Vozes do Cárcere: Ecos da resistência política é o nome do livro lançado na quinta-feira, 26, no auditório B6. A obra é resultado da pesquisa do projeto Cartas do Cárcere, realizada pelo Núcleo Interdisciplinar de Reflexão e Memória Afrodescendente da PUC-Rio (Nirema), que durante um ano analisou cartas de presidiários enviadas à Ouvidoria Nacional dos Serviços Penais do Departamento Penitenciário Nacional (ONSP/DEPEN) no ano de 2016. O trabalho foi financiado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).
A abertura do encontro foi feita pelo Vice-Reitor da PUC, padre Álvaro Pimentel, pelo professor Francisco de Guimaraens, do Departamento de Direto, e pela ouvidora Maria Gabriela Peixoto, da ONSP/DEPEN. Participaram também a professora Thula Pires, do Departamento de Direto PUC-Rio e uma das organizadoras do livro; os professores Ana Luiza Flauzina (UFBA), Geraldo Prado (UFRJ), Luciana Boiteux (UFRJ); e demais integrantes do projeto, que compartilharam as experiências vivenciadas ao longo da pesquisa.
Padre Álvaro afirmou que os valores fundamentais e humanistas apresentados no livro inspiram a Universidade. Segundo ele, o combate à violência é um fator fundamental para a sobrevivência humana. O Vice-Reitor alegou que o livro expõe não só a violência presenciada nos presídios, mas na sociedade como um todo. Ele ainda reiterou que Vozes do Cárcere: Ecos da resistência política também mostra a “preguiça social” das pessoas, isto é, a falta de ação diante da realidade violenta.
- A realidade, quando analisada de maneira mais aproximada, revela conjunturas que o nosso modo habitual de nos expressar, nossas categorias habituais, não são capazes de traduzir. A categoria de bandido esconde uma série de situações não consideradas que são as dinâmicas causadoras dos cenários de violência em que nós vivemos.
Para o professor Francisco de Guimaraens, a violência, que gera o sofrimento humano, deve ser enfrentada com o amor. Ele afirmou que a alegria e a luta da sociedade devem ser construídas por meio do entendimento da tristeza. Francisco disse também que uma universidade tenta buscar todas as “vozes” de uma situação, isto é, procura as mais diversas perspectivas para construir uma análise, uma verdade, assim como eles procuraram fazer no livro.
- A construção dos laços de amor, de fraternidade, de sororidade e de todo tipo de solidariedade, que a amizade representa, só é possível mediante o conhecimento de todo tipo de realidade e de voz. São essas vozes que nos dizem aquilo que é efetivamente a realidade. Se de um lado essas notícias que o livro nos traz nos causam tristeza, é só a compreensão dessa tristeza que nos permitirá nos alegrar no futuro. Assim, se construirá adequadamente mecanismos para neutralizar e combater esse tipo de tristeza, uma das mais brutais que existem em nossa sociedade.
Maria Gabriela explicou que o projeto surgiu da ideia de dar “voz” aos relatos das pessoas envolvidas no sistema presidiário que chegam à Ouvidoria do DEPEN. Segundo ela, o grande volume de cartas que recebem causa uma angustia nos funcionários, que não conseguem atender todas as demandas das cartas. Para a ouvidora, o projeto tornará público os problemas dentro dos presídios e instigará um debate para a resolução das questões.
- Para nós, da Ouvidoria, era importante que, a partir dessas cartas, pensássemos algum mecanismo de transparência dessas informações e dessas histórias. Assim surgiu a ideia de fazer uma campanha publicitaria para pensar “o que é o cárcere?” e “o que as pessoas dentro dele estão pensando?”.
A professora Thula Pires afirmou que os estudiosos do sistema prisional não compartilham ou conhecem a realidade dos presídios. Segundo ela, a proposta do projeto era analisar as cartas e tratá-las com o devido respeito, ou seja, contar as histórias das pessoas envolvidas e não apenas fazer análises distantes, como geralmente ocorre. Conforme disse Thula, os pesquisadores do projeto compartilharam no livro as reflexões feitas a partir da observação das cartas, sem o objetivo de abordar a realidade prisional didaticamente.
- Falamos a partir dessas cartas, porque foram elas que direcionaram todo o trabalho de pesquisa desde o início: na discussão de como seria feito a leitura das cartas; na escolha dos eixos pelos quais iriamos centralizar; e na construção da campanha.