Beatriz, a filha, adorava a vida e tinha fé no caráter dos brasileiros. Davi, o pai, enxergava uma realidade mais pessimista. Ela morre vítima de uma bala perdida, em um calçadão do Rio de Janeiro. Para ele, possivelmente não existe sofrimento maior. Assim se desenvolve Ponto Final (2011), de Marcelo Taranto – um filme essencialmente sobre a dor. As cenas se passam, na maioria, em um ônibus. O veículo é metáfora da vida, espaço para a coletividade dentro de um mundo tão individualista. O filme, cujo roteiro teve apropriação do Teatro do Absurdo, foi lançado na PUC no dia 3 de maio, em sessão no auditório do RDC.
– Fico bastante preocupado com um discurso ufanista que sempre diz que tudo está resolvido. Como um pai vê a vida com uma filha morta por bala perdida? O filme tende a estabelecer essa revolta – reforçou Taranto.
Característica marcante de Ponto Final é a despreocupação com a linearidade do tempo. Não se trata daqueles filmes em que basta sentar, assistir e entender. É necessário viajar na narrativa que se alterna entre o inconsciente e o real. “Estamos impregnados do cinema americano. Sempre há um choque quando temos um diretor que propõe um templo mais clássico”, comentou o diretor de arte, Alexandre Murucci. Segundo Taranto, o filme não tem pretensões mercadológicas:
– Se chegar a 100 mil expectadores, já vou ficar bastante satisfeito. Hoje, parece que todo mundo quer milhões de expectadores. Será que minha geração perdeu a vontade de discutir certas questões?
As cenas do mundo imaginário do personagem principal, o pai, interpretado por Roberto Bomtempo, foram produzidas em um cenário com um milhão de peças de ônibus. Mas o trabalho árduo começou desde o início, na produção do roteiro. Segundo o roteirista Francisco Azevedo, o fato de o filme não ter início, meio e fim tornou o processo mais complicado. Toda a equipe, afirmou, deveria estar afinada, sabendo onde se estaria querendo chegar.
– Dependendo de nossas escolhas, o filme ficaria de menor ou maior compreensão – explicou Murucci.
Taranto dá uma dica:
Edição 242