Comunicação católica através de música
19/07/2011 16:00
Mariah d'Avila / Foto: Raul Guilherme Lages

Padre Zezinho comemora 70 anos e lembra que o conteúdo da mensagem é mais importante do que a maneira como ela é passada

Ao comemorar 70 anos, Padre Zezinho olha para trás e se vê como um pioneiro,
mas que ainda pode contribuir para a comunicação religiosa

 

De padre Marcelo Rossi até o padre Fabio de Melo, muitos religiosos usaram a música para transmitir a mensagem deles. Se eles fazem sucesso através dessa técnica, é porque há 45 anos o padre Zezinho introduziu essa maneira de pregar os ensinamentos do catolicismo. Nascido em Minas Gerais na década de 40, José Fernandes de Oliveira, começou a escrever canções aos 26 anos e hoje tem quase 20 CDs gravados. Além de músico, padre Zezinho também é um estudioso da comunicação religiosa, foi professor e já escreveu livros e artigos sobre o tema.

 

Como é a emoção de olhar para trás e ver esses 70 anos de vida e 45 de religioso?

Padre Zezinho: Eu me sinto como um pequeno trator, que há 45 anos abriu um caminho na floresta, criou uma estrada pela qual agora vêm outros melhorando o que eu fiz. Eu era pioneiro e não tinha os meios que hoje temos e, evidentemente, tinha que trabalhar com outros instrumentos. Hoje eu trabalho com instrumentos novos e vejo que os jovens que vêm depois de mim já trabalham com instrumentos novos. Só que a mensagem tem que ser a mesma de todos os tempos. Com linguagem nova, mas com aquele conteúdo que vem desde que Jesus esteve por aqui.

 

Qual é a sua expectativa para o show em sua homenagem logo mais?

Padre Zezinho: Eu quero ver o que eles assimilaram desses meus 45 anos de canção e vou prestar atenção no que eles vão mostrar, porque há muita gente fazendo tese de mestrado, de dicência, de doutorado em cima dos meus escritos. Eles dizem que eu sou um ícone, mas eu estou me sentindo mais como uma efígie de pendurar na parede. Mas eu fico feliz, porque é sinal de que todo esse esforço desses 45 anos foi notado. E muita gente está dizendo: “ele não desistiu, ele falou a tempo e a contratempo”. Talvez seja essa a marca registrada que eu quero deixar. Eu fiz como São Paulo, eu preguei em tempo favorável e em tempo desfavorável e não adaptei meu discurso aos aplausos, adaptei meu discurso às exigências da Igreja. Aprendi que o importante não é ser popular, é chegar ao povo.

 

Como o senhor avalia essa nova safra de cantores religiosos?

Padre Zezinho: Eu brinco dizendo que a Igreja não ordena tijolos, mas gente. E as pessoas são diferentes. Cada um tem o seu jeito de evangelizar, com suas qualidades e seus defeitos. Eu também, quando comecei, tinha qualidades e defeitos, fui criticado e fui elogiado. O tempo se encarregou de dizer se aquilo que fiz era bom ou não era. Eu espero essa mesma coisa para eles, gostaria que daqui a 45 anos, eles possam olhar para trás e dizer: “plantei e estou colhendo”.

 

O senhor é um teórico da comunicação. Como o senhor vê a evolução da comunicação católica?

Padre Zezinho: Eu acompanhei a comunicação das igrejas, não só católica, mas as evangélicas e as pentecostais. E percebo que houve um esforço muito grande de atualizar-se através dos instrumentos. Mas ficou faltando uma atualização também através das linguagens, porque uma coisa são os instrumentos, outra coisa são as linguagens. Parece que nós conseguimos dominar os instrumentos, agora precisamos é dominar as linguagens. Essas são mais complicadas, passam pela antropologia, pela sociologia, pela psicologia, pedagogia e teologia. Exige-se profundidade. E aí está a minha briga com os comunicadores religiosos que estão na mídia. Eu gostaria que eles lessem mais dos que estão lendo e que tivessem mais cultura do que têm, porque foi nos dado um microfone e uma câmera, mas foi nos dado também um livro, ou muitos livros. Teremos que saber manejar tão bem os livros como manejamos os microfones e as câmeras.

 

Qual é a importância para a comunicação católica do Mutirão Brasileiro de Comunicação?

Padre Zezinho: Os mutirões que aconteceram até agora ensinaram atitudes. É impossível pensar em uma comunicação transformadora se ela não passar por atitudes. Você pode ensinar técnicas, análises, discursos, que, evidentemente, são necessários. Mas quem vai se comunicar tem que fazer com a vida e tem que fazê-lo com a capacidade de desafiar e ser desafiado. Palavras vazias ou bonitas não mudam nada. O que muda é um jeito de viver a comunicação. E isto você pode aprender na escola, mas você também tem que aprender na sua Igreja e na vida. Jesus, e também os apóstolos, certamente foi mais do que palavra, ele foi atitude. E esse é o grande problema do mundo de hoje: fala demais, mas não vive o que fala. A crítica serve para mim e para todos os pregadores. Há sempre a tentação de você falar bonito, mas às vezes não conseguir viver bonito.

 

O senhor parou de dar aulas e agora está se dedicando à escrita de livros. Como estão esses novos projetos?

Padre Zezinho: Eu estou concluindo uma coletânea de seis livros de comunicação. Além disso, eu escrevi uma trilogia de catequese de 600 páginas cada uma. Todos esses livros têm uma finalidade: ajudar a atualizar a linguagem catequética de maneira que os cristãos descubram a catequese de atitudes. Porque há palavras demais na mídia, o que falta são atitudes. E essa é a melhor comunicação.

 

 

Plantão – Edição 244 – Especial Muticom

 

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