A Casa do Marquês
14/10/2011 13:00
Juliana Cordeiro de Farias / Foto: Rodrigo Soldon

Coluna do Núcleo de Memória da PUC-Rio

 

O Museu Histórico da Cidade do Rio de Janeiro,
antiga casa do Marquês da São Vicente (2009)

Era uma vez, uma ruazinha simpática chamada Rua da Boa Vista da Lagoa, ou simplesmente Bela Vista, localizada na Gávea, bairro que, desde o século XIX, já era procurado por membros da elite para estabelecer suas moradas permanentes ou casas para passar temporadas. Nela, localizavam-se belas chácaras que serviam como refúgio para famílias ilustres que desejavam fugir do tumulto da cidade. Eram, apesar da distância em relação ao centro, casas nas quais se cultivavam hábitos urbanos.

 

Na Rua da Boa Vista da Lagoa, em seu ponto mais alto, encontrava-se a Chácara do Morro Queimado, onde, no século XVIII, em ambiente provavelmente rural, vivia a senhora Catarina de Sene. Após sua morte, seus herdeiros venderam a chácara ao Barão de Penedo, doutor Francisco Inácio de Carvalho Moreira.

 

Em 1858, o político e jurista paulista José Antonio Pimenta Bueno (1803-1878), o Marquês de São Vicente, que hoje dá nome à rua tão conhecida pelos frequentadores da PUC-Rio, a comprou. Era comum no Rio de Janeiro do século XIX que famílias urbanas morassem permanentemente fora do núcleo da cidade, o que parece ter sido o caso dessa importante figura do Império do Brasil. Diz-se, inclusive, que o Marquês, em sua chácara, recebia visitas do Imperador do Brasil, Dom Pedro II, o que não surpreende, devido ao seu papel proeminente na vida política do Império.

 

Após a morte do Marquês, sua viúva viveu ainda na chácara por alguns anos, mas esta acabou por ser vendida. Passou pelas mãos de homens como o empreiteiro português Antônio Teixeira Rodrigues e o senhor João Vieira da Silva Borges, que, em 1931, deu seu nome para a estrada que, posteriormente, viria a ser batizada de Estrada Santa Marinha. Já no início da década de 1930, a casa foi comprada pela família de Guilherme Guinle que pouco depois a doou para a Prefeitura. Esta chácara passou, então, a sediar, a partir de 1941, o Museu Histórico da Cidade e o Parque da Cidade.

 

Do alto da Estrada Santa Marinha, da chácara do Marquês, que outrora se localizava às margens do crescimento urbano, pode-se hoje observar a trajetória de transformações sofridas pela cidade. Faz jus ao nome do bairro, gávea, que, em vocabulário relacionado à marinha, significa plataforma situada a certa altura dos mastros.

 

Ao lado da antiga chácara, funciona hoje o curso de Ciências Biológicas, a mais nova graduação da PUC-Rio. Lado a lado, as duas casas têm em comum a integração com a natureza. Origem do nome da rua na qual se localiza e vizinha de uma de suas unidades, a Casa do Marquês faz parte do universo simbólico que permeia a vida da universidade, mesmo que nem sempre nos demos conta disso.

 

 

Juliana Cordeiro de Farias

Aluna do curso

de graduação em História

Pesquisadora Bolsista do Núcleo de Memória da PUC-Rio

 

 

Edição 248

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