Professor Daniele Fulvio, do Departamento de Física, recebeu primeiro prêmio em Astrofísica Experimental do Brasil durante o congresso internacional.
De aproximadamente 750 mil asteroides descobertos, apenas cerca de 21 mil foram nomeados até hoje. Recentemente, o asteroide 11465 recebeu um nome: Fulvio. Para muitos, mais uma designação. Mas para a equipe do Departamento de Física foi algo que soou familiar. Mais ainda para o professor Daniele Fulvio, homenageado pelo trabalho e pesquisa científica. O asteroide Fulvio está localizado no cinturão principal – que fica entre os planetas Júpiter e Marte –, tem um diâmetro de 12,5 km e baixa refletividade.
Anonimamente, colegas astrônomos indicaram o nome de Fulvio ao Grupo de Trabalho pela Nomenclatura de Corpos Pequenos (CBSN). Uma surpresa para o pesquisador, que só descobriu durante o congresso Asteroids, Comets and Meteors, realizado em abril, em Montevidéu, no Uruguai. Todo ano, a International Astronomical Union (IAU), instituição que nomeia todos os tipos de corpos celestes, atribui nomes de celebridades, figuras públicas, cientistas e lugares famosos a esses corpos.
Fulvio trabalha com o acelerador de partículas no Laboratório Van de Graaff e confessa que não esperava uma homenagem tão cedo, aos 37 anos, já que o orientador dele de doutorado ganhou essa reverência aos 55 anos.
– Do ponto de vista pessoal, eu fiquei muito satisfeito porque é um reconhecimento de um conjunto de trabalhos de vários anos. É como uma distinção da comunidade internacional dos astrônomos. Do ponto de vista profissional, é muito bom carregar o nome da PUC e torná-lo mais conhecido.
Este foi o primeiro prêmio do Brasil em Astrofísica Experimental ou de Laboratório, uma disciplina que surgiu na Europa e nos Estados Unidos há aproximadamente 35 anos e, no Brasil, há cerca de 15 anos. Os astrônomos são divididos em três categorias: os observativos, que fazem observações por telescópios; os teóricos, que trabalham com modelos matemáticos e físicos para estudar as observações; e os experimentais, que desenvolvem ensaios em laboratórios.
A princípio, os asteroides eram designados apenas pelos astrônomos observadores que os descobriam. Eles tinham o direito de intitular um asteroide em um prazo de dez anos e escrever um breve texto com a explicação das razões para a escolha de determinado nome. Com o avanço da tecnologia, agora há programas computadorizados que tornaram esse trabalho automatizado, apesar da presença obrigatória de um técnico. Atualmente, é a equipe da CBSN, formada por 15 astrônomos de todo o mundo, que julga e avalia as propostas de nomes que chegam até ela.
Há duas vertentes que tentam definir o que é um asteroide. Por um lado, dizem que ele é uma lembrança dos primeiros momentos de formação do sistema solar; e, por outro, que esse corpo celeste seria o resto de um planeta que estava em formação, mas acabou sendo destruído.
Nascido na Itália, Fulvio chegou ao Brasil há dois anos para trabalhar no Departamento de Física, após descobrir que no Laboratório Van de Graaff havia um acelerador de partículas. A astrofísica é um amor antigo que o siciliano carrega desde a infância.
– Quando criança, mais que físico, eu já tinha uma paixão pela astrofísica. Eu gostava do céu, de tentar explicar o que era aquela luz e uma estrela cadente, por exemplo. Fiz graduação e mestrado em Física, e doutorado em Astrofísica. Estudei nas duas áreas com a ideia de que um físico entende mais dos processos que um astrônomo, que é mais observador.
Atualmente, o professor trabalha com a física de superfície e física atômica e molecular, com principais aplicações em astrofísica. No laboratório, ele realiza experiências para simular processos físico-químicos que ocorrem no espaço, tais como mudanças na superfície de corpos menores do sistema solar, como asteroides e cometas.
Durante 4,5 bilhões de anos, um asteroide costuma receber um fluxo contínuo de partículas emitido pelo Sol, chamado de vento solar. Os meteoritos são fragmentos que se deslocam do asteroide e vão em direção ao Planeta Terra, onde seu exterior queima ao entrar na atmosfera. As pessoas costumam chamá-los de “estrela cadente”. Quando eles chegam na Terra, o espectro (uma forma de analisar a composição mineralógica, física e química de algum corpo) do meteorito é diferente do asteroide do qual ele se originou. Fulvio tenta entender como um corpo chega à Terra com uma aparência tão diferente da original.
– Nós pegamos vários desses meteoritos e botamos nos aceleradores de partículas, simulamos os ventos solares e tentamos reproduzir os efeitos. Isso serve para entender quais são os procedimentos que fazem um meteorito ser tão diferente do asteroide depois de passar pela atmosfera.