O dia a dia nas salas de aula da PUC-Rio foi tema da discussão do III Seminário de Práticas Inovadoras no Ensino Superior, realizado na segunda-feira, 27, no Auditório do IAG. Com a presença de professores de diversos departamentos da Universidade, o questionamento “ainda faz sentido o que fazemos?” deu norte ao encontro, que promoveu uma mesa de debate formada pela diretora e por professoras do Departamento de Artes & Design.
O professor Edgar de Brito Lyra Netto, do Departamento de Filosofia, relembrou a segunda edição do seminário, na qual abordou fatores contextuais e as iniciativas em curso na PUC-Rio. Em relação à questão central do encontro, ele afirmou que faz sentido investir no que já é feito na Universidade. Para o professor, as tecnologias por si só não resolvem questões que surgem, é preciso analisar a relação entre os professores, a instituição, os alunos e a tecnologia. De acordo com Netto, o grande desafio hoje não é trazer a tecnologia para a sala de aula, mas comprometer os professores com a nova realidade.
– Hoje temos o caso do Google e da Apple que estão dispensando diplomas. Isso faz parte dessa recontextualização, a ideia da universidade coorporativa. É algo que faz nos faz pensar. Se não é para ter o diploma, o que levaria o aluno a pagar uma universidade seria um tipo de aquisição de competências que lhes permitisse lidar com vantagens no mundo VUCA, esse ambiente em que tudo acontece velozmente, mas não entendemos exatamente o que está acontecendo.
A Coordenadora Central de Graduação, professora Daniela Trejos Vargas, destacou que os professores exercem um papel que há 20 anos não exerciam, como a necessidade de ter que lidar com alunos que estão em crises pessoais. Ela também defendeu a necessidade de se compilar exemplos internos e, dessa forma, provocar uma inspiração mútua. Para Daniela, é importante trazer exemplos que possam ser inspiradores para outras estruturas de ensino e pensar em reformas curriculares.
– Acho que o papel da Coordenação Central de Graduação e da Vice-Reitoria Acadêmica nesse ponto é desamarrar os currículos, apoiar as iniciativas de currículos inovadores, dar suporte olhando as regras do MEC e as diretrizes curriculares. A questão é como podemos ser inovadores dentro das regras. No fundo, estamos sendo muito tímidos. Nós poderíamos criar e fazer mais.
Nesta edição do seminário, a Coordenadora Central de Educação a Distância, professora Gilda Helena Bernardino de Campos, resgatou a questão da contextualização e da informação que é apreendida pelo aluno. Com a chegada dessas tecnologias, que não são apenas as digitais, Gilda tem percebido um desejo de se inverter o que é a sala de aula tradicional. Para ela, a discussão gira em torno dos novos caminhos para a aprendizagem. A professora apresentou o cenário do ensino hibrido, que trabalha a sala de aula física e o ensino on-line, como uma forma de congregar diferentes métodos.
– A sala de aula é como um espaço de resolução de problemas, com suporte e apoio ao ambiente de aprendizagem on-line. Temos os modelos de rotação, nos quais as pessoas levam o próprio equipamento para a sala de aula, e você pode também ter laboratórios com atividades rotacionais. Na sala de aula invertida, o aluno lê o material antes, reflete sobre, e vai ter acesso àquilo que o professor mais sabe fazer, que é dar orientação, debater em sala o conteúdo. Na rotação individual, nós podemos dar o feedback ao aluno individualmente.
Gilda também apresentou o modelo flex, no qual existe uma lista a ser cumprida com ênfase na aprendizagem on-line, o modelo à la carte, no qual o estudante é responsável pela organização do próprio estudo, e o modelo virtual aprimorado, que é realizado pela escola como um todo. Para a coordenadora, a ideia central é o aluno ativo e autor da própria aprendizagem.
O caso do Design
Para discutir as inovações e o uso da tecnologia no curso de Artes & Design, estiveram presentes a Diretora do Departamento de Artes & Design, professora Jackeline Farbiarz, a Coordenadora Adjunta da Graduação, professora Roberta Portas, e a supervisora da disciplina Projeto Básico – Contexto/Conceito, professora Renata Mattos.
A diretora do departamento afirmou que o curso apresenta uma formação para manter determinado estado de coisas, que são as competências básicas que o aluno precisa ter, e um lugar para o aluno dentro da nova realidade. Jackeline destacou o quanto a palavra design dialoga com o mercado e um novo conceito de indústria, mais atualizado e sustentável. Ela ressaltou que são muitos os lugares que os professores precisam ocupar e trabalhar no sentido de desenvolver e de estar com o aluno.
– Nós sempre falamos que trabalhamos em um misto. Projetamos porque o centro do nosso curso é o projeto, então existe uma metodologia do projetar. Mas existem também metodologias de ensinar a projetar.
Falar sobre a palavra design, de acordo com a professora Roberta Portas, significa falar de um objeto, que é resultado de um processo, e do processo de desenvolvimento, que é o projeto. Para Roberta, a questão da tecnologia está muito presente no curso, seja como meio, no momento em que se trabalha com ela nas aulas, ou como um fim, em relação ao que ela produz. Segundo a professora, uma questão importante para os alunos é pensar que eles projetam para questões reais da sociedade.
– Nós priorizamos o design social. Quando falamos nisso, consideramos que o objeto que está sendo produzido é uma interseção entre essa relação do designer e do grupo social, desse indivíduo para quem ele está projetando. Mais do que para quem, é com quem. Ele projeta com essa pessoa e para essa pessoa. O aluno está sempre em contato com o contexto, com a situação para projetar.
A professora Renata Mattos comentou sobre a primeira disciplina de projeto do curso, aplicada no primeiro semestre, chamada Projeto Básico – Contexto/Conceito. De acordo com ela, os professores propõem aos alunos que saiam da Universidade e escolham o espaço em que vão desenvolver o projeto. Para ela, o design é um encontro, e os processos são baseados nesse encontro.
– Depois da etapa da escolha da pessoa e do lugar em que vão trabalhar, passamos para uma etapa de convivência, de observação e de envolvimento. Em seguida, vamos para uma identificação, a partir da convivência e da relação, de um objetivo. Quando identificamos esse objetivo, passamos a desenvolver experimentos que vão ser uma troca. Então temos a entrega do objeto para a pessoa com quem o aluno está trabalhando e uma observação do mesmo. O tempo inteiro é um diálogo.