Homofobia em debate
14/05/2009 17:00
Carlos Heitor Monteiro

No dia 5 de maio, foi exibido o longa Assim me diz a Bíblia (For the Bible tells me so, EUA, 2007), de Daniel Karslake. O filme conta histórias de quem assumiu sua condição sexual e conservou a fé. Em seguida, houve um debate promovido pelo Departamento de Serviço Social, em que foram discutidas questões ligadas à homossexualidade e à homofobia.

Como a homossexualidade é tratada na Bíblia? O amor entre pessoas do mesmo sexo deve ser considerado uma abominação? A Bíblia pode ser usada como desculpa para fomentar a homofobia? Essas são algumas das questões abordadas no filme Assim me diz a Bíblia (For the Bible tells me so, EUA, 2007), de Daniel Karslake, exibido no Salão do Centro de Pastoral da Anchieta, no dia 5 de maio. Mais de 70 pessoas assistiram ao longa. Em seguida, houve um debate promovido pelo Departamento de Serviço Social.

 

Em meio a entrevistas com vários teólogos e sacerdotes cristãos, o filme conta a história de cinco famílias norte-americanas religiosas – das tradições luterana, católica, anglicana e batista – que têm filhos gays. Entre elas, a do candidato à Presidência dos EUA em 2004, Dick Gephardt, e a de Gene Robinson, um bispo anglicano que é assumidamente homossexual. Além disso, Assim me diz a Bíblia mostra como os homossexuais são vítimas de preconceito por parte de diferentes grupos sociais e, sobretudo, de religiosos fundamentalistas. Embora o processo de aceitação da homossexualidade de um filho geralmente seja doloroso, a maioria das famílias retratadas conseguiu superar as dificuldades e, hoje, consegue conciliar a vida religiosa com a orientação sexual diversa.

 

Um dos assuntos mais recorrentes no longa é o fato de que a sexualidade humana não depende de escolha. Por isso, não se fala em opção, mas sim em orientação sexual. O Catecismo da Igreja Católica, promulgado em 1997 pelo Papa João Paulo II, aborda isso no parágrafo 2.358: “Um número considerável de homens e de mulheres apresenta tendências homossexuais profundamente radicadas”. Em seguida, o texto é categórico quanto à condenação da homofobia: “Eles devem ser acolhidos com respeito, compaixão e delicadeza. Evitar-se-á, em relação a eles, qualquer sinal de discriminação injusta”.

 

O discurso homofóbico, muitas vezes, se vale do argumento de que a homossexualidade seria uma doença. No entanto, essa classificação já foi rejeitada pela Sociedade Psiquiátrica Americana, em 1975; pelo Conselho Federal de Medicina, em 1984; e pela Organização Mundial de Saúde, em 1992. Em 1999, o Conselho Federal de Psicologia proibiu que profissionais da área tentassem terapias de reversão com pacientes gays. Hoje, predomina o entendimento de que a homossexualidade é uma condição e faz parte do leque da diversidade sexual humana.

 

– Há uma compreensão do ser humano que supõe uma heterossexualidade universal, mas isso está mudando. O conceito de homossexualidade surgiu há menos de 150 anos. Ele é um instrumento teórico novo para se refletir sobre uma realidade que já existia, disse o padre jesuíta Luís Corrêa Lima, professor do Departamento de Serviço Social e organizador do encontro.

 

Meio acadêmico e diversidade sexual

 

Padre Luís é um dos expoentes no estudo sobre diversidade sexual na PUC-Rio. A primeira dissertação de mestrado sobre essa temática – A discriminação contra homossexuais e os movimentos em defesa de seus direitos, defendida por Marcelo Prata, em 2008 – foi orientada por ele. Além disso, o jesuíta coordena o grupo de pesquisa Diversidade Sexual, Cidadania e Religião, registrado no Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), que se reúne quinzenalmente. No segundo semestre de 2008, ele ministrou uma disciplina eletiva de graduação sobre esse tema.

 

Para a diretora do Departamento de Serviço Social, Luiza Helena Ermel, é importante que essa discussão tenha espaço no meio acadêmico:

 

– Faz parte da nossa missão acolher professores que trazem temáticas novas. Aqui é o espaço de aprofundamento, sistematização e divulgação do conhecimento. Por isso, temos a responsabilidade de discutir a diversidade sexual sob a ótica acadêmica. Nosso trabalho também é desmistificar preconceitos, afirmou.

Padre Luís já organizou várias iniciativas em torno desse assunto. Em outubro de 2008, a escritora Edith Modesto esteve na PUC, a convite dele, para lançar o livro Mãe sempre sabe? Mitos e verdades sobre pais e seus filhos homossexuais. Edith é fundadora da ONG Grupo de Pais de Homossexuais, que acolhe e orienta pais e mães de gays.

 

Para saber mais    

 

Embora o dicionário registre as palavras “homossexualismo” e “homossexualidade”, a primeira forma não é apropriada. “O sufixo ‘ismo’ pode indicar patologia, então preferimos não usá-lo”, explica padre Luís.

 

Entenda alguns outros termos relacionados à diversidade sexual:

 

- travesti: é a pessoa que se veste como se pertencesse ao sexo oposto. O travesti costuma fazer mudanças no corpo, mas conserva os órgãos genitais do sexo de origem. Por exemplo, Rogéria.

 

- transexual: é aquela pessoa que não se identifica com o seu sexo de origem a ponto de fazer uma cirurgia de mudança de sexo. Um exemplo é Roberta Close.

 

- transformista: veste-se como alguém do sexo oposto somente em situações específicas, como apresentações artísticas. Por exemplo, Rose Bombom.

 

 

Edição 215

 

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