Das gráficas para os sites
05/10/2018 18:01
Pedro Madeira

Como a internet colocou em crise as empresas jornalísticas e de que forma elas tentam driblar os obstáculos

O tema da palestra faz parte da pesquisa da professora. Foto: Amanda Dutra

Os anunciantes que, desde o começo do jornalismo, foram os principais agentes financiadores das redações, hoje, voltam-se para as oportunidades na internet. Partindo deste novo cenário, a professora Patrícia Maurício, do Departamento de Comunicação Social, ministrou, na quarta última, a palestra O papel do Facebook e do Google na crise das empresas jornalísticas.

Para a apresentação, Patrícia excluiu modelos de negócios como o da rede de televisão britânica BBC, que é financiado diretamente pelo público, e se concentrou nos métodos usuais de transação entre empresas jornalísticas e publicitárias. Segundo o exibido pela professora, 74% dos consumidores utilizam as redes sociais como referência para a compra, o que, de acordo com ela, é um dos fatores para essa migração da publicidade para a internet.

- Os digitais influencers de fitness e de moda, que criam uma identificação com o público pelo jeito deles. Eles botam uma roupa, de uma determinada marca patrocinadora, e dizem: ‘Ah, ganhei de presente’. Mas outros simplesmente falam bem da marca e ganham para isso. Porém, a pessoa que está acompanhando muitas vezes não tem noção de que aquilo é um anúncio. É um negócio, mas não fica claro, como era antes, quando era separado o que era publicidade e o que era algo espontâneo. E isso está tirando dinheiro de parte da publicidade que ia para o jornalismo. 

De acordo com Patrícia, a queda no custeamento de anúncios publicitários, com a chegada da internet, também ajudou nessa crise. O acesso às notícias de forma gratuita, por meio do YouTube, de portais de notícia e pelas próprias redes sociais, na avaliação da professora, provocou concorrência para a audiência do jornalismo impresso, de televisão e de rádio, que se traduziu na queda do público consumidor.

- Por causa dessa concorrência, o valor dos anúncios desceu. Jornais, emissoras de televisão e as rádios não podem mais cobrar por quanto eles cobravam antes, porque eles têm essa concorrência com a publicidade da internet e do jornalismo digital, que é muito mais barata do que antigamente era nos veículos tradicionais. E o que ocorre é que as empresas tradicionais começam a dar descontos e a receita diminui.

A palestra atraiu profissionais e jovens interessados no tema. Foto: Amanda Dutra

Mas, de acordo com Patrícia, escândalos que envolveram as duas gigantes da internet – o Facebook e a Google – abalaram a credibilidade do conteúdo produzido na web. A professora lembrou do caso entre o Facebook e a empresa de análise de dados britânica Cambridge Analytica, de março deste ano, quando foi descoberto que 87 milhões de pessoas tiveram os dados coletados indevidamente para fins políticos. Segundo a professora, após a divulgação das reportagens do jornal The Observer e da revista The New Yorker, que denunciaram o ocorrido, a empresa perdeu U$ 36,7 bilhões em valor de mercado.

- A Cambridge Analytica fez um aplicativo do tipo teste, daqueles que dão previsões para o futuro da pessoa, e pedia ao usuário vários dados. Mas era uma isca para coletar os dados dessas pessoas. A pessoa que fez isso aceitou legalmente, embora ela não soubesse para o que estava sendo usado. Só que, nessas 87 milhões de usuários, havia os amigos das pessoas que inicialmente aceitaram o teste, então elas não tinham nada a ver com isso. Eles pegaram os dados e usaram para influenciar nas escolhas da eleição de 2016 dos Estados Unidos, beneficiando o Donald Trump.

Outro imbróglio envolvendo a mesma empresa, recordou Patrícia, foi o referendo do BREXIT, que culminou na saída do Reino Unido da União Europeia. De acordo com a professora, a atuação deles na votação foi decisiva, dado a baixa diferença de percentual no resultado.

Também entre os apontamentos de Patrícia sobre a crescente perda de confiança na informação produzida na internet estão a emergência do debate em cima das Fake News. Segundo a professora, a análise há duas vertentes para análise deste fenômeno: um conceito de Fake News mais “fechado” e um mais “alargado”. De acordo com Patrícia, uma abordagem mais fechada identifica aquelas notícias produzidas de forma mais detalhada, que utilizam o nome e a imagem de empresas jornalísticas de confiança para convencer o leitor. No oposto, o tratamento abrangente distingue os boatos disseminados via WhatsApp.

- Quem é jornalista olha aquilo e já identifica uma escrita que não é da profissão. Mas para as pessoas sem esse conhecimento, as notícias passam batidas. Então, de repente acontecem coisas que as pessoas descobrem e que põem em dúvida a confiabilidade no Facebook e no Google. Claro que eles têm usuários de sobra, mas começou uma queda que o Facebook não se recuperou totalmente até hoje, porque não conseguiu convencer nem o mercado nem os governos. E já existe uma reação. O Google e o YouTube, por exemplo, disseram que ajustaram os algoritmos das ferramentas de busca para privilegiar conteúdos de fontes confiáveis.

Patrícia Maurício chamou atenção para a concentração da internet nas mãos de poucas empresas. Foto: Amanda Dutra

Os efeitos da queda no consumo de notícias em formatos tradicionais, na análise de Patrícia, foram providenciais para uma reação das empresas de jornalismo já consagradas, como o The New York Times (TNYT). Segundo a professora, houve demissões em massa nas redações, estagiários que são utilizados para fazer reportagens de porte profissional e queda na qualidade do conteúdo. De acordo com a professora, em 2014, vazou um relatório do New York Times com alternativas para driblar as dificuldades de um mercado em constante transformação. A professora contou que a partir deste relatório as redações começaram a dar prioridade ao conteúdo on-line.

- Em maio de 2015, o New York Times conseguiu no Facebook 16,3 milhões de engajamentos, entre curtidas, compartilhamentos e comentários, mais que o dobro do mesmo mês de 2014. Eles conseguiram 1 milhão de assinaturas digitais, só que estacionou. Mas o New York Times é um jornal mundialmente lido, eles venderam as assinaturas no mundo inteiro, diferente de um jornal brasileiro, de língua portuguesa, de menos alcance.

 

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