O Brasil visto de fora
01/08/2018 15:37
Pedro Madeira

A falta de investimento e o dsinteresse de pesquisadores estrangeiros pelo país foram debatidos no último dia do Brasa

Em pauta, evasão de estudantes brasileiros para os EUA é um sintoma da falta de investimento na área da pesquisa acadêmica no Brasil. Foto: Thaiane Vieira

O interesse dos estudantes de fora do Brasil em relação às terras tupiniquins vem caindo nos últimos anos. Esta foi uma das avaliações feitas no debate O estado dos estudos brasileiros fora do Brasil, realizada na sexta-feira, 27, durante o XIV Congresso da Brasa. Participaram do debate o presidente da Brasa, Bryan McCann, da University of Georgetown, os professores Ivani Vassoler, da State University of New York at Fredonia, Vinicius Carvalho, da King’s College London, Glen Goodman, da University of Illinois, e o pesquisador Fabrício H. Chagas-Bastos, da The University of Melbourne

A professora Ivani Vassoler, do Departamento de Política e Relações Internacionais da State University of New York, realizou uma pesquisa em 2017 com 600 docentes envolvidos com o ensino e pesquisa sobre o Brasil para traçar um quadro sobre os estudos brasileiros na América do Norte. Segundo ela, as pesquisas sobre o Brasil nos Estados Unidos e Canadá começaram a partir da década de 1940 e teve um pico entre 2008 e 2014, e depois voltou a diminuir. Apesar do declínio, a pesquisa apontou que 51% dos professores ainda acreditam na retomada do interesse em estudos Brasileiros nos dois países.

- O que justifica esse crescimento expressivo desde 2010 é o fato de a economia brasileira ter tido uma fase de crescimento expressivo. Todo mundo se recorda daquela ideia do Brazil take off, da revista The economist, com o Cristo Redentor decolando. Com base nas respostas, pode ser que o Ciências sem Fronteiras, iniciado em 2011, também tenha sido um fator. Agora, em crise, a tendência é cair. A pesquisa foi ampla, em vários aspectos. Quantas matérias por semestre sobre o Brasil são ensinadas nas Universidades e os resultados são números muito variados. Têm cidades que dão uma matéria e outras que dão 15 matérias sobre o Brasil.

A professora Ivana destacou que a falta de laços entre Brasil e Portugal enfraquece a comunidade brasilianista. Foto: Thaiane Vieira

Ainda de acordo com a pesquisa, a Brown University lidera o ranking das universidades com mais oferta de estudos brasileiros, seguida da University of Texas at Austin, da Vanderbilt University e, em quarto, a Georgetown University, instituição do presidente da Brasa, Bryan McCann. Professor do Departamento de História da Georgetown, Bryan leciona há 15 anos na universidade e percebeu algumas mudanças de comportamento dos estudantes que procuram aulas sobre o Brasil. Para ele, o interesse dos alunos cresceu rapidamente entre 2004 e 2012 e, a partir de 2006, estudantes da escola de administração de negócios começaram a frequentar as cadeiras do curso, interessados nas possibilidades econômicas do Brasil.  

- Foi uma mudança muito brusca, da tradição de ter alunos interessados na cultura brasileira para um interesse na economia. Mas esse tipo de interesse já caiu bruscamente. A quantidade de alunos que eu tenho da escola de administração de negócios já caiu rapidamente e estão mais no patamar de antigamente. 

A pesquisa da professora Ivani Vassoler mostra outros obstáculos para o crescimento de estudos brasileiros. As maiores reclamações feitas pelos entrevistados são a questão da língua. De acordo com Ivana, o ensino de português nos EUA é inexpressivo, o que dificulta o interesse do estudante. A professora disse que um convênio com o Ensino Médio americano para introduzir o português na grade de disciplinas poderia ser uma das soluções. 

Além da questão linguística, há, segundo o professor Glen Goodman, do Departamento de Espanhol e Português da University of Illinois, uma falta de clareza e uma instituição forte, como o Instituto Camões (Portugal) e o Instituto Cervantes (Espanha), para sustentar a pesquisa sobre o Brasil. O professor contou que desde a criação dos Departamentos sobre Estudos da América Latina nos EUA, a partir da revolução Cubana, o Brasil não teve o espaço devido nas pesquisas. Foram privilegiados os países de língua hispânica e com mais relevância geopolítica naquele momento. Goodman pontuou que os alunos interessados no Brasil, na maioria dos casos, procuram conhecer a história de escravidão e as relações raciais na sociedade.

- Também o Brasil é um país continental imperialista. Os brasileiros nunca ficaram muito confortáveis com exclusão do Brasil nas pesquisas do Latin America Studies. Mas, agora, na minha geração, está mais tranquilo.  É preciso se distanciar um pouco do modelo clássico de letras, literatura, coisas civilizacionais. E abrir um pouco para ser mais prático, mais útil, que foca em língua usada e conhecimento cultural. É preciso atrair o aluno com assuntos atualizados.

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