Nos últimos dois anos, houve mudanças muito significativas no panorama do ensino superior brasileiro. Apesar de uma certa expansão do ensino público, continuaram a multiplicar-se as IES de gestão privada, que respondem atualmente por 72% de todos os alunos do ensino superior no país. Até aí nenhuma novidade. O que mudou foi o maciço interesse dos capitais privados que buscam lucro no campo educativo. Temos atualmente já meia dúzia de instituições de grande porte, com o capital aberto e com participação de interesses econômicos estrangeiros, fundamentalmente norte-americanos. Pela sua própria dinâmica, essas empresas somente poderão se sustentar num ritmo de expansão. Daí as repetidas compras de instituições menores, quase sempre afogadas em dívidas e com problemas de gestão. Não há dúvida que a escala do negócio, com a centralização e padronização de meios e métodos de ensino e administração pode gerar benefícios, do ponto de vista capitalista. Mas é isso o melhor para o país? Não me parece. As pessoas não são peças produzidas em série. A proximidade entre mestres e alunos é fundamental para a educação de qualidade. A homogeneização e a interferência de interesses econômicos estrangeiros levará ao desprezo das características regionais, tão variadas e tão fundamentais num país continental como o Brasil. É por isso que a nossa PUC nunca teve e não tem planos de expansão fora do nosso entorno.
Por outro lado, o MEC, que parece ter abandonado seu projeto de reforma universitária, apregoa uma expansão do ensino federal, fundamentalmente com metas quantitativas. Oferece recursos, sobretudo, para as Universidades federais que conseguirem ampliar vagas, especialmente nos cursos noturnos. Foram também fundadas novas unidades, sem uma clara caracterização dos seus objetivos. De modo surpreendente, os alunos das instituições federais, numa atitude que tem muito de egoísta, protestaram, mesmo com violência, contra o REUNI, o programa que tenta impulsionar essa expansão. As instituições estaduais e municipais, embora de gestão pública, parecem, cada vez, mais longe de um futuro brilhante.
No meio desses dois segmentos, o estritamente privado e o público, as IES comunitárias tentam sobreviver com seu ideal de educação norteada por valores éticos e de cidadania. Muitas, porém, sofrem sérias dificuldades. Nesse quadro nada otimista, parece-me que a única política com verdadeiro futuro seria reconhecer a existência das instituições de interesse público, mas de gestão privada. É isso o que pretendem ser as comunitárias: exercer a atividade educacional sem ânimo de lucro e em função dos interesses não dos particulares nem do Estado, mas da sociedade, na qual estão inseridas; escutar os anseios das famílias que lhes confiam os seus membros; responder aos desafios de cada região e de cada comunidade; preservar o pluralismo de opções; ser verdadeiramente comunitárias.
Pe. Jesús Hortal Sánchez, S.J.
Edição 195