No cotidiano de uma instituição tão plural quanto a PUC-Rio, o papel do Vice-Reitor Geral, Padre André Luís de Araújo, S.J, é, sobretudo, de acolhimento e encaminhamento para diferentes instâncias institucionais. Mas sua rotina de trabalho envolve muitas missões como a representação da Universidade na Associação das Universidades confiadas à Companhia de Jesus na América Latina (AUSJAL), a direção do Centro Loyola de Fé e Cultura e a presidência do Conselho Identidade e Missão (CIM).
Formado em Letras, Filosofia e Teologia, Padre André tem Mestrado e Doutorado em Estudos Literários pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Parte de sua caminhada acadêmica foi feita na França e o Pós-Doutorado na Espanha. O jesuíta veio para a PUC-Rio em 2022, depois de trabalhar na Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), onde foi professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Linguagem e do curso de Letras.
Mineiro de Nova Lima, Padre André é um apaixonado pela literatura e pela filosofia. Já publicou três livros, dois de poemas e um sobre a escritora Ana Cristina Cesar, a partir de sua tese de doutorado. Na última entrevista para a série com os vice-reitores do Jornal da PUC, ele descreve suas atribuições na Vice-Reitoria Geral e as outras missões às quais tem se dedicado.
Quais são as atribuições da Vice-Reitoria Geral?
Padre André Luís - Como sabemos, segundo o Estatuto vigente, a função de Vice-Reitor Geral comporta substituir o Reitor em suas ausências e impedimentos, bem como exercer funções e executar tarefas delegadas pelo Reitor. Nas últimas décadas, os reitores têm delegado aos vice-reitores três funções ou missões principais: ser um enlace da AUSJAL – a Associação das Universidades confiadas à Companhia na América Latina – em diálogo com os homólogos locais, que são professores ou funcionários encarregados de representar a PUC-Rio em alguns Grupos de Trabalho (GTs) ou Redes; a Associação dos Antigos Alunos (AAA) e o Conselho de Identidade e Missão (CIM). Além disso, na nova configuração que vimos empreendendo, cabe também ao Vice-Reitor Geral acompanhar o CIP (Consórcio de Iniciativas Pastorais), que reúne a Pastoral Universitária Anchieta, a Igreja do Sagrado Coração de Jesus e o Centro Loyola de Fé e Cultura (do qual também, como jesuíta, sou Diretor).
O senhor preside o Conselho Identidade e Missão, que tem caráter consultivo. Como o CIM se articula no desafio de dialogar com instâncias variadas em uma universidade tão plural como a PUC-Rio?
Padre André Luís - O Conselho de Identidade e Missão (CIM) é uma instância de discernimento, ligada à Reitoria da PUC-Rio para questões relativas à preservação e à promoção da Universidade Católica, tal como ela se encontra definida nas orientações da Igreja, em conformidade com as características essenciais fixadas pela Constituição Apostólica Ex Corde Ecclesiae, para as instituições católicas de Ensino Superior e também com as suas fontes normativas próprias, notadamente o que descreve nosso Marco Referencial da PUC-Rio. Ainda nas palavras do Padre Anderson Pedroso, nosso Reitor, somos uma universidade confessional que tem o desafio de dialogar com um universo plural e sentidos de pertença muito variados, no que diz respeito aos domínios sociocultural e religioso. Nesse sentido, o CIM reúne e dá voz a pessoas de diferentes âmbitos, conformando setores internos e externos à PUC-Rio, com representação rica e bastante variada de seus membros, sempre com o compromisso consultivo, quando da necessidade de posicionamentos e decisões pontuais da Instituição frente às questões que nos desafiam no discernimento cotidiano de nossas atitudes.
O senhor também representa a PUC-Rio na AUSJAL, uma rede formada por 30 Instituições de Ensino Superior (IES) confiadas à Companhia de Jesus na América Latina. Como se dá esse trabalho e como a PUC-Rio tem procurado expandir o intercâmbio com estudantes latino-americanos?
Padre André Luís - O Vice-Reitor Geral é sempre o enlace da PUC-Rio no diálogo com as outras IES confiadas à Companhia de Jesus na América Latina. Para a difusão da cultura AUSJAL, existem diversos Grupos de Trabalho ou Redes que se reúnem com seus homólogos de maneira periódica. Cada universidade contribui com homólogos (professores ou funcionários) que possam prestar um serviço de colaboração mais consistente interna e externamente. Nessa perspectiva, nossas reuniões com os nossos homólogos acontecem mensalmente, conforme calendário previamente proposto, para partilha das atividades e para ajudá-los a desenvolver um princípio de corresponsabilidade financeira, no discernimento dos projetos em que são solicitados ou quando estão implicados com algum tipo de participação. Vale salientar que esse cuidado se deve ao fato de que todo projeto desenvolvido em Redes ou em GTs, aparentemente sem investimento direto da Universidade, na verdade, implica investimentos de tempo de trabalho, material, planejamentos etc. Por isso, é essencial que pensemos de forma sustentável e criativa na cultura AUSJAL, encontrando modelos criativos e meios para mantê-los, sempre com o princípio da reciprocidade que ainda nos desafia quanto ao intercâmbio de professores e estudantes entre o Brasil e a América Latina. É bem verdade que tem crescido a procura pela PUC-Rio, no universo latino-americano, marcadamente pelo trabalho desenvolvido pela CCCI, nos acordos de cooperação internacional entre as IES associadas, mas ainda precisamos pensar em estratégias que nos ajudem a desenvolver mais a procura pelas nossas universidades parceiras no nosso continente, sobretudo se pensarmos em outras frentes de desenvolvimento, inovação e pesquisas possíveis no interior da própria AUSJAL.
Qual o objetivo de criar um Consórcio de Iniciativas Pastorais?
Padre André Luís - O CIP (Consórcio de Iniciativas Pastorais) reúne num mesmo Centro de Custos, ligado à Reitoria: a Pastoral Universitária Anchieta, a Igreja do Sagrado Coração de Jesus e o Centro Loyola de Fé e Cultura. O objetivo principal é dinamizar o planejamento periódico e conjunto dessas unidades e de suas respectivas atividades culturais, religiosas e espirituais, regulando de forma ordenada, nossos gastos e nossas ações pastorais. A razão de sua existência responde, ainda, a diversas frentes de trabalho e missões apostólicas e educativas: da própria Universidade, conforme seu Marco Referencial e seu Planejamento Estratégico; da Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, em seu Plano de Pastoral de Conjunto; da Companhia de Jesus, segundo seu Plano Apostólico, conforme suas Preferências Apostólicas Universais, tudo isso em sintonia com o Pacto Educativo Global. O CIP pretende, assim, neste tempo oportuno, lançar as bases de um projeto mais arrojado que nos ajude a ter e a desenvolver asas, como expressa a divisa de nossa Universidade – Alis grave nil –, que nos permitam alçar voos mais altos e maiores ao iniciar processos novos, como nos pede o Papa Francisco, desde a Exortação Apostólica Evangelii gaudium (223).
Que ações estão sendo tocadas pelo Centro Loyola de Fé e Cultura e como a proximidade com o entorno da Gávea, por exemplo, o Instituto Moreira Salles, pode render novas iniciativas?
Padre André Luís - No nosso contexto universitário, o Centro Loyola de Fé e Cultura da PUC-Rio configura-se como uma Unidade Complementar vinculada à Reitoria, com um caráter acadêmico (ensino e pesquisa), mas dedicado, prioritariamente, à extensão e às estratégias pedagógicas. Com localização privilegiada, no contato direto com as comunidades do entorno, desenvolvemos atividades com a Rocinha e com o Parque da Cidade, mas também em diálogo com o Instituto Moreira Salles – fechado para reformas neste momento – e com outras escolas particulares e públicas, o que confirma a vocação do Centro Loyola no acolhimento e na promoção de ações culturais e de cidadania, com sentido de responsabilidade social e incidência concreta na vida das pessoas. Desse modo, durante a semana temos muitos estudantes, de dentro ou de fora da PUC-Rio, circulando nas nossas dependências, desenvolvendo atividades de prática extensionista, acolhidos em projetos sociais e de pesquisa, desenvolvidos por muitos dos nossos departamentos; e, nos fins de semana, acolhemos, igualmente, a pessoas oriundas de muitos lugares da cidade do Rio de Janeiro e arredores, para momentos de partilha e de espiritualidade, em retiros, cursos, conferências, num espaço de convergência entre Fé e Cultura, na integração da Igreja com a Sociedade, mas também em franco diálogo com a vida universitária, desde as nossas Cátedras e outras iniciativas pastorais. Assim, desde 1994, o Centro Loyola veio para favorecer essa interlocução. A escolha do nome faz referência a Santo Inácio de Loyola, fundador da Companhia de Jesus. Os Jesuítas, como somos conhecidos, estão presentes na PUC-Rio desde a sua fundação, seguindo a tradição de acompanhar os processos que envolvem o serviço da fé, a promoção da justiça e da reconciliação, bem como as inúmeras manifestações e desdobramentos acadêmicos e culturais. É, pois, no mundo contemporâneo que os desafios dessa inter-relação se apresentam com matizes que se desdobram na vida espiritual, de distintos modos: nas exposições de arte que acolhemos, nas discussões que envolvem a ciência, a técnica, o comportamento humano, a partir dos mais variados ambientes. Vale destacar, ainda, que o Centro Loyola de Fé e Cultura da PUC-Rio também faz parte da Rede SERVIR, que reúne outros Centros Loyola e outras Obras da Companhia de Jesus, na articulação da espiritualidade inaciana com a vivência da fé e as práticas culturais mais diversas.
O senhor tem acompanhado mais de perto as ações afirmativas empreendidas na Universidade. Como é esse trabalho?
Padre André Luís - A Comissão de Acompanhamento de Ações Estratégicas (CAAE) foi instituída pelo Pe. Anderson Pedroso, em 1º de março de 2023 (Portaria 21/2023). Constituída por egressos dos GTs de Planejamento Estratégico para Sustentabilidade Financeira (Portaria 63/2022), Extensão Universitária (Portaria 65/2022) e reDesign da Identidade Visual (Portaria 66/2022), a instituição de uma nova Comissão considerava: 1) “a necessidade de implementação das ações estratégicas e orientações recebidas, a partir dos resultados apresentados pelos GTs”; e 2) “a importância e a necessidade de garantir a continuidade deste processo, com vistas a uma maior eficácia dos resultados”.
Foi recomendado, então, à CAAE que se fizesse atenta aos processos em curso e definisse prioridades capazes de lhes dar contornos tão nítidos quanto possível. O grupo pôde trabalhar com liberdade na definição das prioridades solicitadas, considerando-se o perfil diverso dos seus integrantes, num processo contínuo de discussão. Assim, uma vez elaborada a lista das 7 Prioridades, o Reitor nomeou (Portaria 78/2023) mediadores/orientadores do processo de escuta da Comunidade Universitária, no intuito da redação da proposta de um Plano Estratégico para a PUC-Rio (2024-2030).
Dentre as 7 Prioridades elencadas, coube à Vice-Reitoria Geral, juntamente com o Vice-Reitor Comunitário, Prof. Renato Ferreira Callado, e uma das professoras que foi membro da CAAE, Maíra Machado Martins, a escuta atenciosa dos GTs que se formaram para discutir, já há algum tempo (cf. Nota 06/2023 da Reitoria), Ações Afirmativas e de Inclusão. Desde então, mas sobretudo nestes últimos meses, este tem sido um tempo rico de reuniões e propostas de políticas para a implementação de um Censo Único para a cartografia da identidade da nossa Comunidade Universitária, contando com o que cada um dos 5 GTs (a saber: Raça e Etnia; Gênero e Direito das Mulheres; Gênero e Sexualidade; Liberdade Religiosa; Direitos das Pessoas com Deficiência) considerou importante, segundo as questões candentes que dizem respeito às suas necessidades e às demandas de cada GT.
Nessa perspectiva, como diz o texto que descreve as Ações Afirmativas e de Inclusão, a institucionalização, sistematização e ampliação dessas políticas já existentes na Universidade, devem incluir todos os segmentos que a compõem: corpo docente, discente e técnico-administrativo. Por essa razão, as políticas de ação afirmativa se dirigem a grupos vitimados pela exclusão socioeconômica e discriminados, tendo como objetivo eliminar desigualdades e segregações, bem como aumentar a diversidade dentro do ambiente universitário, compreendendo-a como uma força na PUC-Rio e promovendo seu convívio nos diversos segmentos e em toda a Universidade. Incluem-se, portanto, nessas políticas de ação afirmativa e de inclusão, além do necessário reconhecimento das identidades que compõem nossa Comunidade Universitária, a implementação de dispositivos de acesso institucional, além da criação de medidas de acolhimento e permanência de pessoas em situação de vulnerabilidade e risco.