A população argentina está na corrida para a escolha de seu próximo presidente. Na disputa pelo cargo mais importante do Poder Executivo estão o atual ministro da Economia, Sergio Massa, filiado ao partido Unión por la Pátria, e Javier Milei, deputado do partido A Liberdade Avança. A competição pelo lugar na Casa Rosada se mostra cada vez mais acirrada em um país que na última semana atingiu 142,7% de inflação anual. Para discutir os cenários futuros da nação vizinha, professores da PUC-Rio organizaram um encontro no dia 14 de novembro a fim de analisar as incertezas e perspectivas das eleições na Argentina, que decidirão o próximo líder no domingo, dia 19 de novembro.
Para analisar a ascensão de Milei - candidato libertário da extrema direita - nas pesquisas de intenção de voto até se tornar o segundo mais votado no primeiro turno, o professor José María Gómez, do Departamento de Direito da PUC-Rio, e Graciela Rodriguez, do Instituto Equit, conversaram sobre o atual cenário político da Argentina. Marcado pela elevada inflação e desvalorização da moeda, o panorama atual traz uma sensação de incerteza, o que deu espaço a candidatos com ideais mais radicais, segundo os palestrantes. O debate foi mediado pela professora Maria Elena Rodriguez, do Instituto de Relações Internacionais da PUC-Rio, que analisou as mudanças que podem ocorrer na política do país. De acordo com as pesquisas feitas durante o primeiro turno, Javier Milei era o favorito, entretanto, Sergio Massa alcançou a maior quantidade de votos nas urnas.
O professor Arthur Ituassu, do Departamento de Comunicação da PUC-Rio, possui pesquisas sobre o impacto da comunicação política nas eleições de países latino-americanos. Para ele, a presença de Milei nas redes sociais foi um fator que aumentou a popularidade do candidato.
– A comunicação, hoje, é o centro da campanha, tanto do ponto de vista digital quanto da imprensa no geral. A mídia de broadcasting tenta captar um público amplo, e os debates seguem essa linha. É preciso entender que agora o candidato fala para todos os tipos de público, para além do seu eleitorado. Se ele utiliza um discurso radical, algumas pessoas não vão gostar, mas se ele se apresenta mais moderado, seu público pode não gostar. Nesse momento, existe um dilema de comunicação, pois radicalizando ou não, há o risco de perder votos.
De um lado, o candidato de centro-esquerda Sergio Massa está à frente da gestão econômica de uma das maiores inflações da América Latina. Do outro, Javier Milei, defende o fechamento do Banco Central e a dolarização da moeda local para o enfrentamento da grave crise. Segundo os docentes e a socióloga presentes no debate, a vitória de Massa no primeiro turno foi surpreendente, mas a ascensão de Milei deve ser levada em questão na hora de observar o possível resultado. O professor José María Gómez analisa que, apesar de ter surpreendido no primeiro turno, a disputa eleitoral mostra que provavelmente o resultado terá uma diferença pequena.
– Existem movimentos dos dois lados que giram em torno de chamar aquele setor de votantes, os indecisos, que geralmente se decidem apenas nos últimos dias, pois as pesquisas de intenção de voto estão mostrando quase uma paridade. O discurso radical de Javier Milei resultou no primeiro lugar de Sergio Massa no primeiro turno, mesmo lidando com uma grave inflação. Ele teria tudo para perder, mas a estratégia de Massa ganha porque há um setor da população que apesar de não ser favorável a ele e seu partido, deseja votar contra o triunfo de Milei.
Os eleitores argentinos vão decidir o sucessor do atual presidente, Alberto Fernández, em uma das disputas eleitorais mais emblemáticas dos últimos anos.