Favelas do Rio em forma de conto
21/06/2018 16:24
Eduardo Diniz

Autor do livro O Sol na Cabeça, Geovani Martins participa de bate-papo sobre a obra

Geovani Martins relembra como foi a produção dos contos para O Sol na Cabeça

Nascido no bairro de Bangu e criado nas ruas da favela do Vidigal, Geovani Martins tem apenas 26 anos e é a aposta literária de 2018 da Companhia das Letras, uma das maiores editoras do país. Martins lançou, em março, o livro de contos O Sol na Cabeça, uma coletânea de 13 histórias sobre a infância e a adolescência dos moradores de favelas do Rio de Janeiro, que já está na quinta edição. Além das vendas no Brasil, O Sol na Cabeça foi exportado, antes mesmo do lançamento nacional, para outros nove países, incluindo Estados Unidos e China. O autor esteve na Universidade na terça-feira, 19, e contou um pouco sobre a carreira.

 

Martins começou a escrever aos nove anos e foi convidado para participar da Feira Literárias da Periferias (Flup) em 2013, após ser indicado por um dos leitores de um blog que ele tinha na época. Também escreveu na revista Setor X, da Rocinha, e foi apresentar esse conteúdo na Festa Literária de Paraty (FLIP), em 2015. Durante o encontro, percebeu que podia viver da escrita e resolveu lançar um livro. O autor revelou que, por pressão das pessoas que o rodeavam, tentou fazer um romance, mas sem sucesso.

 

— Todo mundo me falava para não fazer um conto porque não vende, não tem sucesso. Tentei escrever um romance porque era mais fácil de as pessoas gostarem e alguma editora se interessar, mas não consegui fazer direito. Desisti dessa ideia e resolvi fazer um livro de contos mesmo, um gênero que eu sabia que escrevia bem e que era já era reconhecido. Eu não sei fazer absolutamente nada sem ser escrever.

 

O planejamento de Martins pós lançamento de livro era muito diferente do que aconteceu. Ele contou que queria ser chamado para escrever em um jornal porque precisava ganhar dinheiro, mas os donos da Companhia das Letras gostaram do O Sol na Cabeça e decidiram aumentar o lançamento da obra. Martins afirmou também que, apesar de não ter ideia da dimensão que a obra poderia ter, sabia que a vida iria mudar após o contrato com a editora.

 

— Logo no começo, os donos falaram que iam tentar vender o livro para fora, só que também me avisaram que não era para me animar porque era um livro novo, que não tinha sido lançado nem nacionalmente ainda, e que era muito difícil que desse certo, mas deu. Recebemos propostas de editoras americanas, europeias e até da China, antes mesmo de o livro sair no Brasil.

 

O Sol na Cabeça foi lançado no país no início de março e já vendeu mais de 25 mil exemplares. As narrativas contam histórias de jovens nas favelas do Rio com as gírias e o palavreado típico das comunidades. Martins explicou que a obra não é uma coletânea de contos, mas que os 13 textos foram escritos especialmente para serem lidos juntos. Segundo o autor, as histórias conversam entre si, se completam e falam das contradições entre a favela e o “asfalto”.

 

— Eu nunca tinha lido nada parecido com esses contos, talvez até pela falta de representação que a favela tem na literatura. Quis enxergar o humano onde muitos só veem caso de polícia. Os personagens se ligam, todos os contos conversam. Todos os livros descrevem a cor dos personagens apenas quando ele é negro, então quis fazer diferente. Descrevo a tonalidade da pele apenas quando o personagem é branco. Isso revela o lugar da população negra na nossa cidade.

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