O corpo na cultura brega
19/10/2010 16:00
João Lima / Foto: Maria de la Gala

Estudo investiga relações sociais e de gênero na Feira de São de Cristóvão

Professora Sonia Giacomini faz
estudos sobre a Feira de
São Cristóvão desde 2004
No cancioneiro da música brega, prostituta é chamada “secretária”, a mulher frágil e dependente perde espaço para a forte, decidida, capaz de trair seu homem, e a beleza feminina é identificada com o excesso e a extravagância. Os aspectos sociais e culturais que alimentam esse mundo musical peculiar vêm sendo estudados desde 2004, no Centro Luiz Gonzaga de Tradições Nordestinas, popularmente conhecido como Feira de São Cristóvão, pela professora do Departamento de Sociologia Sonia Giacomini. Um dos frutos dessa pesquisa, intitulada Corpo, gênero, sexualidade e geração em contextos de sociabilidade no Rio de Janeiro, é o estudo Corpo e expressividade no universo brega, publicado na 27ª Reunião Brasileira de Antropologia.

 

Segundo Sonia, a estética brega é uma fuga aos modelos convencionais de beleza e comportamento. O preconceito em torno do brega é compensado pela apropriação do estilo de uma maneira positiva, já que o termo “brega” nasce como uma espécie de categoria acusatória ou depreciativa. “É muito valorizado um corpo que representa saúde. O ideal de um corpo feminino é um corpo ativo, bem preparado, que tem força física, em detrimento do corpo que seria mais frágil”, explica Sonia, para quem a Feira de São Cristóvão tem sido um espaço de observação e um laboratório.

 

A professora identificou na apresentação do corpo feminino e na indumentária uma forte tentativa de expressão pessoal. “É um corpo que não está apagado, um corpo que é a própria comunicação. São cores berrantes, formas fora de um padrão convencional, muitos adereços, anéis, correntes, roupas cheias de brilho”, conta. Sonia percebeu que as barracas bregas congregam, sobretudo, mulheres. “São mulheres de uma certa idade, que encontram naquelas barracas um espaço de sociabilidade e são frequentadoras habituais”, revela. Em contrapartida, segundo ela, os artistas bregas e a grande maioria de compositores são homens.

 

– Os temas são muito masculinos, são homens falando de um amor romântico apaixonado, mas muitos temas das músicas bregas são o homem que se apaixona por uma prostituta, que é traído, que sofre com a traição e que fala mais da sua dor, do coração ferido, do que do dever machista de lavar a honra – ressalta Sonia, que não vê na representação da mulher brega um viés preconceituoso: – É homem que vai olhar com ternura para as mulheres. É um olhar que se propõe fora da convenção.

 

Edição 235

 

Mais Recentes
A busca pela boa convivência dentro das salas de aula
A Prática Exploratória é um estímulo ao entendimento entre alunos e professores
Estudos recentes em computadores
Especialistas em linguística computacional falam sobre os avanços na rede mundial