A resistência de um idioma
22/11/2023 16:06
Marina Mann

A riqueza e a beleza da cultura yiddish emociona o público na PUC-Rio

 Palestrantes discutem sobre o tema "Mulheres escritoras: yiddish em verso e prosa". Foto: Caio Matheus

O Núcleo Viver com Yiddish realizou nos dias 13 e 14 de novembro o seminário "Literatura, música e cinema: a resistência na língua e na cultura yiddish". O encontro foi organizado pelas coordenadoras do projeto Sonia Kramer, Marcia Antabi e Inés Miller. Esse foi o terceiro evento planejado na PUC-Rio e teve a presença de estudiosos e entusiastas da língua do Rio de Janeiro, São Paulo, Buenos Aires e Estados Unidos. Fusão do alemão antigo, hebraico e línguas eslavas, o yiddish quase foi extinto no século passado, atingido pelo nazismo e stalinismo. Mas, segundo Sonia Kramer, professora Emérita do Departamento de Educação da PUC-Rio, “a resistência se fez presente”, sendo que “instituições de pesquisa e universidades em diversos países tiveram forte impacto no acesso à literatura yiddish”. 

A primeira mesa teve como tema "Mulheres escritoras: yiddish em verso e prosa", com a participação do estudante de letras da USP e professor do projeto Viver com Yiddish, Gustavo Emes, de Clara Greif, também professora do núcleo, e da professora Sonia Kramer. A mediação ficou a cargo da professora do Departamento de Letras Rosana Bines. O debate abordou a importância das escritoras mulheres na literatura yiddish, na transmissão do idioma e de como elas são pouco conhecidas e estudadas. Alguns nomes importantes apresentados foram Celia Dropkin, que escrevia poesias sobre temas tabus que rompiam com as expectativas tradicionais do feminismo. Já Blume Lempel se dedicou aos contos e romances que abordavam temas femininos e polêmicos em cenários americanos. Rosa Kremer, escritora brasileira de prosa e poesia, fazia de sua literatura uma forma de honrar a memória daqueles que foram mortos no Holocausto.

Livro "Viver com Yiddish: Likhtik". Foto: Caio Matheus

A segunda mesa teve a participação de Yasmin Garfunkel, da Universidade de Buenos Aires, Aline Silveira, que faz parte do Núcleo Viver com Yiddish desde 2015, e coordenação da professora Inés Miller. O tema foi “Música yiddish: encontro de narrativas, letras e melodias”. Yasmin, que estuda a língua há quatro anos, acredita que o yiddish fortalece sua identidade e permite que ela se expresse melhor do que em qualquer outro idioma. Já a professora Aline fez seu doutorado sobre canções de ninar em yiddish, músicas que falavam sobre a infância. Ela compartilhou alguns relatos dos entrevistados sobre a ligação deles com as músicas infantis, em momentos de conexão com a família. No fim da palestra, Yasmin e Aline participaram de uma apresentação com outros componentes do Núcleo Viver com Yiddish, com muita música e dança. 

O segundo dia do seminário começou com a apresentação da pesquisa de doutorado da professora Marcia Antabi, do Departamento de Comunicação, com o tema  "O cinema yiddish de ontem, hoje". Ela falou sobre a preservação da memória da cultura por meio da imagem no período de 1935 a 1939, na era de ouro do cinema yiddish. Marcia afirmou que o cinema presta homenagem e dá volume a vozes silenciadas, assim como traz o passado para compreender o presente e deixar a memória viva. Também participaram da mesa os alunos de graduação de cinema da PUC-Rio Eduardo Henrique Schnabl e Raquel Galdino e o mestrando na USP Ernesto Honigsberg. Para eles, o yiddish se relaciona de forma pessoal, pois traz memórias dos avós e bisavós.

Apresentação musical do Núcleo Viver com Yiddish. Foto: Marina Mann

O seminário terminou com a exibição do emocionante do documentário “How saba kept singing” (“Como vovô continuou a cantar”), dirigido por Sara Taksler. A obra conta a história do cantor e sobrevivente do Holocausto David S. Wisnia, avô de Avi Wisnia, e como a música salvou a vida dele em diversos momentos. Foram dois dias de muita troca, aprendizados e conhecimentos, com o objetivo de manter o yiddish vivo.

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