Os anunciantes que, desde o começo do jornalismo, foram os principais agentes financiadores das redações, hoje, voltam-se para as oportunidades na internet. Partindo deste novo cenário, a professora Patrícia Maurício, do Departamento de Comunicação Social, ministrou, na quarta última, a palestra O papel do Facebook e do Google na crise das empresas jornalísticas.
Para a apresentação, Patrícia excluiu modelos de negócios como o da rede de televisão britânica BBC, que é financiado diretamente pelo público, e se concentrou nos métodos usuais de transação entre empresas jornalísticas e publicitárias. Segundo o exibido pela professora, 74% dos consumidores utilizam as redes sociais como referência para a compra, o que, de acordo com ela, é um dos fatores para essa migração da publicidade para a internet.
- Os digitais influencers de fitness e de moda, que criam uma identificação com o público pelo jeito deles. Eles botam uma roupa, de uma determinada marca patrocinadora, e dizem: ‘Ah, ganhei de presente’. Mas outros simplesmente falam bem da marca e ganham para isso. Porém, a pessoa que está acompanhando muitas vezes não tem noção de que aquilo é um anúncio. É um negócio, mas não fica claro, como era antes, quando era separado o que era publicidade e o que era algo espontâneo. E isso está tirando dinheiro de parte da publicidade que ia para o jornalismo.
De acordo com Patrícia, a queda no custeamento de anúncios publicitários, com a chegada da internet, também ajudou nessa crise. O acesso às notícias de forma gratuita, por meio do YouTube, de portais de notícia e pelas próprias redes sociais, na avaliação da professora, provocou concorrência para a audiência do jornalismo impresso, de televisão e de rádio, que se traduziu na queda do público consumidor.
- Por causa dessa concorrência, o valor dos anúncios desceu. Jornais, emissoras de televisão e as rádios não podem mais cobrar por quanto eles cobravam antes, porque eles têm essa concorrência com a publicidade da internet e do jornalismo digital, que é muito mais barata do que antigamente era nos veículos tradicionais. E o que ocorre é que as empresas tradicionais começam a dar descontos e a receita diminui.
Mas, de acordo com Patrícia, escândalos que envolveram as duas gigantes da internet – o Facebook e a Google – abalaram a credibilidade do conteúdo produzido na web. A professora lembrou do caso entre o Facebook e a empresa de análise de dados britânica Cambridge Analytica, de março deste ano, quando foi descoberto que 87 milhões de pessoas tiveram os dados coletados indevidamente para fins políticos. Segundo a professora, após a divulgação das reportagens do jornal The Observer e da revista The New Yorker, que denunciaram o ocorrido, a empresa perdeu U$ 36,7 bilhões em valor de mercado.
- A Cambridge Analytica fez um aplicativo do tipo teste, daqueles que dão previsões para o futuro da pessoa, e pedia ao usuário vários dados. Mas era uma isca para coletar os dados dessas pessoas. A pessoa que fez isso aceitou legalmente, embora ela não soubesse para o que estava sendo usado. Só que, nessas 87 milhões de usuários, havia os amigos das pessoas que inicialmente aceitaram o teste, então elas não tinham nada a ver com isso. Eles pegaram os dados e usaram para influenciar nas escolhas da eleição de 2016 dos Estados Unidos, beneficiando o Donald Trump.
Outro imbróglio envolvendo a mesma empresa, recordou Patrícia, foi o referendo do BREXIT, que culminou na saída do Reino Unido da União Europeia. De acordo com a professora, a atuação deles na votação foi decisiva, dado a baixa diferença de percentual no resultado.
Também entre os apontamentos de Patrícia sobre a crescente perda de confiança na informação produzida na internet estão a emergência do debate em cima das Fake News. Segundo a professora, a análise há duas vertentes para análise deste fenômeno: um conceito de Fake News mais “fechado” e um mais “alargado”. De acordo com Patrícia, uma abordagem mais fechada identifica aquelas notícias produzidas de forma mais detalhada, que utilizam o nome e a imagem de empresas jornalísticas de confiança para convencer o leitor. No oposto, o tratamento abrangente distingue os boatos disseminados via WhatsApp.
- Quem é jornalista olha aquilo e já identifica uma escrita que não é da profissão. Mas para as pessoas sem esse conhecimento, as notícias passam batidas. Então, de repente acontecem coisas que as pessoas descobrem e que põem em dúvida a confiabilidade no Facebook e no Google. Claro que eles têm usuários de sobra, mas começou uma queda que o Facebook não se recuperou totalmente até hoje, porque não conseguiu convencer nem o mercado nem os governos. E já existe uma reação. O Google e o YouTube, por exemplo, disseram que ajustaram os algoritmos das ferramentas de busca para privilegiar conteúdos de fontes confiáveis.
Os efeitos da queda no consumo de notícias em formatos tradicionais, na análise de Patrícia, foram providenciais para uma reação das empresas de jornalismo já consagradas, como o The New York Times (TNYT). Segundo a professora, houve demissões em massa nas redações, estagiários que são utilizados para fazer reportagens de porte profissional e queda na qualidade do conteúdo. De acordo com a professora, em 2014, vazou um relatório do New York Times com alternativas para driblar as dificuldades de um mercado em constante transformação. A professora contou que a partir deste relatório as redações começaram a dar prioridade ao conteúdo on-line.
- Em maio de 2015, o New York Times conseguiu no Facebook 16,3 milhões de engajamentos, entre curtidas, compartilhamentos e comentários, mais que o dobro do mesmo mês de 2014. Eles conseguiram 1 milhão de assinaturas digitais, só que estacionou. Mas o New York Times é um jornal mundialmente lido, eles venderam as assinaturas no mundo inteiro, diferente de um jornal brasileiro, de língua portuguesa, de menos alcance.