Os 180 anos de um jornal pioneiro
15/10/2007 14:10
Thomas Freund / Foto: Carolina Jardim

Definitivamente, o aniversário de 180 anos do Jornal do Commercio não passou em branco. O Copacabana Palace recebeu celebridades da imprensa e das diversas áreas de atuação do país, num evento que contou com as presenças do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do governador Sérgio Cabral.

O presidente da ABL, Marcos Vinicius Vilaça,
discursa em nome dos homenageados da noite
Foi uma noite de gala para o jornalismo, na qual a grande estrela era o Jornal do Commercio. Fundado em 1 de outubro de 1827, o terceiro veículo mais antigo da América Latina fez do salão Golden Room, no Copacabana Palace, seu espaço para o festejo dos 180 anos de circulação ininterrupta. Celebridades das áreas política, intelectual, artística, econômica e cultural estiveram presentes para prestigiar e homenagear o jornal. Entre eles, o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, e o governador do Estado do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral.

A cerimônia foi marcada pela entrega do Troféu 180 Anos, idealizado pela artista plástica Christina Oiticica, que premiou personalidades que contribuem para o desenvolvimento do país. Houve ainda o lançamento do livro 180 anos do Jornal do Commercio – De D. Pedro I a Luiz Inácio Lula da Silva, do acadêmico e jornalista Cícero Sandroni, além da comemoração do novo projeto gráfico.

Os homenageados eram, pouco a pouco, anunciados pela jornalista Márcia Peltier, mestre de cerimônia da noite. Carlos Arthur Nuzman, presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), a ministra Ellen Gracie, presidente do Supremo Tribunal Federal, a atriz Fernanda Montenegro e o presidente da Academia Brasileira de Letras (ABL), Marcos Vinicius Vilaça, estiveram entre os premiados. Coube a Vilaça, inclusive, falar em nome de todos, com um tom bem descontraído:

– Nós merecemos mesmo e estamos muito distinguidos. É uma honra "danada de boa" estar aqui. Agradeço ao presidente do Jornal do Commercio, Maurício Dinepi, figura heróica na resistência. A imprensa em geral tem um grande papel na construção do país. Para me despedir, gostaria de deixar a frase de Eduardo Portella: o silêncio é o mais dizer, é aquilo que se diz naquilo que se cala.

Citado por Vilaça, Dinepi não escondia a satisfação. "Nossa vida é longa, renovada de tempos em tempos. Estamos prontos para novos desafios. Temos uma rica história, assim como a do país. Sejam bem-vindos aos próximos 180 anos", disse.

O governador Sérgio Cabral também recebeu o troféu comemorativo e destacou a qualidade, a profundidade e as belas coberturas feitas pelo Jornal do Commercio em diversas áreas. Coube ao presidente Lula encerrar a cerimônia, com um depoimento que misturou homenagens aos 180 anos do diário e críticas a alguns setores da imprensa. Lula equivocou-se ao se referir ao Jornal do Commercio como Jornal do Brasil e alternou o discurso preparado com o improviso.

– Um jornal que completa 180 anos num país de política tão complicada tem que ter razões muito especiais para sobreviver por tanto tempo. Nunca fez a prática da imprensa marrom nem chapa branca. Espero estar vivo para comemorar os 200 anos do jornal, disse, para depois distribuir algumas alfinetadas: "Há jornais regionais que pensam ser nacionais, que preferem a publicidade à qualidade. Imprensa tem que ser imprensa, capaz de informar fatos concretos e objetivos. Para os que falam que há censura no meu governo, posso responder que, se cheguei à presidência, isso foi devido à liberdade de imprensa."

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Coberturas do Primeiro Reinado à República

Fundado pelo iluminista francês Pierre Plancher, em 1827, o Jornal do Commercio testemunhou, por três séculos, fatos históricos e relevantes, no Brasil e no mundo. Atravessou as lutas políticas do Primeiro Reinado, da Regência e da Maioridade. Pregou a abolição da escravidão e preparou o advento da República em nosso país. Entre os colaboradores do jornal, figuram personalidades como o Barão do Rio Branco, José de Alencar, Assis Chateaubriand, Afonso Taunay, Felix Pacheco, Machado de Assis, Euclides da Cunha, Lima Barreto e Austregésilo de Athayde.

Inicialmente voltado apenas para o noticiário econômico, logo se viu envolvido com questões políticas. Passados os tempos conturbados da Regência, o JC, como também é conhecido, passou a publicar alguns debates parlamentares, transformando-se numa das mais ricas fontes de informação e pesquisa no Brasil.

O JC, que faz parte do grupo dos Diários Associados, foi pioneiro no sistema de assinaturas, bem como na publicação de suplementos de arte, do folhetim-romance, da crônica e da crítica dos mais renomados nomes da literatura. Foi, ainda, da sede do jornal, que Ruy Barbosa pronunciou o discurso que clamava pela entrada do Brasil na Primeira Guerra Mundial.

Hoje, o JC conta com edições locais em São Paulo e Brasília, além da base principal no Rio de Janeiro. O esforço de renovação editorial e gráfica faz parte de uma proposta modernizadora: "Inovamos sempre. Mas temos que progredir com inclusão. É muito mais negócio. O crescimento tem de ser para todos", disse o presidente do Jornal do Commercio, Maurício Dinepi.

O JC tem direito a voto nas reuniões da Associação Comercial do Rio de Janeiro, onde é o único jornal com título de Grande Benemérito. Possui suas edições microfilmadas pelo Centro de Biblioteca de Pesquisas da Universidade de Chicago, que distribui o material para algumas das principais bibliotecas do mundo, além de contar com uma coleção na Biblioteca Nacional de Paris.

Jornal 192