Que saudade da seleção brasileira!
05/11/2008 14:00
Renato Callado Ferreira

Artigo

Quando recebi o convite do Jornal da PUC para escrever sobre o atual momento da Seleção Brasileira, fiquei me perguntando que enfoque daria nestas linhas: "Estamos sem craques? O treinador é despreparado? Não existe mais time bobo? A preparação física se sobrepôs a criatividade?". Resolvi fazer um exercício e me lembrar dos dois últimos jogos da Seleção, e neste momento me dei conta; assisti apenas parte do jogo contra os Venezuelanos e li um livro durante a partida contra a Colômbia. Imagina, um apaixonado pelo futebol que na adolescência era um expert na caça de autógrafos, fã do Zico, Sócrates, Júnior e Falcão, que assistiu diversos jogos no Maracanã lotado... não acompanhar o jogo da Seleção?!?!

Pois é, o excrete canarinho não me empolga como antes e acredito que parte da população brasileira tenha a mesma opinião. A falta de identificação da torcida com os jogadores (aliada a jogos ruins) provocou descontentamento e vaias ao selecionado nos três jogos de eliminatórias realizados no país este ano.

Esta falta de identificação em minha opinião tem basicamente duas razões: a primeira delas é o número de jogadores brasileiros transferidos para o exterior que cresce a cada ano (804 em 2005, 851 em 2006 e 1085 em 2007), com a tendência a deixar o futebol brasileiro cada vez mais cedo, ficamos sem referência. Muitas vezes esta transferência precoce faz com que nossos jogadores percam a capacidade do improviso, a criatividade característica do brasileiro para jogar como europeus; com consciência tática e marcação forte. O brasileiro quer ver drible, "caneta", "lençol", ousadia em campo, e não apenas jogadores que correm e marcam.

Antes que me questionem porque a falta de identificação dos torcedores também não acontece nos clubes, apresento minha segunda justificativa. Dos últimos 25 amistosos disputados, apenas um, no ano de 2005 (Brasil x Guatemala) aconteceu diante da torcida verde-amarela. "Claro, a grande maioria de nossos jogadores está na Europa, vir para o Brasil seria um desgaste muito grande" poderiam dizer. Então como explicar um jogo na China em 2005 e no Kuwait em 2006? O Brasil pouco joga no Brasil. O futebol hoje é tratado como negócio (os jogadores são mercadorias e nós torcedores clientes), mas também é amor, é paixão. Esse caso de amor nunca terá fim, mas a distância aos poucos diminui estes sentimentos, o torcedor não tem contato com seus ídolos. Hoje o Kaká, é o Kaká do Milan. O Robinho é do Manchester City. Que saudade do Zico do Flamengo e da Seleção Brasileira. Que saudade!!!

Renato Callado Ferreira
Coordenador Acadêmico de Educação Física da PUC-Rio

Edição 208

 

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