A cena do crime na PUC-Rio
24/03/2023 16:50
Angelo Ye e Bernardo Brigagão

Workshop de ciência forense gera discussões sobre o assunto e a importância da tecnologia para a área

Perícia criminal. Foto: Reprodução

A ciência forense é a área do conhecimento que combina metodologias científicas e técnicas aplicadas para solucionar crimes e outros assuntos legais. Como é uma prática complexa, os cientistas forenses utilizam as formações que vêm desde a Medicina ao Direito para contribuir na busca pela justiça. A função do cientista forense ou perito criminal é analisar vestígios que foram deixados no local onde um crime foi cometido e buscar soluções pelo conhecimento de um profissional especializado. 

Diante deste cenário, a  PUC-Rio realizou no dia 15 de março o I Workshop de Ciências Forenses. Segundo os organizadores do encontro, o objetivo era identificar interessados na área, pois a Universidade, baseada na identificação de uma demanda, considera a implementação de um curso de graduação neste campo. Além de professores de diferentes departamentos e profissionais ligados à justiça, participaram das atividades peritos criminais da Polícia Cívil do Rio de Janeiro.

Entre os diversos palestrantes presentes, a mais aguardada era a diretora do Programa de Ciência Forense da Universidade George Mason, Estados Unidos, Mary Ellen O'Toole. Antes do atual cargo, O'Toole atuou por aproximadamente 30 anos como agente e perfiladora criminal (criminal profiler) do FBI, profissional responsável por mapear comportamentos de criminosos com o objetivo de investigar atos ilícitos, principalmente assassinatos.

Ao longo da carreira como investigadora, a americana se deparou com diversos casos emblemáticos, como o massacre de Columbine, ocorrido na Columbine High School, no estado do Colorado, em abril de 1999. Na ocasião, dois alunos da escola abriram fogo contra colegas e professores, mataram 12 e feriram  21 pessoas. A ex-agente também ajudou nas investigações do maior ataque da história dos Estados Unidos, quando um atirador de 64 anos matou 60 e feriu mais de 400 pessoas depois de disparar centenas de tiros do alto de um hotel, em Las Vegas.

No início de sua apresentação, a perfiladora observou como a junção de diversos campos do conhecimento são essenciais para a ciência forense quando se trata da análise de cenas de crime. Ela também destacou o trabalho que vêm sendo feito com os estudantes da Mason University, no qual eles são ensinados a olhar além das evidências físicas e se deter também na conduta de autores de crimes.

–  No FBI, eu aprendi o quão importante era juntar todas as ciências forenses quando você está tentando entender uma cena de crime e as motivações. Você tem que entender por que as evidências físicas foram deixadas no local e quais evidências são essas. No nosso programa, temos essa habilidade devido à expertise de nossa faculdade em treinar nossos estudantes a olhar uma cena de crime de toda perspectiva. Assim,  eles podem entender não só as evidências físicas, mas também o comportamento dos criminosos - disse. 

Durante a explanação, a perfiladora também comentou sobre os cursos de graduação e mestrado do programa e chamou atenção para o fato de a maioria dos alunos pertencerem ao público feminino. Ainda em relação aos cursos, ela forneceu mais detalhes sobre a atuação dos profissionais da área no mercado de trabalho, as análises de provas e sobre os cursos oferecidos.

– Eu descobri que 85% dos nossos estudantes de Ciência Forense são mulheres e isto é muito consistente. Nos Estados Unidos, temos muitas séries de TV que tratam do assunto e a maior parte da audiência é constituída de mulheres. As mulheres, em particular, são muito interessadas na resolução de crimes. Os nossos alunos podem focar na investigação de uma cena de crime, e isto significa que quando eles se formarem, querem ir para o local do crime com detetives e processar a cena. Eles querem coletar evidências, guardar e levá-las para o laboratório onde estas evidências são analisadas por um especialista.

A diretora do Programa de Ciências Forenses de George Mason ainda falou sobre a utilização de novas ferramentas aplicadas ao campo forense. Uma delas é um scanner 3D capaz de vasculhar toda a cena de crime de forma automatizada. Segundo ela, a ferramenta já vem sendo utilizada por muitas agências americanas ligadas à justiça.

– Temos outra iniciativa que é relativamente nova. Ela é chamada de Pharaoh Laboratory. Pharaoh é uma empresa que vende scanners 3D que podem ser usados para medir cenas de crime e é um dos muitos sistemas que agências americanas, como o FBI, usam quando precisam analisar uma cena de assassinato. Por exemplo: qual era o tamanho do quarto? E da cozinha? O quão grande a própria casa era quando o assassinato ocorreu? É fantástico como estes scanners podem ser usados na ciência forense -  pontuou.

Auditório do IAG durante palestra de Mary Ellen O’Toole. Foto: Kathleen Chelles

 O Vice-Decano de Desenvolvimento do Centro Técnico Científico (CTC) e professor José Marcus Godoy, do Departamento de Química da PUC-Rio, organizou o workshop que pretende abrir caminhos para a criação de uma graduação em Ciências Forenses na Universidade. José Marcus comentou sobre a ideia do curso e seu caráter interdisciplinar.

– A gente tinha um sentimento de que existiria o mercado para um curso de Ciências Forenses no estado do Rio de Janeiro. Este é um sentimento que tínhamos, mas, para sair do sentimento e passar para a realidade, achamos  importante fazer um evento como este para sentir a adesão. Vai ser o primeiro curso que vai envolver os quatro centros da PUC. Acho que isso é algo bastante importante.

Mesa-redonda: “Perspectivas sobre Educação em Ciências Forense na PUC-Rio”. Foto: Bernardo Brigagão

  Perito criminal da Polícia Civil do Rio de Janeiro, Alexandre Giovanelli, de 49 anos, foi um dos profissionais de segurança pública que participou das discussões.  Ele participou do workshop para debater as questões sobre ciência forense, sob o olhar de um perito. Giovanelli falou sobre as diferenças entre cientista forense e perito, além de dizer o porquê, na sua opinião, a ciência forense não tem tanto prestígio no Brasil.

– O cientista forense é o profissional que vai trabalhar tentando responder demandas judiciais com a análise de vestígios e utilizando uma metodologia científica. O perito é um especialista, alguém que conhece muito de alguma coisa. O cientista forense é um perito, mas um perito não necessariamente é um cientista forense. A ciência não responde à altura o problema da criminalidade, porque o próprio sistema judiciário no qual a polícia está inserida é altamente discriminatório. É uma prática inquisitorial.

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