Receitas de bolo e versos de Camões: jornalismo na Ditadura Militar
22/03/2016 11:39
Elissa Griner Taublib/ Fotos: Ana Carolina Nunes

Resistência do jornal O Estado de São Paulo à censura do Regime Militar é assunto de encontro na PUC-Rio

Imagina abrir o jornal e deparar-se com uma receita de bolo ou um poema de Camões perdido em meio as demais matérias do periódico. Era a solução encontrada pelos editores para preencher os espaços censurados no período da Ditadura Militar. O fato era comum naquele período em muitos veículos impressos, entre eles o Estadão. As experiências com censores na redação e as formas de burlar a censura prévia são alguns dos temas abordados no documentário Estranhos na Noite, baseado no livro Mordaça no Estadão, do repórter José Maria Mayrink. O filme foi exibido na 102-K, no dia 17 de março, seguido de debate com José Maria Mayrink e mediado pelo coordenador de graduação do Departamento de Comunicação Social, professor Leonel Aguiar.

O documentário mostra depoimentos de jornalistas e funcionários que trabalhavam no Estadão e aborda a prisão de jornalistas na época do Regime Militar. Roteirista de Estranhos na Noite e vencedor do prêmio Esso de Jornalismo e Rondon de Reportagem, Mayrink brincou que já viu o filme muitas vezes, e já sabe até os momentos em que fica arrepiado. Ele ressaltou para a plateia de alunos de Comunicação a importância de relembrar o período da Ditadura.

- Vocês, uma futura geração de jornalistas, têm que saber o que aconteceu 50 anos atrás, para que não se repita - afirmou.

Para Mayrink, ainda existe censura na imprensa. Ele relata que o Estadão está sob censura judicial desde julho de 2009, quando o veículo foi proibido de noticiar investigações de negócios suspeitos do empresário Fernando Sarney, filho do ex-presidente José Sarney.

- Isso não acontece só em São Paulo, mas Brasil afora. Ainda são frequentes mortes de jornalistas no interior do país.

O repórter descreveu o desenvolvimento do documentário, da transformação de 30 horas de gravação de entrevistas em cerca de 1h30 de filme. Mayrink frisou a importância da equipe, que inclui o cineasta Camilo Tavares e o editor de imagens Marcelo Rodrigues.

- Eu me sinto orgulhoso disso porque é uma reportagem a mais que eu fiz. O Brasil hoje está pegando fogo em Brasília e nós estamos aqui, mas isso faz parte da história. Eu tenho 77 anos de idade, 54 anos de jornalismo. Trabalho como repórter desde janeiro de 1962 – declarou.

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