Lágrimas e indignação por uma mulher corajosa
16/03/2018 19:32
Lethicia Amâncio

Manifestação em homenagem a Marielle Franco ocupa as ruas do Centro

Ato Marielle Franco

O ato “Marielle, presente! ” reuniu 50 mil pessoas, segundo estimativas dos organizadores, na tarde de ontem no Centro do Rio. O encontro foi em homenagem à vereadora Marielle Franco (PSOL) e ao motorista Anderson Pedro Gomes, assassinados dentro de um carro, no Estácio. O ato teve a participação de ativistas, acadêmicos, artistas e cidadãos que se revoltaram com o crime.

A concentração dos manifestantes foi realizada na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), onde figuras como o Deputado Estadual Marcelo Freixo (PSOL) e o compositor Chico Buarque falaram para a multidão. O povo pediu justiça pelo caso e ocupou também as ruas da Cinelândia, na marcha em direção a Câmara dos Deputados. Cartazes, lágrimas e gritos foram os protagonistas na homenagem a Marielle.

O Deputado Estadual e líder de bancada na Alerj, Marcelo Freixo, estava fortemente abalado quando pegou o microfone. Amigo e colega de partido da vereadora, Freixo lembrou como a conheceu e a proximidade que estabeleceu com a família dela. Falou da admiração por Marielle e da luta dos dois na Comissão dos Direitos Humanos, na qual atuaram juntos por dez anos.

– Não foi uma vereadora do PSOL que nós perdemos, nós perdemos uma mulher extraordinária. Perdemos uma mulher negra, lésbica, moradora de favela, feminista e que ousou fazer aquilo que os próprios poderes não permitem, que é chegar ao Parlamento, fazer política e estar no lugar que ela bem entendesse estar.

O deputado observou, ainda, que lotar a Assembleia era a mais bonita forma de homenagem que os manifestantes poderiam fazer a Marielle. Lembrou do quanto ele e seus colegas tinham orgulho da postura abusada, como definiu Freixo, da vereadora. O representante do PSOL qualificou o assassinato como uma covardia e garantiu que vai acompanhar as investigações para identificar o autor do crime.

O Deputado Estadual Carlos Minc (recém filiado ao PSB) afirmou que a luta da vereadora contra a intolerância religiosa, o racismo, e outras causas sociais vai continuar. Minc comentou que ela sempre esteve presente em encontros como aquele, e que o assassinato da parlamentar foi um atentado aos direitos das mulheres.

– Nós seguiremos lutando por ela. Marielle vive! Vive na luta, e eles não sabem que mexeram com o povo, que eles iam, com esse atentado de extermínio político, indignar a todos. Enquanto houver racismo, homofobia, machismo, não haverá cidadania para ninguém. Chega de impunidade, chega de repressão.

O Reitor da UFRJ, Roberto Leher, também participou da manifestação, e definiu o assassinato de Marielle Franco como um ato político e de ódio. Ele decretou três dias de luto na Universidade. Comandada de forma pacífica, a concentração durou aproximadamente duas horas e o encontro foi encerrado por uma das maiores referências da MPB, o compositor e cantor Chico Buarque. Ele agradeceu a participação dos manifestantes e convidou todos para seguir na caminhada até a Cinelândia.

Agrupados na escadaria da Câmara dos Vereadores, os manifestantes ouviram interventores de diversas áreas. Morador da Maré, Gustavo Luz foi  disse que ir à rua em homenagem à vereadora foi uma forma de não tornar a luta dela em vão, e que, independentemente da situação da cidade, a juventude estará unida. Para ele, o assassinato de Marielle foi uma tentativa de silenciar uma voz de representatividade e luta.

– Ela vem representando uma coisa que para mim é muito forte, que é mostrar que a gente é capaz, porque, a todo momento, como eu disse no meu manifesto, é posto um muro para os favelados. Quando a gente vê uma pessoa como a Marielle, que surgiu do mesmo canto que a gente, é favelada como nós, e alcança um lugar como esse, a gente fala que somos capazes também.

A ambulante Lucia Lopes, 62 anos, conheceu a vereadora a partir de movimentos dos ambulantes e descreveu Marielle como uma pessoa forte, corajosa e amiga. Segundo Lucia, a presença da ativista na política era importante por ela ter registrado uma boa colocação nas eleições de 2016, a quinta mais votada no Rio. Para Lucia, a bravura dela em relação à corrupção na cidade foi um desafio.

– Nós nos tornamos mortos vivos, com uma história inacabada, porque ela tinha muito ainda a acrescentar, a fazer e a cumprir. Como ela era uma pessoa sincera e corajosa – lembrou.

 

*Colaborou Natália Oliveira, Elisângela Almeida, Karen Krieger e Lucas França

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