Cidade Informal no Século XX
30/07/2018 18:04
Julia Carvalho e Lethicia Amâncio

Organizado pelo Laboratório de Estudos Urbanos e Socioambientais (Leus), Seminário Internacional reúne pesquisadores entre os dias 30 e 31 de julho na PUC-Rio

Entre os dias 30 e 31 de agosto, a PUC-Rio recebeu o Seminário Internacional A produção da Cidade Informal no Século XX, que durante dois dias reuniu pesquisadores de diversos países para discutir pesquisas desenvolvidas sobre cidades. A abertura foi realizada pela diretora do Departamento de Serviço Social, professora Andreia Clapp Salvador, no auditório do RDC, na segunda-feira.  

A professora Andreia Clapp fez a abertura do seminário

Andreia ressaltou a importância de o encontro propor trocas acadêmicas entre pesquisadores e pesquisas de várias partes do mundo. Ela afirmou que serão dois dias de trabalho intenso, porém, segundo a professora, será muito interessante discutir a questão urbana e a informalidade, tema considerado relevante atualmente.

A primeira mesa do seminário, “Fazer a história da cidade informal pelo prisma da administração pública: apresentação do projeto A cidade informal no século XX. Políticas urbanas e administração de populações”, foi mediada pelo professor da Uerj Mario Brum. A discussão teve a participação do professor do Departamento de Serviço Social da PUC-Rio Rafael Soares Gonçalves e da professora da Université Paris I Panthéon –Sorbonne Charlotte Vorms.

Na apresentação do tema, Brum fez um embasamento histórico da ideia de informalidade das favelas. Segundo ele, esses espaços abrigavam, em maioria, negros, migrantes rurais e, segundo a mídia da época, criminosos. Para o professor, o preconceito com os moradores foi tão forte que atravessou o século XX e chega aos dias atuais.

— Ainda com o processo de democratização do país nos anos 1980, a democracia não alcançou as favelas. A margem da informalidade e ilegalidade é sempre renovada e é difícil conceituar o que pode e o que não pode dentro de uma favela. Lá o Estado não consegue se fazer presente através da lei, então se faz presente pela ordem, na base da violência.

O professor da Uerj Mario Brum mediou a primeira mesa do Seminário. Foto: Thaiane Vieira.

Os professores Rafael Soares Gonçalves e Charlotte Vorms exploraram temas sobre informalidade e ilegalidade, e abordaram a duplicidade que existe em torno desses dois conceitos e como um pode desconstruir o outro. Além disso, ambos ressaltaram a importância de utilizar a memória como objeto de construção do urbano, por meio de imagens, mapas e fotos, e assim permitir aos moradores contarem as histórias das favelas por eles mesmos.

Já a segunda mesa, mediada pela professora do Departamento de Arquitetura e Urbanismo Maira Martins, abordou o tema A administração pública e a emergência da cidade informal. Os professores Antonio Azuela, da Universidad Nacional Autónoma de México, Emilio Antuñano, da University of Califórnia, e Jim House, da University of Leeds, debateram o assunto com o professor do Departamento de História PUC-Rio Romulo Costa Mattos.

O professor da PUC-Rio Romulo Costa Mattos falou sobre o crescimento de moradias informais na cidade durante o fim do século XIX e início do XX. Foto: Thaiane Vieira.

A variedade de instituições das quais vieram os professores permitiu um maior intercâmbio de olhares e pesquisas acadêmicas. Os pesquisadores abordaram a questão da informalidade na cidade em locais como Cidade do México, Rio de Janeiro, Argel e Casablanca. Mattos explicou o crescimento das favelas a partir do contexto da construção civil e habitação na Primeira República.

— No Brasil, depois da Segunda Guerra Mundial, houve um déficit de habitação, já que o preço de material de construção subiu, assim como a Light detinha o monopólio de serviços públicos e os aluguéis tiveram um aumento de 50%. Esses fatores aumentaram a construção de habitações proletárias.

Lutas Partidárias e Mobilizações Populares

A mesa discutiu o surgimento das favelas em países da América Latina. Foto: Thaiane Vieira

Na terça-feira, 31, foi realizada a palestra Lutas Partidárias e Mobilizações Populares. Os pesquisadores Adriana Massidda, Eva Camelli, Serge Ollivier e Marco Marques Pestana expuseram os temas estudados e responderam a perguntas, com mediação do professor Mauro Amoroso, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).

Adriana e Eva produziram com Valeria Snitcofky, no Consejo Nacional de Investigaciones Científicas y Técnicas de Buenos Aires (Ceur/Conocet), o estudo As favelas em uma perspectiva histórica (1885-1983). Elas têm como objetivo de pesquisa explicar a evolução dos bairros informais em Buenos Aires, chamados de villas, e as políticas públicas de remoção que enfrentaram. As pesquisadoras afirmaram que, nesse período, mais de 90% da população das villas foram despejadas sem nenhuma política de ajuda do governo. 

O francês Serge Ollivier, da Université Paris I Panthéon-Sorbonne, Mondes américains, falou sobre as favelas de Caracas, conhecidas como barrios. Com o tema Existir como comunidade: Morando na periferia de Caracas e tornando-se parte da cidade durante a quarta república venezuelana (1958-1998).  Ele explicou que os barrios foram reconhecidos como comunidades que se tornaram espaços políticos e sobreviveram a 40 anos de exceção de políticas públicas. 

O pesquisador Marco Pestana, do Instituto Nacional de Educação de Surdos (Ines), apresentou o trabalho sobre A União dos Trabalhadores Favelados (UTF) e o Partido Comunista Brasileiro (PCB), e como surgiu essa relação. O mediador da discussão, Mauro Amoroso, acredita que existe uma relação entre os três trabalhos, por mais que sejam de países diferentes.

— O Sérgi fez uma observação que achei bem interessante, em que ele fala que consegue estabelecer conexões da estrada da democracia na Venezuela com as favelas, mas acho que isso é referente a todos os casos aqui apresentados, porque você vive alguns elementos bem perceptíveis. Você tem questões como a relação entre favelização e globalização, dentro do conceito da América Latina, a questão da construção de estigmas negativos, que é muito forte em Buenos Aires, o que me lembrou muito o caso do Brasil e acredito que deva ser também na Venezuela.

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