela, apesar da religiosidade envolta no Jongo, ele não é uma religião. Na origem, era dançado apenas por pais e mães de santo, mas atualmente, foi modificado para facilitar a introdução de crianças na dança e para ser ecumênico.
– O Jongo é uma expressão coreográfica cultural trazida para o Brasil através de negros de origem bantus. Ele é de extrema importância para a cultura, porque carrega a ancestralidade da África para o Brasil.
Alunos do curso de Artes Cênicas realizaram performances na mostra. Kauê Itabacena apresentou Alemão – Ato de fala, que, em forma de pílula cênica, abordou a questão dos assassinatos de negros no Brasil. Thais Nascimento fez a performance Corpo exposto – Ato de fala. Baseada nos textos de Bianca Santana, Victoria Santa Cruz e Antonin Arturd, Thais se referiu às questões raciais e de opressão contra uma menina negra.
No segundo dia, o seminário trouxe a exposição Alter Rio, do artista Miguel Pinheiro, detalha o africano no Rio de Janeiro além dos estereótipos. Imagens históricas e memoráveis, como a dos Beatles atravessando a rua, são reproduzidas por negros. Fotografados em situações que os colocam como protagonistas da vida, Pinheiro afirmou que o intuito da mostra é demonstrar um lado do africano além das costumeiras representações. Para isso, ele selecionou três homens de São Tomé e Príncipe.
Na mesa Áfricas, imagens e imaginários, os convidados discutiram o imaginário africano a partir de artistas como Nadifa Mohamed, romancista da Somália, autora do livro Black Mamba; Chinua Achebe, romancista, poeta e crítico literário da Nigéria, que trabalha com a ideia estereotipada da África selvagem, como os guerreiros carnívoros de ossos no cabelo. Houve um debate sobre o autor Stuart Hall, teórico cultural e sociólogo jamaicano, que trata da cultura negra na diáspora, e sobre o longa I’m not your negro, um filme-documentário francês e estadunidense de 2016, dirigido e escrito por Raoul Peck e James Baldwin, que explora relações étnicas durante a luta dos direitos civis dos Estados Unidos e evidencia ícones como, Martin Luther King, Malcolm X e Medgar Evers.