Com o término do Outubro Rosa, inicia-se o Novembro Azul, campanha promovida pelo Ministério da Saúde desde 2008 destinada aos cuidados com a saúde do homem, em especial ao diagnóstico e tratamento precoce do câncer de próstata. A ação foi inspirada pelo Movember, movimento internacional dedicado a arrecadar fundos contra a doença e para conscientizar o homem da importância de fazer um exame preventivo.
Mas, o que poucas pessoas sabem é que a incidência desse tipo de câncer é maior do que o de mama, de acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca). São diagnosticados anualmente, mais 1,2 milhões de casos de câncer de próstata no mundo. No Brasil, em torno de 60 mil novos casos por ano, e cerca de 12 mil mortes.
Como não apresenta sintomas iniciais, é preciso estar atento a itens importantes, como hereditariedade, raça, alimentação, infecção crônica da próstata, presença da vitamina D e, o mais importante, o envelhecimento. A produção de testosterona pelos testículos, apesar de não causar o câncer, pode acelerar o processo. Por isso, o tratamento da doença, na fase avançada, é feito com o bloqueio da testosterona, e assim é possível fazer com que o tumor regrida ou, pelo menos, evolua mais devagar.
Segundo o professor de Urologia Ronaldo Damião, da Escola Médica de Pós-Graduação da PUC-Rio, se a doença é detectada em estágio avançado, não há mais possiblidade de cura, só é possível amenizá-la. Isso pode ser feito por meio do bloqueio hormonal, ou com a radioterapia no local onde o tumor progride, seja na próstata ou no osso, por exemplo.
– Por isso existem as campanhas publicitárias, para que a doença seja detectada na fase inicial, ainda curável tanto com cirurgia quanto com a radioterapia. Sob o ponto de vista de comparação a longo prazo, acima de 15 anos, a cirurgia tem um resultado melhor. Porque quando o paciente é operado, a doença pode reaparecer, mas com menor frequência do que quem sofreu radioterapia.
De acordo com o médico, o homem pode adquirir a doença em qualquer idade, mas, principalmente, após os 70 anos. Há uma incidência maior em quem tem histórico na família, ou que é negro de origem africana. Não se sabe ao certo, mas, segundo o urologista, tudo indica que seja pela existência de um gene que transmite a doença com mais incidência do que em outras raças. Se o paciente não apresentar nenhum fator de risco, a recomendação da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) é fazer o exame anualmente a partir dos 50 anos de idade.
É indispensável realizar os exames de prevenção, por meio do toque retal, e solicitar a dosagem sérica do PSA, proteína produzida pelas células da próstata, considerada um marcador biológico que pode determinar o risco de desenvolver o câncer.
Na fase inicial, o paciente não apresenta sintomas relevantes, porém, com o crescimento do tumor e o avanço da doença, possivelmente o homem sentirá dores no corpo e ossos, vontade excessiva e dificuldade de urinar, insuficiência renal e até mesmo sangramento urinário.
Recentemente, o ator norte-americano Ben Stiller, de 50 anos, revelou que foi diagnosticado com câncer de próstata há dois anos. A decisão de expor essa notícia em uma entrevista surgiu como forma de alertar os homens da importância de realizar os exames preventivos. O ator não tem históricos familiares da doença e nem apresentou sintomas, a suspeita surgiu por meio do exame PSA que, segundo ele, salvou sua vida. Após a cirurgia de remoção da próstata, Stiller está livre do câncer.
Marcus Souza, de 35 anos, conta como se sente após ver seis familiares sofrerem com o câncer de próstata. Apesar de já ter feito os exames com antecedência, ele confessa que sente medo de passar pelo mesmo problema. O estudante de engenharia elétrica da Universidade Estácio de Sá relata o caso mais crítico da família, de um tio que sofreu um infarto ao saber das sequelas que teria após a cirurgia.
– Um dos meus tios, com mais de 60 anos, sentiu dificuldades de ir ao banheiro e algumas dores. Ele achou que iria resolver da mesma forma que meus outros tios, com uma cirurgia relativamente tranquila. Porém, o câncer já estava na fase avançada e ele teve que fazer a retirada da próstata. Quando começou o tratamento, descobriu que iria perder a ereção e entrou em depressão. No mesmo dia em que recebeu a notícia de que iria ficar impotente, ele passou mal e foi para o hospital. Na porta do hospital, meu tio teve uma parada cardíaca e morreu.
De acordo com Damião, o preconceito e resistência aos exames ainda são os principais fatores que propiciam o desenvolvimento da doença. Por esse motivo, existem diversas pesquisas acadêmicas para descobrir novos métodos para identificar o câncer de próstata. Uma delas é um teste para detectá-lo por meio da urina. Essa pesquisa surgiu há cerca de um ano, na Universidade de Surrey, na Grã-Bretanha. Segundo pesquisadores, o novo procedimento é capaz de diagnosticar, em média, 70% dos tumores na próstata, enquanto o PSA, até 40%.