Os brasileiros abriram não só o coração para a Olimpíada Rio2016, mas as casas também. Para facilitar a busca de hospedagem para voluntários dos jogos, o Comitê Olímpico criou a plataforma Meu Lugar no Rio. Como na Jornada Mundial da Juventude (JMJ), o objetivo foi instalar uma rede colaborativa em que voluntários abram as portas para receber outros voluntários, com ou sem ajuda de custo. Para se registrar no sistema, basta o anfitrião morar na região metropolitana do Rio de Janeiro e estar disposto a receber um voluntário que já tenha passado por todas as etapas do Programa de Voluntário Rio 2016.
O site oficial foi criado para facilitar o primeiro contato entre o anfitrião e voluntário, com o objetivo de negociarem a hospedagem durante o período dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos. A gerente geral do Programa de Voluntários 2016, Flávia Fontes, afirma que essa é uma oportunidade de fazer novas amizades e de trazer os jogos para dentro de casa.
- Os voluntários vão se misturar aos 14.850 atletas de 206 países e mais de 32 mil jornalistas. O mundo inteiro estará no Rio, e nada melhor que os moradores da cidade colaborem recebendo os voluntários, mostrando toda a receptividade dos cariocas.
Por ser carioca e voluntário, o publicitário Anderson Soares, 24 anos, teve a iniciativa de procurar um lugar que servisse de alojamento após ver que alguns os voluntários não conseguiriam pagar diárias que estavam entre R$ 300 e R$ 1 mil. Depois de ligar para 15 escolas próximas ao Parque Olímpico, na Barra, ele conseguiu negociar a estadia de aproximadamente cem pessoas durante as Olimpíadas no Centro Educacional Fernandes Marques, em Curicica. O preço pelo aluguel do local e manutenção das instalações ficou por R$ 40 a diária, por pessoa. O colégio fica a 160 metros da Estação de BRT Arroio Pavuna e a apenas 11 minutos, de ônibus, do Parque Olímpico.
Apaixonado por esportes, Anderson Carioca, como é conhecido, desistiu do voluntariado por causa da necessidade de liderança para designar tarefas e arrecadar o valor da diária. Ele se tornou responsável pela organização da escola durante o período de estadia desses voluntários e conta que há quatro meses largou o emprego como produtor cultural para se dedicar à organização do alojamento.
- Deixo de ser a pessoa que atua diretamente como voluntário nas Olimpíadas, mas de alguma forma estou possibilitando que quase cem pessoas estejam participando. Para mim, se tornou uma experiência única em que posso conhecer culturas diferentes já que aqui tem pessoas 13 países e 15 estados diferentes.
O publicitário conta que os voluntários começaram a interagir há dois anos, quando começaram as inscrições para o Programa de Voluntário Rio 2016. Desde então, as pessoas começaram a conversar por grupos no Facebook e WhatsApp. Soares também conta que 30% das vagas foram preenchidas pelas redes sociais e o restante delas foram graças à plataforma digital Meu Lugar no Rio, que garantiu maior credibilidade por ser um site oficial criado pelo Comitê Olímpico.
O assessor político Bruno Gomes, 37 anos, veio de Taboão da Serra, São Paulo. Gomes trabalha na arena de basquete do Parque Olímpico da Barra, onde controla o acesso dos torcedores, indica assentos e atende cadeirantes. Pela primeira vez no Rio, ele conta que tem gostado da experiência de conviver no Alojamento Carioca com pessoas solidárias.
- Ficamos curiosos para que chegasse logo o dia em que íamos conhecer as pessoas do alojamento, já que estávamos interagindo pela internet antes mesmo de nos encontrarmos. O povo está sendo bacana, todo mundo se ajuda e se respeita, já que as pessoas têm turnos diferentes e alguns precisam dormir mais cedo. O pessoal tem sido bem compreensivo com o horário de cada um e tenta não fazer barulho tanto dentro dos quartos quanto no pátio.
A colombiana Jenifer Martinez, 29 anos, é professora de educação física e veio em busca não só de uma experiência pessoal, mas profissional também. Para ela, participar da Olimpíada é uma grande oportunidade, além de conhecer pessoas de todo o mundo e ajudá-las. Jenifer também trabalha no Parque Olímpico, onde ajuda os torcedores a entrar com os ingressos. Durante os dias de folga, ela conta que os voluntários se reúnem com outras pessoas do alojamento para fazer festas, assistir aos jogos com os ingressos que ganham e conhecer pontos turísticos e as casas dos países.
Antes do recesso escolar, as crianças que estudam na escola deixaram cartas para os voluntários e enfeitaram o local com painéis das modalidades olímpicas. Além disso, o coordenador Anderson Soares fez um amigo oculto para cada um trazer algo do lugar de origem, com o objetivo de aproximar as pessoas. Outra febre que tem movimentado os hóspedes da escola é a troca de pins, diferentes broches trazidos pelos colecionares, torcedores e atletas, que tomam conta dos crachás dos voluntários.
O fisioterapeuta Carlos Otávio, 52 anos, mora em Copacabana e resolveu abrir as portas de casa para dois voluntários gratuitamente, na expectativa de conhecer pessoas diferentes e ao notar a dificuldade dos voluntários em pagar o alto preço de aluguéis. Como voluntário, ele cuida de um canal de rádio na Marina da Glória e repassa as informações para os canais de comunicação que atuam no local. Para Carlos, receber o evento em seu país é uma experiência maravilhosa, além de curtir muito o clima olímpico que fica na cidade.
- As pessoas nos olham de forma diferente quando estamos com a roupa de voluntários. Há uma certa admiração e pessoas de várias nacionalidades nos pedem informação. A alegria das pessoas é surpreendente, eu entro no metrô e vejo as pessoas unidas e alegres indo ver os jogos, parece um carnaval.
Um dos hóspedes de Carlos é o fisioterapeuta argentino Brian Bürger, 29 anos. Bürger conta que também trabalhou na Copa do Mundo em 2014. Para ele, ser voluntário não é uma perda de tempo.
- A experiência é muito boa e você pode desenvolver muitas capacidades profissionais e como voluntário tem uma experiência multicultural em um evento esportivo desse porte. Você pode experimentar como é todo o trabalho que existe por trás dos grandes eventos esportivos.
Bürger trabalha no Complexo Esportivo de Deodoro e é responsável por levar um dos atletas da primeira à quarta colocação para fazer o exame de controle de doping. Para o argentino, o melhor dessa tarefa é ser a primeira pessoa a entrar em contato com atletas depois do momento de euforia da premiação e poder ver de perto as medalhas.
Morador de Córdova, Argentina, Bürger explica que os argentinos também têm o costume de receber as pessoas em casa. Ano passado, ele acolheu 15 pessoas de diferentes nacionalidades. Quanto à hospedagem na casa de Carlos Otávio, ele diz que prefere ficar na casa das pessoas porque, assim, tem a oportunidade de experimentar outras culturas de uma forma que não seria possível no hotel.