O novo modelo de gestão do futebol brasileiro, em que os clubes são tratados como empresas, está diretamente relacionada à entrada dos patrocinadores no esporte. A ideia, defendida em palestra na PUC-Rio pelo jornalista, consultor esportivo e ex-presidente do Clube de Regatas do Flamengo Luiz Augusto Veloso, se baseia na exposição trazida pelas transmissões de televisão, que atraíram marcas para as camisas de jogo e formaram nas equipes a preocupação com suas próprias ambições empresariais. Veloso também destacou o impacto das mudanças legislativas na responsabilidade dos clubes:
– Durante muito tempo, a venda de jogadores funcionou como fonte de lucro que permitia a subsistência dos times sem preocupação com os reais motivos dos rombos financeiros. Essa situação, no entanto, foi se acumulando e alcançou seu ápice quando não havia dinheiro nem para contratar novos atletas. Nesse momento, vieram os patrocinadores e a legislação mais restritiva, que trouxeram consciência dos negócios para os cartolas do futebol – explicou, em palestra no Departamento de Comunicação Social, organizada pelo professor Luiz Léo.
Uma das medidas legislativas que buscaram a responsabilização fiscal dos clubes foi a MP 671, ou MP do Futebol, sancionada pela então presidente Dilma Rousseff em 2015. Essa medida permite às equipes parcelarem suas dívidas em até 240 vezes, com valor mínimo de R$ 3 mil para cada prestação, redução de 70% das multas, 40% dos juros e 100% dos encargos legais. Para isso, elas precisam aderir ao Programa de Modernização da Gestão e de Responsabilidade Fiscal do Futebol Brasileiro (Profut) – o prazo final é 31 de julho deste ano –, não poderão antecipar receitas, como direitos de televisão, previstas para depois do fim da gestão vigente no próprio clube, e destinarão 80% de seus lucros brutos para o pagamento da folha salarial e direitos de imagem de atletas da modalidade.
Com o objetivo de exemplificar a mudança na gestão do futebol brasileiro, Veloso citou as administrações de Flamengo e Palmeiras, sendo que este último ainda não aderiu ao Profut. Em 20 anos, a receita do clube carioca cresceu mais de 20 vezes, tornando-se a maior do país. Enquanto isso, o presidente palmeirense, Paulo Nobre, conseguiu reerguer as finanças de seu clube usando verbas pessoais e conseguindo construir uma estrutura financeira para a equipe a partir de dívidas altas.
Ainda em cima do exemplo de Nobre, eleito aos 44 anos, Veloso traçou um paralelo entre a trajetória do paulista e a sua própria história. Em 1993, quando assumiu a presidência do Flamengo, Veloso tinha 34 anos, exceção em um meio dominado por homens mais velhos:
– A cartolagem do futebol é composta por dirigentes bem experientes, com muito tempo de trabalho. Quando surgem líderes jovens, como eu em minha época de presidente e o Paulo Nobre, aparecem também possibilidades de renovação. É muito mais provável que o frescor venha junto com ideias vanguardistas capazes de transformar os clubes positivamente.
Importância das Olimpíadas no Brasil
Para o jornalista, organizar eventos grandiosos como as Olimpíadas “é uma missão de Estado, em que praticamente todas as esferas do governo participam da construção do legado”. Os Jogos Olímpicos, afirmou, podem ser também “uma chance única para confirmar as virtudes e expor as carências da organização brasileira”:
– O evento tem tudo para revolucionar a infraestrutura, devido à grande intervenção urbanística sofrida pelo Rio de Janeiro. A qualidade dos trabalhos poderia ser melhor, mas ainda assim as reformas foram importantes.