Padre Vieira em esboço biográfico
19/11/2008 16:00
Juliana Royo

No ano em que se comemoram os 400 anos de morte de Padre Antônio Vieira, Clóvis Bulcão lança o livro Antônio Vieira: um esboço biográfico.

No ano do quarto centenário do padre Antônio Vieira, o historiador Clóvis Bulcão lançou, no mês passado, o livro Padre Antônio Vieira, um esboço biográfico, pela editora José Olympio, com objetivo de divulgar e resgatar a memória do jesuíta. O homem que liderou o sentimento, no século XVII, de que Portugal seria o novo império vigente e dominaria o mundo através da língua portuguesa, é pouco lembrado pelo público em geral, segundo o autor.

 

– Ele foi o primeiro popstar da história, a primeira pessoa a conseguir arrastar multidões no planeta. As missas dele lotavam. Na África, tinha que ter polícia na porta para conter os fiéis. Antônio Vieira era falado e conhecido em boa parte do mundo, e isso sem internet, telefone, nada. Quando ele morou em Roma, teve que aprender a falar italiano em seis meses para realizar as missas. Atraía mais cardeais do que o papa, conta o historiador.

 

Bulcão, autor de outros cinco livros, cursou História na PUC-Rio e nunca tinha ouvido falar do padre até ler sobre ele em uma pesquisa que estava fazendo para o seu primeiro livro lançado: A Quarta Parte do Mundo, em 1998, quando romanceou a tentativa de conquista da Baía da Guanabara pelos franceses. “Tropecei no Vieira por acaso, pesquisando sobre a presença judaica em Pernambuco. Fiquei muito curioso em saber o que um jesuíta estava fazendo nessa história. A partir daí, foram nove anos de estudo.”

 

A biografia contextualiza a certeza que Vieira tinha de que Portugal iria virar o novo império dominador. No século XVII, o mundo estava vivendo um momento de ansiedade por algo novo. Judeus, ingleses, espanhóis, portugueses, povos do mundo inteiro esperavam por um salvador ou por uma nova ordem e as nações mais importantes queriam liderar essa mudança. Padre Antônio Vieira tinha certeza que a dominação do mundo seria feita através do português. Foi chamado por Eça de Queirós de “imperador da língua portuguesa”. A idéia de Vieira fica clara na frase que disse em uma missa em Lisboa na presença do rei: “Deus deu aos portugueses para nascer Portugal, para morrer o mundo”.

 

– Você não pode tirar um personagem do contexto. Escutando essas coisas sobre Vieira, ignorando que boa parte do mundo seguia a linha de raciocínio, você pode achá-lo um lunático. Como assim, Portugal ia dominar o mundo? Parece não ter lógica, mas era um sentimento de época, que ele liderou. Em todos os continentes falava-se português naquela época, esclarece.

 

Vieira, como conta o livro do autor, era um homem moderno com conceitos avançados. Tinha a percepção de que era preciso acabar com a perseguição contra os judeus, a aposta no comércio para a expansão mundial e a luta contra a Inquisição, pela qual foi preso.

 

– Ele pregava que o povo que lideraria o novo império seria aquele que dominasse a atividade comercial e se impusesse culturalmente através de uma língua. Exatamente o que os Estados Unidos conseguiram fazer. Dizia também que os heróis do futuro seriam os papéis de crédito, que estariam acima dos exércitos, das fronteiras nacionais e da vontade dos governos, como ocorre hoje, conta Bulcão.

 

No entanto, apesar de ter sido adorado em sua época pela maioria, Vieira é criticado até hoje por uma parte da elite pernambucana. Ele era a favor de entregar Pernambuco aos holandeses, durante a guerra que houve, na metade do século XVII. Ele dizia não valer a pena iniciar uma guerra com o país, que era muito importante na época. Boa parte da elite portuguesa também se irritou. Achavam coisa de covarde não lutar pela terra.

 

– Os holandeses, na maioria judeus, que foram expulsos daqui acabaram indo para os Estados Unidos, onde financiaram a guerra da independência americana, ajudaram na fundação do Federal Reserve (FED) e na criação da Bolsa de Nova York, explica.

 

Edição 210

 

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