Finados ganham vida em cultos pelo mundo
04/11/2009 14:45
Juliana Lisboa / Ilustração: Diogo Maduell

De 31 de outubro a 2 de novembro, mortos são lembrados em diversas culturas

 

Festejar os mortos é uma tradição que persiste em diversas culturas há milênios. Em diversos países do Ocidente, por exemplo, as celebrações se concentram na mesma época, de 31 de outubro a 2 de novembro, sendo que as três mais famosas são o Dia de los Muertos, no México, Halloween, nos países de língua inglesa, e o Dia de Finados, em países de tradição católica, como o Brasil. Apesar do México também ser um país católico, lá essas festividades têm origens pré-hispânicas, ou seja, antes da religião chegar ao país com os espanhóis. Enquanto certas celebrações priorizam a espiritualidade, outras se apegam à crença de que os fantasmas e espíritos voltam à Terra.

           

A primeira das três é o Halloween, no dia 31 de outubro, solstício de inverno no Hemisfério Norte. Para os celtas que viviam na região da Grã-Bretanha há 2.500 anos, este era o dia em que os espíritos ficavam livres para vagar na Terra. O nome Halloween vem de Hallow Evening (Noite Sagrada), e adaptado depois para All Hallow’s Eve (Véspera da Vigília de Todos os Santos). Para afastar os maus espíritos, eram colocadas caveiras e abóboras enfeitadas em frente às casas. O nome Dia das Bruxas veio na Idade Média, quando a festa pagã foi condenada pela Inquisição. Hoje, popularizada, crianças de várias partes do mundo se fantasiam de bruxas e fantasmas para pedirem doces.

           

As festividades do Dia de Los Muertos começam no dia 1 de novembro. A tradição existe lá há mais de três mil anos, e, quando começou, durava todo o mês de agosto. Com a chegada dos espanhóis, a data foi adiada por conta do calendário cristão, mas os rituais permanecem os mesmos. Segundo a roteirista de cinema Paulina Romo, que é mexicana, é comum as pessoas fazerem oferendas aos mortos e a Catrina, esqueleto feminino representante da morte que foi tema da pintura do mexicano José Guadalupe Posada.

           

- Minha família oferece guacamole (creme de abacate) com frango e arroz para minha avó, tequila e abóbora doce, charuto e torrões de açúcar para meu avô, e adornamos as escadas da casa com fotos, flores xempazuchitl (uma espécie alaranjada de crisântemos, típica da região) e papel picado. Usamos, também, muitas velas, porque acreditamos que elas guiam a alma dos falecidos, conta Paulina.

           

Segundo ela, muitas famílias peregrinam para o Cemitério de Mixquic, o maior da Cidade do México, e muitos jovens fazem concursos de oferendas pelos campi das universidades. “Apesar de ser uma celebração para os mortos, é uma festa muito vibrante”, explica ela.

           

Ao contrário da tradição mexicana, a católica acredita que, por causa da barreira material que separa os vivos dos mortos, a celebração espiritual é mais importante. A comemoração existe desde o século II, quando túmulos eram visitados por parentes e amigos. No século IV, começaram a se rezar missas, e, a partir do século XVIII, a data passou a ser comemorada em 2 de novembro, porque seguia o Dia de Todos os Santos. Segundo a professora Eva Aparecida, do Departamento de Teologia, a homenagem persiste porque as pessoas precisam manter viva a lembrança dos entes queridos:

           

- Nós, cristãos, acreditamos que a alma daqueles que já foram continua viva, e está ligada a nós no plano espiritual. A interação direta entre vivos e finados não acontece porque temos uma barreira física, a barreira do corpo.  Então, temos a necessidade afetiva e material de transferir nosso amor, por isso acendemos velas e colocamos flores nos túmulos quando vamos ao cemitério.  

           

No Brasil, as comemorações de Halloween ganharam força com a influência da cultura americana no país. Para reforçar o folclore e a cultura nacional, o governo federal determinou, em 2005, que 31 de outubro é o Dia do Saci. Em Finados, as celebrações têm como símbolos velas e crisântemos. Há quem diga, inclusive, que o tempo fica chuvoso nesse dia porque o céu chora junto com os que perderam entes queridos.

 

 

Edição 223

 

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