Passado, presente e futuro do Brasil em seminário
15/09/2009 15:38
Augusto Souza e Sofia Pelúcio / Fotos: Isabela Campos

Economistas debateram temas de relevância nacional

As relações econômicas, políticas e sociais do Brasil dentro do contexto mundial foram discutidas durante quadro dias, de 18 a 21 de agosto, no Auditório Padre Anchieta, na PUC-Rio. O III Seminário Caminhos do Brasil abordou questões como crise financeira internacional, desenvolvimento sustentável, energia renovável sob o ponto de vista de personalidades da economia brasileira, professores e cientistas políticos que fizeram importantes alertas. Entre eles, o declínio do uso abusivo do petróleo, a necessidade de atenção às medidas contra os impactos ambientais e o cuidado com a euforia pós-crise.

 

Petróleo e impactos ambientais foram
assuntos de Sérgio Besserman Viana
Sérgio Besserman Viana, professor do Departamento de Economia da PUC-Rio e ex-presidente do IBGE, foi veemente ao afirmar que a era dos combustíveis fósseis acabou. Ele alerta que, para evitar consequências desastrosas, é necessária a criação e aplicação de metas de proteção ambiental em um prazo de 100 meses.

           

“A comunidade internacional calcula aumento da temperatura média global entre 3º e 6° C até 2099. Se houver um aumento de 2° C, imagina-se 250 milhões de refugiados ambientais. Ainda assim, não existe tecnologia para controlar os impactos”. Viana criticou o excessivo desmatamento no campo e ilustrou com o caso da Amazônia, no qual pecuaristas abrem vastos campos de pasto para gado somente para especulação imobiliária.

           

Durante uma hora e meia, o ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) Carlos Lessa criticou a política econômica nacional, que esbarra em dificuldades ambientais e logísticas. Entre as soluções, Lessa apontou como saída o uso de energia renovável abundante no país. “O discurso de ambientalistas, que vetam a construção de hidroelétricas, é atrasado. Eles preferem construir termoelétricas”. Na opinião do economista, as termoelétricas são mais poluentes do que as hidroelétricas porque utilizam combustíveis fósseis.

           

Ao transmitir receio sobre o clima de incertezas pós-crise, o diplomata Marcílio Marques Moreira ressaltou que alguns setores ainda estão comprometidos negativamente. Fez também uma análise aos precedentes da crise mundial e sua evolução.

           

– Todo ano é apresentando um mapa de risco mundial. Três anos atrás eles viram que os riscos principais eram quatro: o risco sistêmico financeiro, o risco de uma crise de energia, o risco de uma crise alimentar e de uma pandemia. Esses riscos costumam vir casados – disse Marcílio.

           

O reitor da Universidade Candido Mendes e membro da Academia Brasileira de Letras, Candido Mendes, abordou questões sobre a política externa brasileira. Considerou o país “transcontinental” graças às exportações favoráveis, solidez no balanço de pagamento e a forte presença nos BRICs. Mas fez ressalvas.

           

- Nossa relação com outros países da América Latina está fraca, por exemplo, com a Argentina. Mas acho que Lula se aproximará do México a partir dos BRICs – ponderou, referindo-se à política de cooperação entre Brasil e México durante a crise econômica. Mendes ainda arriscou uma previsão. “Lula, após a presidência no Brasil, será convidado para presidir o Banco Mundial”.

 

DaMatta criticou a relação
invertida entre políticos e sociedade
As relações entre Estado e sociedade precisam ser repensadas, segundo o antropólogo Roberto DaMatta. “A sociedade não é empregada do Estado, mas sim, o contrário. Os políticos que elegemos têm que dar de volta à sociedade os votos que recebem”, disse. O antropólogo explicou que o povo brasileiro herdou do passado colonial o hábito de valorizar títulos e biografias e que por isso tende a manter políticos corruptos no poder.

           

Liberdade individual, justiça social e eficiência operacional no setor público e privado, para o ex-ministro da Fazenda Pedro Malan, deve ser o caminho de uma sociedade ideal. Porém, ressaltou que o país subinvestiu em educação e por consequência existe uma falta de mão-de-obra qualificada em setores que podem definir a competitividade internacional do país no futuro.

           

A boa reação do Brasil na crise mundial e a importância da educação foram os assuntos do professor do Departamento de Economia da PUC-Rio, José Márcio Camargo. “Para transformar esse sucesso de curto prazo em longo prazo, devemos investir em capital humano. Para mim, ainda é uma charada por que, neste país, o investimento em educação é tão pouco valorizado”.

           

Participaram também do seminário os professores da PUC Ricardo Ismael e Paulo D’Ávila, os economistas João Paulo dos Reis Velloso e Marcelo Neri, os cientistas sociais Jorge da Silva, o cientista político Francisco Weffort, o professor da Fundação Getúlio Vargas Salomão Quadros, Fábio Giambiagi, mestre em ciências econômicas pela UFRJ, o ex-ministro de Ciência e Tecnologia Hélio Jaguaribe, o ex-secretário Nacional se Segurança Pública Luiz Eduardo Soares, o ecologista político Henri Acselrad e o negociador do Brasil junto à Organização Mundial do Comércio, Paulo Ferracioli. Organizado por alunos de Relações Internacionais, Direito e Ciências Sociais, o III Seminário Caminhos do Brasil contou com o apoio do Diretório Central de Estudante (DCE) e a colaboração de professores para contatar palestrantes.

 

 

Edição 220

 

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