Dos dias 21 a 24 de novembro, o Departamento de Psicologia da PUC-Rio comemorou os 70 anos de inovação e pioneirismo. Na abertura, os convidados celebraram a história e o papel do curso para a psicologia brasileira. A palestra foi mediada pela diretora Luciana Pessoa, que recebeu o Reitor da Universidade, Padre Anderson Antonio Pedroso, S.J. Estavam presentes também a Vice-Reitora Acadêmica, Marley Vellasco, a professora Terezinha Féres-Carneiro e a coordenadora Setorial do Centro de Teologia e Ciências Humanas (CTCH), Silvana Mesquita.
Padre Anderson falou sobre a importância do Padre Antonius Benkö S.J., psicólogo, teólogo e um dos fundadores do Departamento de Psicologia. Reconhecido como um dos construtores da PUC-Rio, Padre Benkö também fundou o Departamento de Teologia e o Centro de Orientação Psico-Pedagógica, que deu origem ao Serviço de Psicologia Aplicada (SPA) ativo até hoje.
— Tenho que destacar a importância de fazer memória do que o departamento significa para a PUC-Rio. Por exemplo, personalidades como Padre Benkö que abriu caminhos para a Universidade. O que traz vida e inovação é olhar para cima e para frente. É anunciar novos horizontes. O papel da Universidade é sempre estar um pouquinho à frente para guiar novos caminhos.
A diretora Luciana Pessoa agradeceu o discurso do Reitor e apontou a essencial colaboração da PUC-Rio. Segundo ela, a Universidade tem um espaço de escuta que proporciona o sucesso e incentiva as conquistas dos departamentos. Silvana Mesquita, que representou o decano do CTCH, Júlio Diniz, realçou a importância da psicologia nos dias de hoje como um saber que perpassa os direitos humanos, a saúde mental e a humanidade.
A professora Terezinha Féres-Carneiro abriu a programação com a conferência “Departamento de Psicologia da PUC-Rio: 70 anos de pioneirismo e excelência na formação e na pesquisa”. Ela destacou com orgulho que a Universidade foi a primeira do país a oferecer um curso de formação de psicólogos, em 1963, e de Mestrado em Psicologia, em 1966. A educadora também celebrou o papel do Padre Benkö na regulamentação da formação e da profissão no Brasil, em 1962.
Terezinha parabenizou os professores, ex-diretores e coordenadores que promoveram os últimos anos de mérito da psicologia na PUC-Rio e mencionou notas altas no Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade) e na Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Por fim, ela comentou a implementação de novas atividades extensionistas e a disponibilização de disciplinas que visam ao interesse social, como o debate racial e de gênero.
— Foram 70 anos da tarefa de produzir conhecimento e formar psicólogos e neurologistas, de mestrado e doutorado, com excelência. E eu, em 55 anos dessa história, vivi todos os cargos administrativos da Psicologia. É com muita emoção que presto uma merecida homenagem e parabenizo os profissionais que passaram pelo nosso departamento. Em especial os mestres, muitos já falecidos, mas pessoas únicas e grandes nomes que nos ensinaram a ousar e inovar. Um legado que devemos passar aos nossos alunos sempre.
As outras palestras da semana abordaram diferentes linhas de estudo da psicologia como a clínica da malhagem do laço, a competência emocional na infância, a psicopatologia dimensional, a psicologia de casal e famílias e as coalizões epistêmicas da psicanálise. Em um dos painéis foi debatida a integração entre a psicologia e as neurociências.
“Ferenczi: a arte da psicanálise”
Para encerrar a comemoração, no dia 24 de novembro, foi lançado o livro “Ferenczi: a arte da psicanálise” organizado por membros do Grupo Brasileiro de Pesquisa Sándor Ferenczi (GBPSF). Em uma roda de conversa, os autores e professores da PUC-Rio, Renata Mello, Daniela Romão e Auterives Maciel debateram a obra e a relevância dos estudos do psicanalista.
O livro surgiu a partir do podcast, com o mesmo nome, durante a pandemia da Covid 19. Os estudiosos convidados exploraram e comentaram, a cada episódio, um texto de Ferenczi que está em um processo de difusão nas últimas décadas. A professora Daniela Romão explicou como o escritor húngaro tratou de casos difíceis e atendeu àqueles que outros profissionais se recusaram. Com pacientes que sofriam de conflitos psíquicos, neurose, da compulsão à psicose, ele contribuiu em diversos aspectos da técnica e da teoria psicanalítica.
Segundo Daniela, o crescimento do interesse no trabalho de Ferenczi, principalmente nos anos 1990 e 2000, teve origem na teoria do trauma. Essa linha de pensamento revela a forma como o ambiente influencia o comportamento das pessoas. No Brasil, ela destaca que o psicanalista entrou em evidência ao mostrar as questões de silenciamento e contestação na vida de oprimidos socialmente.
O autor Auterives Maciel detalhou alguns conceitos de Ferenczi, como o afeto e o acolhimento. Ele frisou como o intelectual o levou a pensar na importância de olhar o papel do psicanalista não como sábio, mas como aprendiz.
— A solidão na qual nos encontramos hoje talvez tenha origem na falta de afeto na humanidade. Acho que é assim que o conceito se encaixa no Brasil, uma dimensão afetiva em que o outro seja acolhido sem restrições narcisísticas.