Chefe de produção do SporTV, Jorge Luiz Rodrigues encarou recentemente um dos maiores desafios dos 30 anos de jornalismo esportivo: coordenar a cobertura da Rio 2016 distribuída por nada menos do que 16 canais na TV e 56 na internet. Parte dos bastidores desta aventura diária foi compartilhada com alunos de Comunicação da PUC-Rio na quinta-feira passada, quando ele e o gerente geral de Esportes do Sistema Globo de Rádio (SGR), Robinson Vasconcelos, debateram os rumos da área diante do avanço das plataformas digitais (veja a íntegra na videoteca da página do Departamento de Comunicação). Na mesa-redonda mediada pelo também jornalista Alexandre Carauta, professor de Jornalismo Esportivo, Jorge Luiz ressaltou a importância de conjugar novos domínios tecnológicos com habilidades clássicas, como cultivar boas fontes de informação. Em rápida conversa com o Jornal da PUC, depois do debate, ele ressaltou também a necessidade de ajustar competências e formatos a mudanças nos padrões de consumo da mídia esportiva:
Jornal da PUC – Como as novas demandas associadas ao consumo de informações, hoje concentrado em plataformas digitais, se refletem na cobertura esportiva?
Jorge Luiz: A cobertura da Olimpíada pelo SporTV, com 16 canais na TV e 56 na web, é resultado das demandas de um público que quer saber de tudo e estar em todos os lugares. Hoje, as transformações tecnológicas, que levavam anos para serem concretizadas quando eu comecei no jornalismo, acontecem em semanas. É preciso, portanto, estar sempre antenado, atualizado, e aberto a mudanças. No caso de um conglomerado de comunicação como a Globosat, o grande desafio é integrar todos os empregados e setores, que devem conhecer o trabalho um dos outros e ficar atentos às mudanças. Graças a esse esforço de cobertura, conhecemos melhor novos públicos e novos públicos nos conheceram.
Que competências são exigidas por esta nova dinâmica da cobertura esportiva?
Não há segredo. O esforço em se manter atualizado e entender quais mudanças as guinadas tecnológicas acarretam na cobertura esportiva parte de cada um. Eu estudo, compareço a conferências sobre esses assuntos. Pensar na frente é fundamental. Como jornalista, não me dou ao luxo de ser pego de surpresa. Tento sempre pensar à frente. Lá no SporTV, já estamos pensando o que faremos na Copa de 2018.
Como a integração digital pode ajudar a diversificação da produção jornalística?
A ideia é interagir cada vez mais, saber o que o espectador pensa. Nós direcionamos as pautas e coberturas de acordo com os resultados das enquetes que fazemos ao longo de um dia de transmissão.
Nesta lógica comercial, um dos desafios das produções associadas a esporte é atrair não só os espectadores tradicionais, mas conquistar novos públicos, o que exige, entre outras competências, uma abertura à inovação de conteúdos e formatos. A interatividade tem ajudado? Como ser original num cenário em que a informação está em toda a parte?
É preciso pensar em coisas diferentes. Por exemplo, num dia de competições de atletismo nos Jogos Olímpicos, o Usain Bolt passou por todos (os repórteres) e chegou à posição 43 na zona mista, a segunda do SporTV, onde estava posicionado um de nossos repórteres. O atleta já havia passado por vários jornalistas e respondido perguntas diversas, ou seja, a chance de conseguir algo novo era mínima. Mas na entrevista, ele cantou uma música do Bob Marley, e foi um sucesso. O New York Times elegeu esse um dos melhores momentos dos Jogos.
Um dos idealizadores do novo Cartola F.C. – lançado neste ano, com recorde de 4 milhões de escalações na 14ªrodada do Campeonato Brasileiro –, o jornalista Robinson Vasconcelos deixou o Globoesporte.com, há cerca de seis meses, para assumir a gerência nacional de Esportes do Sistema Globo de Rádio (SGR). Na prática, ele comanda o meio-campo da produção esportiva para plataformas de mídia integradas, em especial o rádio e a web. No debate sobre os rumos da cobertura esportiva na era digital, ele adiantou que pretende avançar na integração também com a TV. Em conversa com o Jornal da PUC, Robinson destaca a necessidade de reinventar o conceito de rádio no Brasil:
Jornal da PUC: Pesquisas apontam que o público do rádio é mais antigo, na faixa dos 50, 60 anos. De que maneira a cobertura esportiva do Sistema Globo de Rádio pretende conquistar as novas gerações?
Robinson: Com investimento no digital. O foco do online são os jovens. Fazemos lives no Facebook para aproximar este público do rádio. Para os produtores de conteúdo, o grande desafio é cativar um público cada vez mais cercado de elementos dispersivos. Lives no Face são um exemplo dessa tentativa, e têm dado certo. Estamos também começando a pensar em produtos digitais, como podcasts, disponíveis sob demanda.
O podcast, formato de áudio já consolidado entre os americanos, ilustra esse cenário de comunicação interativa e horizontal. Bem-sucedido em vários países, por que ainda não se firmou no Brasil? Busca-se, talvez, um modelo de negócios ideal?
A gente não está pensando rádio, está pensando áudio, e o podcast representa bem esse novo conceito de áudio. Nos Estados Unidos, já é um conceito amadurecido, mas no Brasil ainda estamos caminhando para uma segunda onda, que vem forte. Acredito que seja uma questão de tempo o formato pegar por aqui. Para lucrar com podcast, é preciso criar um modelo de assinatura, como faz o Spotify (serviço de música pela internet), para que os assinantes tenham uma playlist com os respectivos podcasts. A outra maneira de lucrar é colocar anúncios no áudio, como as rádios fazem.
Há alguns meses a Rádio Globo transmite o programa Bem Amigos, do SporTV, simultaneamente com a televisão. A experiência deu certo? É possível ou até provável que o SGR e o canal, que pertencem ao mesmo grupo, se integrem cada vez mais?
Sim. A transmissão de Bem Amigos deu muito certo. Foi algo novo dentro do grupo, e é provável que as relações se estreitem. Essa é a ideia, pelo menos. A integração entre plataformas de mídia e a integração da TV com a rádio indicam um dos novos caminhos que o ambiente digital oferece e dá resultado positivo para o rádio e para a televisão. Dentro do Grupo Globo, a interação se tornou fundamental.
Com experiência de nove anos no Globoesporte.com, você foi um dos idealizadores do novo Cartola F.C. O fantasy game é considerado uma das melhores plataformas de interação com o virtual do mercado brasileiro. Por que o jogo fez tanto sucesso? Quais as novidades neste rumo ascendente da chamada gameficação?
O Cartola tem muita interatividade, o público está totalmente inserido na realidade do jogo. No Cartola a aposta foi na relação direta com o consumidor, e a maior novidade foi a criação da Liga Pro, na qual o jogador paga uma parcela por mês e tem mais benefícios que usuário normais. Mas todo projeto precisa ser remunerado, e o Cartola F.C. é um projeto muito caro. O modo de criar uma receita nova foi, além da publicidade, pensar em um produto que o usuário pudesse pagar para usar. Assim, criamos o Cartola.