estudos sobre a Feira de
São Cristóvão desde 2004
Segundo Sonia, a estética brega é uma fuga aos modelos convencionais de beleza e comportamento. O preconceito em torno do brega é compensado pela apropriação do estilo de uma maneira positiva, já que o termo “brega” nasce como uma espécie de categoria acusatória ou depreciativa. “É muito valorizado um corpo que representa saúde. O ideal de um corpo feminino é um corpo ativo, bem preparado, que tem força física, em detrimento do corpo que seria mais frágil”, explica Sonia, para quem a Feira de São Cristóvão tem sido um espaço de observação e um laboratório.
A professora identificou na apresentação do corpo feminino e na indumentária uma forte tentativa de expressão pessoal. “É um corpo que não está apagado, um corpo que é a própria comunicação. São cores berrantes, formas fora de um padrão convencional, muitos adereços, anéis, correntes, roupas cheias de brilho”, conta. Sonia percebeu que as barracas bregas congregam, sobretudo, mulheres. “São mulheres de uma certa idade, que encontram naquelas barracas um espaço de sociabilidade e são frequentadoras habituais”, revela. Em contrapartida, segundo ela, os artistas bregas e a grande maioria de compositores são homens.
– Os temas são muito masculinos, são homens falando de um amor romântico apaixonado, mas muitos temas das músicas bregas são o homem que se apaixona por uma prostituta, que é traído, que sofre com a traição e que fala mais da sua dor, do coração ferido, do que do dever machista de lavar a honra – ressalta Sonia, que não vê na representação da mulher brega um viés preconceituoso: – É homem que vai olhar com ternura para as mulheres. É um olhar que se propõe fora da convenção.
Edição 235