Idolatria que não se perdeu com o tempo
30/04/2013 09:00
Gabriela Mattos e Rodrigo Zelmanowicz/ Foto:Thalyta Veras

Exemplo de profissional dentro e fora de campo, Zico encanta várias gerações

Inspirado no jogdor Dida, Zico tornou-se o maior artilheiro do Flamengo.


No dia 3 de março de 1953, em Quintino Bocaiúva, bairro da Zona Norte do Rio de Janeiro, nasceu Arthur Antunes Coimbra, o Zico. Maior artilheiro do Flamengo, com 509 gols, o ex-jogador completou 60 anos e continua sendo inspiração de gerações pela carreira vitoriosa. Um exemplo do que é ser um ídolo.

Ao contrário do que muitas pessoas pensam, a função do ídolo vai além do campo profissional. Para Raphael Zaremba, professor do Departamento de Psicologia da PUC-Rio, é preciso que ele tenha a consciência do que isto representa para as pessoas.

– O papel do ídolo é utilizar esse lugar que as pessoas o colocam para passar mensagens e valores. Ele pode contribuir para formação de crianças e para sociedade de forma geral. E o Zico tem essa capacidade – afirma.

Reconhecido mundialmente, Zico teve dias de fã. Além de se inspirar nos irmãos mais velhos Edu e Antunes, que também foram jogadores de futebol, ele sentia profunda admiração por Dida, antigo camisa dez do Flamengo. Quando chegou ao clube rubro-negro, o Galinho, como era chamado, ficava nervoso e lhe faltavam palavras ao ver o ídolo treinar.

– Eu cheguei ao Flamengo e só sonhava em jogar com a camisa do Dida. Só queria isso, para mim era o que bastava. Quando ele foi para Portuguesa de Desportos e vinha jogar aqui no Maracanã, eu ia ao estádio só para vê-lo – lembra.

Naquela época, a relação com os ídolos era diferente, porque o futebol era visto de outra forma, sem o profissionalismo e o caráter de negócio que existe hoje. Também não havia a mesma facilidade de acesso às informações que a internet proporciona, que faz com que os jovens possam conferir o que os mais velhos falam sobre ídolos da geração deles.

– Eu dei sorte de ter jogado em um período de vídeos. Meu pai dizia que o Zizinho foi melhor que o Pelé. Eu não conseguiria acreditar nisso porque não há imagens dele jogando, mas meu pai acompanhou sua carreira. Acho que se não tivesse o vídeo, você ia ter que acreditar na palavra – diz.

Por outro lado, com a grande exposição na mídia e os altos salários, o jogador de futebol atualmente é tratado como uma celebridade, o que faz com que muitos se deslumbrem. Para Zico, os jogadores não pensam apenas em jogar pelo time do coração, mas em todos os benefícios que a carreira de jogador pode dar, como status e dinheiro.

– Um jovem hoje, que vai jogar futebol, não está pensando em ir para o time dele, ele pensa na fama, em ter o último carro do ano. O mundo da celebridade é muito perigoso, as pessoas acabam se perdendo. Na nossa época não tinha a menor chance de um jogador sair numa coluna social, nem se fizesse besteira. Eu acho que a gente tem que ser notícia pelo trabalho que a gente faz, pelo conjunto da obra – pensa.

Além disso, para ele, faltam profissionais que orientem os jovens jogadores a lidar com a drástica mudança que o futebol traz para a vida deles. Filho de Matilde Ferreira da Costa Silva e José Antunes Coimbra, Zico e os irmãos sempre foram estimulados a, antes de tudo, estudar, e tiveram um acompanhamento de treinadores que os orientavam nos clubes.

– Tenho certeza de que o orgulho do velho Antunes não foi ter sido pai de Edu, de Antunes e de Zico, nem nada, mas sim que deixasse todos os filhos formados, todos passando por universidade. Isso era um orgulho dele – comenta.

Apesar do sucesso conquistado ao longo da carreira, Zico também passou por momentos difíceis e por decepções. Ele quase abandonou o futebol quando não foi convocado para representar a Seleção Brasileira nas Olimpíadas de Munique, em 1972. Mas decidiu persistir e não desistiu dos objetivos. Sempre buscando se superar, tornou-se o ídolo que é até hoje.

– Meus irmãos é que continuaram me incentivando, me orientaram para que eu continuasse jogando futebol. Você nunca pode se desestimular pelo que você está fazendo. O Homem lá de cima sempre dá oportunidade para as pessoas que trabalham e se dedicam. Nada cai do céu, nada acontece por acaso. Se acontecer alguma coisa boa para você é porque você fez por onde e mereceu. Você tem que estar preparado para aquilo. O jovem, muitas vezes, encontra um degrau e acha que ele não vai conseguir superar. Você supera uma barreira pequena, amanhã vem uma grande e você tem que estar preparado para isso – conclui.

Edição 268

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