A culpa não é das estrelas
01/05/2018 17:34
Lethicia Amâncio

Poluição luminosa impede as pessoas de verem o céu e gera consequências para diferentes espécies

O exagero na iluminação das grandes cidades. Foto: Wikipedia-Commons

Desde a invenção da energia elétrica no século XIX, o homem não vê mais o céu da mesma forma. A causa dessa falta de visibilidade é a chamada poluição luminosa, que ocorre quando os grandes centros urbanos emitem luz artificial exageradamente. Essa luz vaza para a atmosfera e a contamina, a deixa clara e impede que se veja a maioria das estrelas no espaço.

As grandes cidades são as maiores produtoras deste tipo de poluição. O eixo Rio-São Paulo, por exemplo, é a maior densidade de luz dispersa para o espaço em todo hemisfério sul, segundo pesquisas do jornalista científico Júlio Ottoboni. O Rio de Janeiro é um dos piores lugares para fazer astronomia, de acordo com o responsável pelo conteúdo astronômico do iPlanetário, Alexandre Cherman, por ser uma cidade baixa, no nível do mar, e de clima tropical úmido.

– O ideal é conseguir ver cerca de 7 mil estrelas, mas no Rio, em uma noite boa, se você conseguir ver mil, já é muito. Ou seja, estamos perdendo aproximadamente 6 mil, 5 mil estrelas. Já não temos mais acesso a quase 80% do céu por conta da poluição luminosa.

O iPlanetário é um projeto realizado por meio da parceria entre a Coordenação Central de Educação a Distância (CCEAD) PUC-Rio e a Fundação Planetário da Cidade do Rio de Janeiro. O objetivo do projeto é trabalhar a educação complementar, com o levantamento de questões da astronomia, para sensibilizar as pessoas e mostrar que astronomia, além de legal, é algo útil. Essa sensibilização resulta em mais aliados no combate à poluição luminosa.

Para Cherman, caso o problema continue, a falta de visibilidade se expandirá cada vez mais, e a observação dos céus nas grandes cidades ficará restrito aos chamados sítios escuros, espaços de controle luminoso que são afastados e onde não é permitido ascender luzes.

Outra consequência da poluição luminosa é o impacto que ela causa a diversas espécies de seres vivos. As tartarugas marinhas, que nascem e desovam sempre na mesma praia, por exemplo, têm esse ciclo da desova quebrado porque não conseguem mais se orientar pelas estrelas, assim como outros animais diurnos que não conseguem identificar mais a hora de dormir, de acordo com observações do professor Henrique Varjão, do Departamento de Biologia

– As aves vão dormir quando o sol se põe, a hora de dormir é o momento de descansar todas capacidades regeneradoras e recuperadoras do sono, que são fundamentais. Existem várias pesquisas que mostram que sabiás, por exemplo, estão se mantendo acordados durante a noite, e estão cantando três, quatro horas da manhã em uma praça, porque o bicho não consegue entender que aquela não é uma luz natural.

O professor acredita que uma possível solução para o problema é integração da cidade com natureza, e fazer com que as cidades fiquem cada vez mais verdes. O astrônomo Alexandre Cherman também frisa que somente um estudo mais profundo e a projetar uma iluminação mais eficiente pra as cidades resolveria o caso.

Mais Recentes
Pecuária com benefícios ambientais
Fazenda de ex-aluno da PUC-Rio é reconhecida internacionalmente como uma solução sustentável para a criação de gado
A sustentabilidade na pandemia e no progresso humano
Palestrantes discutem os diferentes impactos da degradação ambiental durante e após a pandemia
Ecologia integral em um mundo fragmentado
Na abertura da Semana de Meio Ambiente, palestrantes analisam os cinco anos da encíclica Laudato Si'